Para e pensa: no que você foca para construir uma vida de sucesso? Em que medida a sua ideia de sucesso está atrelada a quem você considera importante na sua vida? A sua saúde e expectativa de vida é uma medida de sucesso para você?
Vamos por partes, combinado? Primeiro, te convido a pensar sobre como essas respostas vão se alterando conforme a geração, pois cada geração é resultado de seu tempo e contexto. Claro que isso não é algo chapado. Eu mesma, confesso, não me considero uma representante ideal da minha, a X.
Geração X e Baby Boomers
De modo geral, a geração X compreende os nascidos entre 1965 e 1981, período de reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial, encontrar emprego era um grande desafio após esse tempo de turbulência. Trabalhar e produzir é sua filosofia de vida, deixando de lado o idealismo. O individualismo, a ambição e a dependência do trabalho — ou workaholic — são os valores em que os nascidos nessa geração cresceram.
Os pais da geração X viveram durante o período pós-guerra são os Baby boomers, que desfrutaram de estabilidade, profissional e familiar. Apesar de estarem adaptados ao mundo 4.0, os Baby Boomers são menos dependentes do smartphone do que as gerações seguintes.
Geração Y e Z
A revolução foi marcada pelos millennials ou geração Y, os nascidos entre 1982 e 1994. A tecnologia faz parte de seu dia a dia, e todas as suas atividades passam por meio de uma tela. No entanto, os mais velhos desta geração não nasceram na era tecnológica. Eles viveram na época analógica e migraram para o mundo digital.
Ao contrário das gerações anteriores, o mundo, por causa da crise econômica, exigiu deles uma maior preparação para conseguir um emprego, porque a concorrência cresceu. Ao contrário de seus pais — a geração X —, os nativos digitais não se conformam com o seu entorno e são ambiciosos para atingir suas metas. Porém, vive com o rótulo de ser preguiçosa, narcisista e mimada.
A geração Z ou pós-millenial, ou ainda centenial, – nascidos entre 1995 e 2010 – assumirá o protagonismo dentro de algumas décadas. É um grupo de pessoas marcado pela Internet. Faz parte de seu DNA: ela invade sua casa, sua educação e sua forma de se socializar. E se, para a geração Y é complicado encontrar trabalho, a situação da Z será ainda mais complexa.
No entanto, conforme pesquisa global do Linkedin, para os jovens brasileiros da geração Z, ganhar bem ou ter um cargo de chefia dentro de uma empresa não é mais uma definição do que é ser bem sucedido. Aliás, 60% deles já considera ter sucesso. Entre as diversas opções que levam ao sucesso, 72% dos jovens brasileiros marcaram “ser feliz” em primeiro lugar. Logo depois, com 71% dos votos, ficou o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho; “Ser saudável” ficou em terceiro, com 68%. (leia mais na matéria da Exame)
No mundo, as gerações Y e Z são as mais predominantes: de acordo com o estudo New Kids On The Block. Millennials & Centennials Primer do Bank of America Merrill Lynch, hoje em dia, há 2 bilhões de millennials e 2,4 de centenials, que representam 27 e 32% da população mundial, respectivamente.
Eles estão vindo
A geração atual, os que nasceram depois de 2010, é classificada com a expressão “geração Alpha”. Como será seu comportamento? Em breve nós saberemos.
E daí?
Será que você também olha para a vida da mesma maneira que a descrição feita sobre a sua geração? Com mais ou menos otimismo, individualismo, ambição ou solidariedade? E de que maneira isso afeta como você conduz a sua vida? Dedicando mais ou menos horas a você, ao trabalho, a família, aos amigos, ao lazer? A resposta a essa pergunta também responde qual é a sua expectativa de vida, sabia?
As dicas das Blue Zones
Foram estudadas as Blue Zones, locais com maior longevidade saudável no mundo (Loma Linda/Califórnia, Nicoya/Costa Rica, Sardenha/Itália, Okinawa/Japão, Ikana/Grécia), e lá encontradas nove práticas em comum que podem explicar os motivos pelos quais nesses lugares há pessoas vivendo mais tempo, com saúde, sem necessidade de medicação.
- Atividade – Nesses locais as pessoas se movimentam de forma natural, realizando o trabalho da casa e sem grandes ferramentas tecnológicas, como o cuidado com a casa, o jardim, o pastoreio, a pesca, etc.
- Equilíbrio – Nas Blue Zones também há estresse. O que as pessoas dessas regiões fazem de diferente é que têm em sua rotina exercícios para aliviar a mente e também pra se divertir: orando e indo ao bar.
- Vinho – Com exceção da comunidade adventista da Califórnia, a maioria dos cidadãos das Blue Zones têm como hábito tomar álcool regularmente, com moderação (um a dois cálices de vinho).
- Rede – O meio social que você vive reflete na sua longevidade. Cigarro, depressão, solidão e até felicidade são contagiosos. Em Okigawa os “moais” são grupos de cerca de cinco amigos com o compromisso de se cuidar durante a vida, mantendo hábitos saudáveis.
