Estou lendo o livro “Uma Boa Vida, Como Viver com mais Significado e Realização”, escrito pelos pesquisadores responsáveis pelo mais longo estudo científico a respeito de bem-estar e qualidade de vidano mundo, desenvolvido pela Universidade de Harvard. Nele, além de trazerem os achados deste estudo, os autores também apresentam outros estudos a respeito do tema, aprofundando-se em vários aspectos da pesquisa.
No geral, quando se escuta sobre essa pesquisa da Universidade de Harvard, costumam salientar o seu principal achado nos seus mais de 80 anos de trabalho: as pessoas mais felizes e fisicamente mais saudáveis são as que estão mais ligadas a família, aos amigos e à comunidade. Quem vive mais isolado do que gostaria vê a saúde declinar mais cedo do que quem se sente conectado a outras pessoas.
Se são as conexões sociais e a qualidade do vínculo com elas o fator para maior longevidade e saúde (inclusive física), como fazer para avaliar as nossas conexões sociais e saber se elas estão saudáveis?
A conta das relações
Pense em alguém com quem você aprecie estar na companhia, pode ser familiar, amigo ou apenas um conhecido, distante ou próximo. Calcule com qual frequência vocês costumam se encontrar. Uma vez por mês, duas vezes por ano? Não importa. Após esses encontros, você sai de lá feliz, contente, sentindo-se revitalizado, energizado, certo? Calculando desde a sua idade atual até considerando que ambos viverão 80 anos, quanto tempo vocês passarão juntos? Alguém de 50 anos que encontra uma vez ao mês por uma hora até os 80 anos um amigo, terá nestes 30 anos de convivência o equivalente a 15 dias de encontro. Colocando em perspectiva, os brasileiros passam mais de 41 anos de sua vida online. Essa foi uma das conclusões do levantamento mundial National Privacy Test (NPT), produzido pela NordVPN, que avalia a segurança cibernética e a conscientização sobre privacidade online, divulgado em agosto de 2023. Mais de 26 mil pessoas de 175 países foram entrevistadas.
A intenção não é gerar culpa em você. Mas gostaria de fazê-lo refletir: está se relacionando com quem importa pra você? Quanto tempo está investindo com quem te faz bem, ou, quanto tempo está gastando com quem não faz?
Essa consciência será fundamental para a construção da nossa saúde social. Ela é base. A nossa tendência é achar que porque fizemos amizades ao longo da vida e possuímos relações familiares e pessoais, não é necessário realizar a manutenção delas, que elas darão conta por si mesmas. O que não é verdade. Ao longo do tempo, se a gente não cuida delas ficaremos solitários.A saúde social precisa de exercício.
(Re)Conhecendo o Universo Social
Gostaria de te convidar a desenhar seu Universo Social para te auxiliar a analisar as suas relações, a partir do exemplo no gráfico abaixo. Com esse exercício identificar quais conexões você gostaria de estimular, aprofundar ou, quem sabe, diminuir de frequência na sua vida. Também com base nesse exercício é possível entender qual ou quais tipos de relações você prioriza e se elas estão sendo satisfatórias para você.
De preferência a sós e num ambiente calmo, desenhe o gráfico abaixo numa folha em branco e liste nele aquelas pessoas que no dia a dia, semanalmente, mensalmente ou anualmente afetam você para o bem ou para o mal. Desde pessoas que você gosta e quase nunca vê ou apenas aquelas com quem troca gentilezas ou as que lhe fazem sair dos encontros mais triste, raivoso, estressado… lembre-se de como elas fazem você se sentir com relação a elas.
O critério na linha horizontal é o da frequência do encontro com essa relação (pode ser amizade, íntima, social ou apenas de conveniência, tanto faz. Quanto mais relações conseguir nomear, melhor), de raro a muito frequente. Na linha vertical o parâmetro é o do impacto que essa relação deixa em você a cada encontro, de energizante (revigorante, revitalizador) a desgastante (estressante).
Assim, pense na frequência e na qualidade de cada uma dessas relações e as coloque em um dos quadrantes,
Refletindo sobre o universo social
Agora que você conseguiu desenhar o seu Universo Social, o que está conseguindo perceber? Há algum padrão no tipo de relação que você estabelece? Você gostaria de estar mais próximo ou distante de alguém? Há algum motivo específico para que essas relações estejam onde estão? Quais são as oportunidades de melhoria? Afinal, quase todas as relações possuem possibilidade de evoluir, se aprofundar. Uma dica é indicar com uma seta no gráfico para onde você deseja que cada relação se encaminhe.
Melhorando o universo social
A partir do que você conseguiu enxergar com a construção do seu Universo Social, é hora de construir planos. Por onde começar? Quem sabe pelo mais fácil? Aquelas relações que te energizam e que gostaria de trazer mais perto? Convidá-las para um encontro, café, almoço, passeio no parque? Mandar um whats ou fazer uma ligação e contar que você sente saudade delas e que gostaria de encontra-las mais vezes?
Depois, siga para os demais. Talvez um relacionamento seja desgastante, mas também seja importante e necessite de investimento. Identificar o motivo pelo qual está na posição que se encontra e o necessário para fazê-lo evoluir. Pode ser que identificando uma conexão desgastante, a melhor decisão seja encontrá-la com menos frequência.
O importante é perceber a qualidade e a importância dessas relações em nossas vidas e investir na nossa saúde social, que vem a ser o principal tesouro para nosso bem-estar, qualidade de vida e longevidade. E isso está nas suas mãos, de mais ninguém. Vale a pena tentar, não acha?