Há uma curiosidade em como a imprensa esportiva trata a prematura eliminação da seleção brasileira na Copa do Mundo de Futebol Feminino, que acontece na Austrália. Havia uma grande expectativa no trabalho da treinadora sueca Pia Sundhage, bicampeã olímpica, que assumiu a equipe em 2019 e agora fracassou no Mundial. A seleção não passou na primeira fase e acabou eliminada ao empatar com a Jamaica.
O curioso, nesta história, foi a conduta da imprensa esportiva. Houve um constrangimento para criticar o vexame das meninas do Brasil. E é compreensível. Comparado ao masculinio, o futebol feminino ainda engatinha no País e é feito sem o luxo e os privilégios salariais dos marmanjos. A CBF tenta padronizar algumas questões, mas na maioria dos times os treinos são realizados em campos alternativos e bem longe das condições ideais de vestiário, estrutura e investimento.
Sim, as mulheres que querem jogar futebol profissional precisam ter muita resiliência! Mas isso não significa que podemos aceitar passivamente essa eliminação. Por que não criticar o time treinado por Pia também é uma forma de preconceito. Tudo bem, a régua não precisa ser a mesma com que avaliamos os fracassos de Tite, Neymar, Casemiro e companhia. A seleção masculina é composta por milionários do futebol. Uma turma de estrelinhas, de jogadores acomodados em fortunas, e que pouco se importam com a seleção.
Ao contrário, nossas meninas choram uma desclassificação. Porque sabem que o futebol feminino também depende delas. Também por isso a imprensa, sensibilizada, pega mais leve. E a atitude é justificada.
Não vejo possibilidade de um retrocesso nos investimentos. O futebol feminino está consolidado, reúne ótimos públicos no estádios, tem audiência significativa nas emissoras de tevê, e atrai cada vez mais marcas gigantes. Foi um tombo inesperado, reconheçamos. Mas que vai trazer ensinamentos e, provavelmente, a necessidade de renovação do time.
Quanto ao trabalho da treinadora é preciso uma avaliação mais criteriosa, de quem está no cotidiano, para saber se o melhor caminho é com a sueca ou com outro nome. Fracasso por fracasso ainda me toca mais a eliminação das meninas, que sentem o resultado, do que os marmanjos, que são desclassificados e não dobram uma ruga de preocupação!