- 80 / 20 – Alimentar-se até o estômago ficar 80% cheio, não mais que isso. Os 20% que restam, fazem diferença na hora de manter o peso.
- Menos carne – Em quase todas as Blue Zones a alimentação é composta por vegetais. Eles se alimentam de proteína animal no máximo cinco vezes por mês e em pouca quantidade.
- Amor – Centenários colocam sua família em primeiro lugar. Isso significa cuidar dos pais e avós, que já estão envelhecendo, colocando-os por perto.
- Espiritualidade – Pesquisas mostram que fazer parte ativamente de uma comunidade religiosa, independente de qual, ou ser alguém espiritualizado, pode adicionar anos na sua expectativa de vida.
- Propósito – Em Okinawa, o Ikigai, ou na Nicarágua, fazer o plano ou sentido de vida, também é uma prática nas Blue Zones que acrescentam mais anos de qualidade na vida.
E, se entre essas nove práticas a gente tivesse que focar em alguma área? Qual delas seria mais importante? Qual seria a “ordem unida” para todas as gerações, Baby Boomers, X, Y, Z, e até para os Alpha?
Conforme o mais longo e importante estudo a respeito dos fatores que relaciona a saúde, conexões sociais e longevidade, iniciado em 1938 e conduzido pela Universidade de Harvard, que vem estudando gerações de pessoas das mais variadas origens, realizando desde varreduras cerebrais, exames de sangue, de DNA a avaliações psicológicas periódicas, o que se aprendeu nesses 85 anos de pesquisa foram as três lições abaixo para viver mais e com saúde:
- Conexões sociais – Estar em contato com as pessoas, família, amigos, vizinhança, a comunidade. A solidão é tóxica. Pode ser com o atendente da padaria, o carteiro, os conhecidos da praça onde você passeia com o seu pet. O contato humano é nutritivo no melhor sentido da palavra. Pessoas que são mais isoladas do que gostariam descobrem que são menos felizes, sua saúde decai precocemente, seu cérebro se deteriora mais cedo e vivem vidas mais curtas do que aqueles que não são solitários.
- O número não é o mais importante – Estar junto é bom. Estar “bem com” é melhor ainda. Viver em meio a relações boas e reconfortantes nos protege. A qualidade do vínculo incrementa as possibilidades de viver mais e com saúde. É ter com quem contar. Pra quem você ligaria às 3h, se tivesse um perrengue? As pessoas que estavam mais satisfeitas em seus relacionamentos aos 50 anos eram mais saudáveis aos 80.
- Coração, corpo e cérebro – relações saudáveis protegem, além do corpo, também os nossos cérebros. Aquelas pessoas que tinham as relações mais saudáveis foram também as que também tiveram os melhores resultados cognitivos.
O que acontece é que bons relacionamentos nos aliviam em momentos de ansiedade, porque temos com quem compartilhar as dores, e assim nos protegem do estresse crônico, bem como nos nutrem com o afeto.
Eu não tenho conexões. Como faço?
Sempre há tempo de construir a nossa rede de conexões. Por onde começar? Pense nas atividades que gosta de fazer: caminhar, fotografar, pintar, ir à igreja, fazer esporte, jardinagem, voluntariado, cozinhar… A seguir, procure locais onde encontrará pessoas que também fazem essas mesmas atividades e vá a eles, regular e continuamente. Ao natural as conversas acontecerão, se aprofundarão, e os vínculos irão aflorar.
E o resto não importa?
Manter dieta saudável e atividades físicas regulares, como já demonstrado por estudos a respeito nas Blue Zones e tantos outros que a Ciência nos dá conhecimento, são fatores importantes para uma longevidade saudável. Mas cuidado nas proporções que isso irá tomar na sua vida. Se isso for levar ao isolamento social, será tóxico para você. Conforme estudo conduzido pela Dra. Julianne Holt-Lundstad, Professora de Psicologia e Neurociência e Diretora do Laboratório de Conexão Social & Saúde da Universidade Brigham Young, o isolamento social e a solidão são tão prejudiciais quanto fumar meio maço de cigarro diariamente. Então, de novo, investir na qualidade das suas conexões sociais é investir na sua saúde.
É o Amor
Conforme entrevista do psiquiatra Robert Waldinger, diretor deste estudo longitudinal da Universidade de Harvard, as pessoas quando chegam na velhice avançada e falam de seus arrependimentos e suas maiores conquistas, não citam prêmios, títulos nem cargos, o que aparece como grande arrependimento é o pouco tempo dedicado a quem amam e, como conquistas, serem bons amigos, bons pais e mães, bons maridos e esposas, bons chefes, terem construído relações de qualidade. Porque, ao final, o que importa é o amor.
Li numa postagem do perfil Avós da Razão a seguinte frase que compartilho e que imagino que os pesquisadores de Harvard também concordariam com ela: “O desperdício da vida está no amor que não damos, pois nele está a felicidade que perdemos”.
Assim, comece a ser amoroso e amorosa já! E, se alguém reclamar, o que eu duvido, informe que foi recomendação médica!