Elas foram ícones da beleza lá pelo final dos anos 80 e meados dos anos 90, as primeiras Super Models. Quem não queria ser como Naomi Campbell, Linda Evangelista, Christy Turlington ou Cindy Crawford? O tempo passou, carreira de modelo tem vida curta (infelizmente), vieram outras mulheres maravilhosas, como a nossa Gisele Bündchen, que também já anunciou sua “aposentadoria”, mas continua aparecendo, volta e meia. Mas, eis que a Revista Vogue anuncia o retorno das quatro Super Models na sua capa de setembro, e o burburinho foi geral! Afinal, a mais nova, Naomi, está com 53 anos, e a mais velha, Linda, com 58 anos! Então, leio vários elogios para a Revista Vogue por exaltar a mulher 50+ com essas modelos na sua capa, e reconhecer o protagonismo das mulheres mais velhas. Será mesmo que são tão merecidos estes elogios?
O Mercado da Beleza em Números
Como se diz nos filmes policias, quando se deseja ir ao encontro da verdade, siga os números. Então, vamos lá:
O Mercado da Beleza, conforme o relatório produzido e apresentado neste mês de agosto pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosmética, é uma área em que os dez maiores países no setor faturaram em 2022 US$338.726bi, tendo ficado o Brasil em 4º lugar nesse ranking (veja quadro).
Conforme estimativa de outra consultoria, a Mckinsey, o Mercado da Beleza gerou aproximadamente US$430 bilhões em receita em 2022. Nesse relatório, ela também prevê que a beleza está numa trajetória ascendente em todas as categorias, a ponto de que entre 2022 e 2027 crescerá a uma taxa anual de 5% no caso da beleza de massa.
Espelho, espelho meu…
Em 2019, nós fomos o país que mais realizou cirurgias plásticas no mundo. No dado mais recente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, de 2020, o país caiu para a segunda posição, atrás apenas dos Estados Unidos, que realizaram 1.485.116 procedimentos cirúrgicos. Mundialmente, a cirurgia preferida das mulheres é o aumento de mamas; no Brasil, a lipoaspiração.
Em 2021 o The Wall Street Journal vazou um relatório da empresa Meta (antiga Facebook) comprovando que ela sabia que o Instagram aumentava os problemas com a imagem corporal de uma em cada três meninas adolescentes no mundo (me pergunto se serão só as adolescentes, pois vejo amigas que também não querem sair em fotos sem filtros ou não editadas). E já chegamos ao ponto em que médicos cirurgiões plásticos relatam sobre mulheres que chegam ao consultório com suas fotos com filtro, pedindo procedimentos que as deixem mais parecidas com essas imagens.
E se todas as mulheres amassem seus corpos?
O Mercado da Beleza, assim como o Mercado das Cirurgias Estéticas, vive com o propósito de corrigir os nossos corpos. Já pensou se todas nós aprendêssemos a aceitá-los e amá-los como eles são? Qual seria o seu grau de satisfação se isso acontecesse? Imaginou como seria revolucionário?
A máquina de fazer dinheiro somos eu e você
Num mundo em que a população mais velha se torna maioria. Num mundo em que as mulheres ganham importância, e sabemos que sempre foram as grandes propulsoras e consumidoras desses mercados, acredito que não é à toa que a Naomi, Christy, Linda e Cindy foram as escolhidas para a capa da Vogue. Consciente ou inconscientemente foram colocadas à serviço dessa máquina de fazer dinheiro, movida pelos nossos medos e inseguranças. Magras, cabelos pintados, saltos altos, superbem maquiadas e produzidas. Ostentam hoje, aos 50+, um padrão de beleza inalcançável para a grande maioria das mulheres, em especial para as mulheres mais velhas, que vivem as dificuldades da menopausa e suas loucuras hormonais. Repetem o padrão de beleza inatingível do auge das suas carreiras, lá dos 20 anos, tentando alimentar nossas inseguranças, agora nos 50+. E nós, se alertas não ficamos, estaremos ainda buscando mais do mesmo.
Precisamos de Mulheres Felizes!
Felicidade é liberdade! Não quero me prender a nenhum padrão a não ser o de não ter padrão. Muito menos ao padrão das Super Models, apertadas em suas roupas e nos seus saltos agulha. Já vivi bons anos da minha vida tentando caber nisso e, graças a Deus, acredito que me livrei dessa “obrigação”. Tento ir na direção das pessoas que mais admiro, daquelas que vejo mais felizes e livres, as que conseguiram se aceitar, que se amam como são, livres dos padrões de juventude e de beleza.
*Artigo do Jornal da UFRGS
Foto da Capa: Reprodução Instagram