Semana passada fui assistir o filme “One Life” aqui em Portugal, que no Brasil tem o título de “Uma Vida. A História de Nicholas Winton”. Protagonizado por Anthony Hopkins, o filme retrata a vida do jovem britânico que ajudou a resgatar centenas de crianças judias de áreas ocupadas pelos nazistas na atual República Tcheca, entre Janeiro e Setembro de 1939.
Eu já havia visto um vídeo no YouTube com um recorte da história de vida de Winton, mas mesmo assim, ou melhor dizendo, por esta razão, já entrei na sala de cinema com um nó na garganta. E estava certa, o filme é bastante emotivo. Foi a primeira vez que vi uma sala de cinema cheia aplaudir uma projeção no final na sessão.
A interpretação de Hopkins, impecável como sempre, nos faz mergulhar profundamente cada sentimento: vontade, angústia, impotência, desilusão, culpa e vergonha. Revisitar esse episódio da história da humanidade é sempre difícil, seja qual for a perspectiva. Além do que, deixei a sala com um grande questionamento interior: quem serão nossos “heróis” quando revisarem a história dos dias que correm? O que eu, ou você, temos feito, e o que poderíamos fazer, e não fizemos, para salvar uma vida?
Em “Uma Vida”, Hopkins, aos 86 anos, compartilha um papel duplo com o ator Johnny Flynn que representa Winton na juventude. O filme retrata a visita de Nicholas Winton a Praga entre dezembro de 1938 e janeiro de 1939 e os meses seguintes a essa visita quando retornou a Londres e deu início a operação que ficou conhecida como “Kindertransport.”
Ele coordenou a ação com outros jovens que na época desenvolviam trabalhos humanitários na antiga Tchecoslováquia, como Trevor Chadwick, Martin Blake e Doreen Warriner – interpretados por Alex Sharp, Ziggy Heath e Romola Garai no filme, respectivamente. O grupo identificou centenas de crianças que precisavam de um lar longe do conflito. Após retornar a Londres, Nicky e sua mãe Babi Winton, trabalharam para garantir a viagem e o acolhimento destas crianças na Inglaterra, enquanto os outros trabalhavam na logística e embarque das centenas de meninos e meninas, cujos pais acabaram por ser assassinados.
“Uma Vida” é baseado no livro “If It’s Not Impossible…The Life of Sir Nicholas Winton”, escrito pela irmã de Nick, Barbara Winton.
A história de Nicholas ficou praticamente desconhecida até a década de 1980, quando ele e sua esposa redescobriram álbuns de recortes detalhando as centenas de vidas que ele ajudou a salvar.
O “talk show” britânico “That’s Life” orquestrou um encontro em 1988 entre ele e várias destas crianças 50 anos depois do ocorrido. Os vídeos do YouTube do programa de auditório acumulam milhões de visualizações ao longo dos últimos anos.
Precisamente, 669 crianças foram deslocadas de trens que partiram de Praga com destino a Londres. Estima-se que cerca de 6.000 pessoas estejam vivas hoje devido aos esforços de Nicholas Winton e de outros voluntários do Comitê Britânico para os Refugiados na Checoslováquia.
Nick morreu em 2015, aos 106 anos. Um homem reconhecidamente altruísta que passou a vida se voluntariando em diversas causas sociais.
Um Visto para a Liberdade
Assim como Nicholas Winton, outras tantas pessoas também saíram da zona de conforto com o único objetivo de salvar vidas.
Aristides de Sousa Mendes é um destes exemplos. Ele foi um diplomata português que durante a II Guerra Mundial salvou mais de 30 mil pessoas da perseguição Nazista em 1940.
À medida que o exército alemão avançava no território francês, milhares de refugiados tentavam abandonar as zonas de conflito mais intenso.
Aristides era o cônsul de Portugal em Bordeaux, na França, e fazendo uso dos recursos que possuía concedeu ilegalmente milhares de vistos contrariando ordens superiores.
Esta decisão custou-lhe um processo disciplinar e o afastamento da carreira diplomática. Em sua defesa, Aristides argumentou não poder ‘”fazer diferenças visto obedecer a razões de humanidade que não distinguem raças nem nacionalidades”.
E sigo com a pergunta que não me sai da cabeça: Quem serão nossos heróis nos conflitos que seguem?
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Foto da Capa: Reprodução