Ser bem-vindo não significa ser bem-sucedido. Essa é uma frase do professor da Universidade de Nova York, Scott Galloway, citada pelo CEO da empresa Share Educação, o Rafael Martins. A conversa era sobre o Threads, a nova rede social do grupo Meta, lançada na primeira semana de julho. No Vida Digital desta semana eu e a Juliana Fürstenau perguntamos: o Threads vai bombar ou flopar?
O Rafael Martins aceitou o desafio de refletir conosco sobre as primeiras semanas da rede social que chegou anunciando o fim do Twitter. O nosso convidado não hesitou: “em poucos meses ele não será mais relevante como é agora, agora é porque é uma novidade”. Os primeiros dias do novo ambiente provocaram uma correria para cadastrar e conhecer o Threads, com números impressionantes: Ronaldinho Gaúcho tinha 2 milhões de seguidores, Anitta, 1,9 milhões, Juliete, 1,3 milhões. E havia uma estimativa de alcançar mais 40 milhões de contas no país, muitas mais do que nos EUA. No mundo todo, a Meta anunciou 100 milhões de usuários.
“Ainda não fechamos um mês, mas da primeira semana para cá, o número de usuários ativos por dia caiu 50%”, comentou Rafael embasando o prognóstico com conhecimento de métricas para análise do ambiente digital. A rede prometia substituir o Twitter, mas foi lançada com bem menos funcionalidades e recursos que a concorrente, o que pode explicar o desânimo e consequente queda de acessos.
O Threads não é a primeira tentativa de derrubar o Twitter. Eu já escrevi na Sler sobre o Koo, o título do meu artigo foi Por que o Koo App não será o novo Twitter, e também sobre o BlueSky, no qual perguntei Bluesky quer substituir o Twitter: mas quem precisa de mais uma plataforma? O Koo não aconteceu e a BlueSky até agora foi só uma nuvem isolada flutuando no céu azul.
Quando o Threads foi anunciado e o furor de vingança contra Elon Musk provocou uma sensação de final de campeonato no qual Mark Zuckerberg se sagrava o grande campeão, eu desconfiei. Fiquei com aquela máxima na cabeça, não se pode cantar vitória antes do apito final, menos ainda antes do começo do jogo. Por mais que o Elon Musk esteja modificando lógicas no Twitter e provocando revolta nos usuários, as pessoas reclamam, mas não deixaram substancialmente de usar.
O Twitter é uma rede bem-sucedida ao que se propôs: ser um espaço de conversação em textos curtos e diálogos. Tuitar virou verbo no mundo inteiro. Tweet vem de pio, um nome poderoso para comunicar o propósito do espaço. Por sinal, o termo thread, fio na tradução do inglês, também ficou popular no uso do Twitter. Thread é como se chama o encadeamento de conversas no Twitter. A nova rede social acabou “roubando” o nome, uma estratégia deliberada de associação à concorrente, mas também pouco criativa.
Então, o Threads vai flopar? Flop, por sinal, também é um verbo que acabou abrasileirado. No inglês flop é fracasso, mas para usuários de redes sociais flopar é postar um conteúdo que não tem alcance, nem engajamento. Flopou. O Threads bombou e muito nos primeiros dias, mas começou a flopar na mesma velocidade. É possível que Mark tire mais uma ideia da cartola e reavive o buzz e a vontade popular de navegar no aplicativo, mas, por enquanto, tudo leva ao flop.
Diferente do Koo e do BlueSky, talvez o Threads possa ter uma vida mais longa e menos nichada se for incorporado ao Instagram. O Threads pode ser o recurso do Instagram para redação e publicação de textos mais longos. Mas, para as pessoas aderirem, ele vai precisar ser um recurso e não um outro ambiente. Simplificar para uma experiência mais intuitiva e parecida com o Instagram também pode ajudar. Talvez seja só o primeiro round da briga entre o Twitter de Elon Musk e Threads do Mark Zuckerberg, mas, por enquanto, o Threads foi muito barulho e pouco resultado.
Veio comigo na leitura até aqui e quer saber se Threads vai substituir o Twitter? O Mark que me desculpe, mas não apostaria nisso. Tuiteiros seguirão no lugar onde estão brigando para que aquele espaço retome seus princípios, divulgue os critérios de circulação, explique exclusões e bloqueios e desista de limitar o acesso a tweets de graça. Se ninguém assinar o Twitter Blue (conta com acesso ilimitado), a empresa terá de rever a estratégia. Tuiteiros são bons de briga, não os subestimem.