Sei que nem todos têm o privilégio de conviver com seus avós. Também sei que nem todos que convivem com seus avós possuem boas lembranças deles. Mesmo tendo convivido com meus quatro avós e a eles ser grata por ser quem sou, posso dizer que tive uma relação especial com a minha avó materna, a Vó Lilinha.
Lembro desde pequena do abraço, do cafuné e do colo fofo da Vó Lilinha. De chegar na sua casa e sempre ter o pão de casa, muita chimia, doce de ambrosia, sagu e o bife à milanesa no almoço. Com ela aprendi que tudo passa, que nada é para sempre, a encontrar bom humor em tudo, todos e na gente mesmo. Que devemos tratar bem a todos, pois ninguém é melhor do que ninguém, porque vamos para o mesmo lugar junto ao Senhor Bom Deus. E ninguém está livre de um pum em lugar impróprio. Mulher de opiniões firmes e sempre pronta para uma gargalhada. Com ela aprendi a erguer a cabeça e seguir em frente.
No passado e ainda hoje, com as novas configurações familiares, a casa dos avós representa um porto seguro, um local de estabilidade, tanto para os filhos quanto para os netos. Pois as famílias mudam e se rearranjam, mas os mais velhos são, de certa forma, o ponto de referência. Na casa deles, a família se reúne, por onde todos passam, para onde alguns retornam e, em alguns casos, é às suas economias guardadas que recorrem. Observe que as festas familiares, Natal, Ano Novo e aniversários, costumam acontecer nas casas dos avós. E é bastante comum acontecer a dispersão familiar quando a avó falece.
Esse lugar de proteção, de guarda, de sabedoria da família é um lugar de honra que normalmente é ocupado pelos avós, quando é trilhado esse caminho do cuidado, de uma forma positiva, com e da sua prole. O seu legado.
Normalmente, a gente pensa na pessoa idosa como alguém rígida, mas nesta interação e integração torna-se importante refletir sobre a capacidade de flexibilidade dos avós, em especial quando em relação aos seus netos e enquanto se relacionam com os mais jovens. Assim, acabam abrindo horizontes e aceitando novas visões de mundo. Nesse aspecto, lembro de quando fui morar com o, então, meu “namorido”. Minha Mãe se negava a conhecê-lo e foi reclamar do meu comportamento com a Vó. Ao que ela perguntou para a Mãe se eu estava feliz. Essa pergunta foi o que bastou para Mãe chamá-lo e aceitar finalmente a situação.
Mas, naquela época de criança, recordo que achava minha avó diferente das outras avós, ela subia em árvores, andava de caiaque, pregava peças nas pessoas, contava piadas, enquanto as outras pareciam muito mais sérias e compenetradas nos seus papéis de avós.
Minha sensação é a de que passamos uma época em que ser avô e avó era algo muito sério e cheio de autoridade, depois algo a ser escondido porque era meio feio ser chamado de avô e avó, e agora estamos vivendo um florescimento da Avosidade. Vejo agora amigos e amigas sendo avós e curto diversas possibilidades dessa Avosidade tão presente nos dias atuais. Cheia de carinho, energia física, tecnologia e cumplicidade. Mais praticada pelo amor e desejo do que pelo dever e a autoridade.
Existem outras possibilidades de Avosidade além dessas que citei? Claro que sim! Existem possibilidades de felicidade onde a Avosidade não está contemplada? Com certeza! No dia de hoje quero saudar todos os Avôs e Avós que, como a minha Vó Lilinha, foram, são e serão fundamentais na formação da vida de seus netos. Obrigada.
Foto da Capa: Freepik
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