Antes eram manipulações em divisões de menor representatividade do futebol. Negociatas que aconteciam na terceira ou na quarta divisão e, portanto, envolviam atletas com salários que muitas vezes nem chegavam a dois mil reais. Pois o escândalo da Operação Penalidade Máxima grita justamente por isso: recai sobre jogadores de ótimo prestígio, alguns com trajetória internacional, e que ganham salários de 200, 300 ou 400 mil reais.
A Operação Penalidade Máxima é uma investigação realizada pelo MP de Goiás que descobriu manipulações em jogos de futebol no Brasil. O objetivo dos envolvidos era ganhar dinheiro de casas de apostas. Resumidamente: apostadores acertavam com jogadores que forçavam, por exemplo, cartões amarelos. Numa combinação incrível de uma série de cartões em jogos variados, os apostadores investiam fortunas e tiravam milhões nestas apostas. E usavam parte dos lucros para pagar prêmios aos atletas, que chegavam a 70 mil reais. Já são 53 jogadores citados nominalmente em provas, 15 deles denunciados.
Aqui uma primeira opinião: as casas de apostas são vítimas deste episódio. Porque, afinal, elas é que são lesadas e pagam as contas destas armações. Toda esta articulação tem o objetivo de ganhar dinheiro nestas casas. Por isso é tão importante que isto seja regulamentado e controlado no País. E também para que estas empresas de atuação no ramo de apostas contribuam com impostos.
O segundo ponto que julgo merecer reflexão. Não se pode mais permitir o patrocínio de casas de apostas em jogadores, treinadores e talvez nem mesmo em clubes de futebol. Não vejo problema de uma casa de apostas patrocinar uma competição, o que está em discussão para ser proibido inclusive. Mas bancar atletas individualmente e treinadores não deve ser permitido.
Não devemos tratar jogadores investigados como criminosos. Todos merecem um julgamento justo e direito à defesa. Mas é inadmissível que atletas consagrados, já milionários, que ganham muitas vezes mais de 300 mil reais, aceitem participar desta maracutaia. Porque quando este tipo de arranjo acontecia em divisões menores a sociedade se encarregava de passar a mão na cabeça. Com o discurso de “puxa, o sujeito ganha menos de dois mil por mês, como vai sustentar a família?”, fazíamos de conta que esta era uma justificativa aceitável. Agora não estamos falando disso. Tem gente grande denunciada. Atletas com trajetória no exterior e com patrimônio milionário. Que acharam bacana participar de uma atividade ilegal que mancha o esporte no País.
Espero que estes jogadores envolvidos sejam banidos do futebol. E, obviamente, respondam a processo com risco de prisão. Ideal ainda seria a inclusão de multas pesadas, que poderiam ser calculadas em cima do salário de cada um deles. Para mostrar que a sociedade não vai compactuar com este tipo de atitude.
Quem sabe justamente o futebol não consiga dar o exemplo que tanto esperamos: que não existe impunidade no nosso País.