Você por conferir Os 10 desafios das lideranças – Parte 1 AQUI.
A-K 3: O desafio da criação de estratégias para um futuro muito diferente que chega cada vez mais rapidamente. (Necessidade de inovações radicais e reinvenções contínuas em substituição a melhorias incrementais no que pode até já estar obsoleto. Necessidade de “apostas” em “embriões” de organizações do futuro).
VM: Percebemos coisas que já estão obsoletas, ou em franca decadência, mas custamos a assimilar a necessidade de seguir em frente. Nosso cérebro ainda está ancorado nas reações de sua origem primata e de “certezas” implantadas em nossa mente por um sistema cartesiano, que, na verdade, não pode mais nos orientar nem mesmo na estrutura que serve ao Grande Sistema. Nosso desafio é desamarrar laços fictícios, romper barreiras e mergulhar no desconhecido; navegar com ainda mais audácia do que nossos antepassados quando se jogaram aos mares sem saber aonde chegariam. Nosso corpo – o cérebro não pensa sozinho, mas em conjunto com o coração e demais órgãos – tem a capacidade de ultrapassar o que julgamos serem limites. Apostar em embriões de organizações do futuro me parece uma excelente prática, já desde o nível teórico, como exercício, pois as pessoas podem se reunir para debater o formato e imaginar o processo de implantação de um desses embriões da organização, como se fosse uma filial com novas competências, para atuar em novos cenários, como, quem sabe, no Metaverso. É um exercício para estimular também a criatividade e deve ser realizado com alegria e não com angústia, abrindo portas para uma futura realidade.
A-K 4: O desafio de planejar levando em conta a “realidade real” sem deixar “vazios” e não só o que está aparente e reportado. (Necessidade de incluir no processo de planejamento os “problemas crônicos”, as doenças do sistema vigente, as fragilidades ocultas/filtradas, enfim tudo que pode afetar a evolução e resultados).
VM: Esse é um desafio que exige profunda reflexão, que passa obrigatoriamente por uma compreensão um pouco mais apurada sobre o significado do trabalho. Podemos começar com leituras e documentários*, como “Indústria Americana”, de Steven Bognar e Julia Reichert, que questiona nossa percepção valorativa do trabalho, não apenas econômica, mas também moral, contrapondo Oriente e Ocidente – ainda mais importante desde o redesenho das potências econômicas, com a China, talvez, vindo a ultrapassar os Estados Unidos – e nos permite vários insights. Vamos adiante, então, refletindo sobre os processos históricos e sobre os cenários possíveis no futuro. Disponível na Netflix.
*Faço aqui uma atualização, incluindo um filme biográfico sobre Donald Trump, “O Aprendiz”, com Sebastian Stan como Trump e o ótimo Jeremy Strong (de Succession) como o seu advogado mentor, Roy Cohn, nas décadas de 70 e 80, sobre a sua escalada meteórica como empreendedor imobiliário. Trump define o mundo como uma selva em que alguns nascem com instinto predatório, sendo ele próprio um predador nato, que tem mesmo prazer em pisar no outro para galgar o sucesso. É um filme altamente esclarecedor da doença à qual estamos expostos e da urgência em reconhecer o esgotamento dessa percepção de mundo, que está nos levando à catástrofe. Disponível também na Netflix.
A-K 5: O desafio de assegurar líderes presentes e muito bem preparados para estes novos tempos, em todos os pontos-chave da organização. (Necessidade de ter líderes “alfabetizados” no digital, no sistêmico, no ecológico, no humano/filosófico/existencial, para que estejam centrados e serenos – com consciência do “Norte” a buscar – mesmo em períodos de crise e alta turbulência).
VM: Nosso corpo é o templo do espírito, diz o Tao*. Mas tendemos a confundir o espírito com a experiência psicomental, atribuindo qualidades e predicados a esse princípio eterno e autônomo que é o espírito. Deixar o espírito fluir em nós nos conecta ao Ser, que a tudo abarca, e assim abrimo-nos para toda a experiência com a matéria (a carne) de forma leve e desprendida, nos alfabetizamos na Vida (no digital, no sistêmico, no ecológico, no humano/filosófico/existencial) e tornamo-nos aptos a conhecer e agir da melhor forma, com serenidade. Assim, Ser não é uma questão psicomental, é a consciência de estar e agir no mundo como parte do Todo. Líderes conscientes caminham e conduzem processos com uma segurança voltada ao bem maior e não à defesa singular.
*O taoísmo, também chamado daoísmo e tauísmo, é uma tradição filosófica e religiosa originária do Leste Asiático que enfatiza a vida em harmonia com o “Tao”, a ordem geral do universo, que no chinês significa “caminho” ou “princípio”, e no taoísmo designa a “fonte” e a força motriz por trás de tudo existente.
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Foto de capa: Cloé Gérard / Pixabay