Hoje, 10 de abril, completo 65 anos e passo a ser considerado um idoso. Eu sinto as marcas do tempo no corpo. A mente falha e esqueço nomes que deveria saber, mas o tempo não conseguiu envelhecer meu espírito. De vez em quando, as Pernas não conseguem alcançar os Desejos, então a Dona Sabedoria chama ambos para um cantinho explica que a esta altura da vida, eles precisam se entender. A Senhora Ansiedade, que era muito ativa, agora está fazendo meditação. Já a Senhorinha Pressa, não é mais a mesma, anda se reunindo com as amigas nos cafés. Mudanças ocorrem dentro e fora.
As rugas e os cabelos grisalhos são as marcas de uma vida que me orgulho de ter vivido, com erros que não gostaria de ter cometido, com coisas que poderia ter feito melhor, mas com a certeza de que fiz tudo buscando o melhor para mim e para os outros. Profissionalmente me sinto realizado, pois fiz o caminho que os meus alunos querem fazer e cheguei aonde eles querem chegar. Ainda tenho, pelo menos, cinco anos de atividade na universidade e quero produzir muita coisa boa. Na vida pessoal, passei pelos perrengues que todos nós passamos, sobrevivi e hoje estou feliz. Considero cada dia vivido como uma conquista.
A vida oferece lições, a gente aprende com ela se quiser. Talvez um dos maiores aprendizados tenha sido ter conseguido um certo domínio sobre o meu ego. Elogios, críticas, invejas e outros sentimentos me afetam de uma forma bem mais moderada do que no passado. Aprendi que não vou levar nada disso comigo e que eles são apenas pesos que carregamos. Passei a me sentir muito mais leve quando deixei de dar importância para o que pensam e dizem de mim. Curiosamente, quando deixei de exercer cargos e funções executivas, algumas pessoas se afastaram e ficaram as que eu realmente quero perto de mim.
Faz 30 anos que entro na mesma sala para dar aula e encontro alunos com cerca de 20 anos. Eu tenho impressão de que o tempo não passou e que eu continuo com a mesma idade de 30 anos atrás. Eu atualizei os conteúdos, o jeito de dar aula, mas mantenho o prazer de estar com os alunos e de ver o desenvolvimento deles. Frequentemente encontro pessoas que eu reconheço a fisionomia, mas não lembro o nome e elas me abraçam e dizem “fui seu aluno na EA em 2002”.
Tenho lido os estudos de Harvard e de outras fontes que mostram o que é viver bem e o que significa envelhecer com saúde. Os estudos são unânimes em afirmar que boas relações, exercício físico, boa alimentação e horas de sono são fundamentais para um corpo e mente saudáveis. Destes itens, as boas relações são as que exigem contato com outras pessoas. O que parece tão difícil para uns é tão fácil para outros. Aqui também tenho um segredo a revelar. Se queres manter boas relações, aprenda a escutar. Algum dia vais querer que alguém te escute, mas em muitos outros, teus amigos vão querer que você os escute. Eles não querem opiniões e conselhos, querem apenas uma escuta ativa.
Agradeço ao meu corpo por ter me trazido até aqui. Do meu passado nada a temer, nada a esconder. Quero saborear o presente como um sorvete que derrete, pois sei que logo ele será passado, mas enquanto for presente, vou aproveitá-lo ao máximo. Entro nos 65 anos com desejo de viver o futuro, que será muito melhor se puder contar com a sua presença e se eu puder lhe ouvir.
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Foto da Capa: Freepik / Foto interna: montagem do autor