A-K 6: O desafio da humanização (em patamar inédito) na organização como um todo (líderes e colaboradores com soft skills refinados). (Necessidade de uma equipe – da cúpula à base – que atue muito além de procedimentos e controles rígidos/hierárquicos/“mecânicos” e atue harmonicamente, colaborativamente, em excelentes níveis de comunicação e relacionamento).
VM: Uma vez que estamos conscientes de Ser e não apenas de Existir, percebendo-nos parte do Todo, reconhecemo-nos no outro, nosso pensamento e ações são amorosos, a empatia é natural e os relacionamentos são frutíferos, nos comunicamos não só através da mente, mas também do coração com sua magnífica força eletromagnética, tão mais poderosa do que a do cérebro, como já comprovado cientificamente. No dia a dia da organização, quanto mais estivermos conectados uns aos outros, melhor o trabalho fluirá.* Imagino práticas muito simples que podem fortalecer essa conexão, como uma pausa em grupo antes do horário de almoço para 1 ou 2 minutos de respiração profunda e um copo de água; no final do dia, ouvir uma frase ou uma canção relaxante – com um chá de camomila ou capim cidreira – antes da equipe se despedir e ir para casa (ou se desconectar), todos desejando-se uma boa noite de sono. Nas sextas-feiras, à tarde, reservar cerca de 50 minutos, dentro do turno de trabalho, para a leitura de um texto inspirador e conversas em grupo. Podem ser conversas também a partir de relato de sonhos, uma viagem, um evento, entre outras experiências, ou atividades com desenhos, escrita de uma história coletiva, jogos colaborativos, fazer uma receita culinária, etc. – a equipe poderá decidir em conjunto qual prática gosta mais ou julga melhor para a conexão entre todos.
*Faço aqui uma atualização, destacando que a lei NR-1, do Ministério do Trabalho e Emprego, agora inclui a avaliação e gestão de riscos psicossociais no ambiente de trabalho. A partir do próximo dia 26 de maio, todas as empresas no Brasil estarão obrigadas a implementar medidas específicas para promover a saúde mental de seus colaboradores. A saúde mental no trabalho se dá através da verdadeira conexão entre as pessoas, nas conversas, na troca, na compreensão e consciência do mundo que vivemos para podermos enfrentar os desafios com serenidade, com propósito – essa é a chave para o bem-estar tanto individual quanto coletivo.
A-K 7: O desafio de ter as pessoas certas, nos lugares certos, com a motivação e iniciativa certas. (Necessidade de a organização ter pessoas bem-preparadas nas dimensões estratégicas, técnicas, políticas, humanas, culturais, que tenham valores positivos e consigam atuar de forma livre e desprendida, com o espírito criativo totalmente liberado).
VM: “Se eu transmitir aos meus homens o amor da navegação no mar, e essa dimensão que eles passam a ter no coração os fizer assim tender para o mar, em breve os verás diversificarem-se segundo as qualidades particulares de cada um. Aquele tecerá o pano, o outro deitará abaixo a árvore da floresta, ao clarão da sua machada. Outro ainda forjará rebites e haverá quem observe as estrelas para aprender a governar. E, todavia, não serão mais do que um.” (Saint-Éxupey) Se conseguirmos transmitir o amor ao propósito do nosso negócio para nossos colaboradores – e sem esse amor hoje não vamos longe, pois nossos colaboradores, especialmente os da geração Z e clientes, valorizam cada vez mais o comprometimento com a Vida – eles poderão se identificar e direcionar suas habilidades dentro da empresa, sentindo-se responsáveis, cada um fazendo a sua parte, cientes de que é fundamental em si própria, mas também para o sucesso da parte do outro, sendo o conjunto não mais que um, comunidade.
A-K 8: O desafio da contínua modernização estrutural para assegurar atenção a tudo que é relevante, especialmente às demandas inéditas trazidas pelos novos tempos. (Necessidade de um contínuo processo de revisão e redesenho organizacional e criação até de cargos inéditos para evitar o surgimento de “vazios organizacionais” através dos quais os resultados podem se esvair).
VN: Segundo o psicanalista Jacques Lacan, uma análise que não levou uma pessoa ao entusiasmo não serviu para grande coisa. Entusiasmo/otimismo é uma aposta, uma ação sem garantia. Os novos tempos estão nos trazendo muitas demandas inéditas que podem gerar perplexidade, angústia, medo, pois ainda estamos muito presos a velhos conceitos. Vamos conseguir perder o peso das identificações que carregamos pela vida inteira quando tivermos o poder de suportar uma ação sem garantia, diz a psicanálise. Esse é o nosso tempo, não há mais garantia de nada, tudo está em aberto e depende de nossa iniciativa construir um futuro hoje, agora, com entusiasmo, em cada ação que empreendemos, coletivamente. Oscar Motomura nos alertou para o egoísmo coletivo. Esse egoísmo precisa dar lugar à intenção coletiva, e qualquer mudança social coletiva começa por pequenos grupos. Gandhi iniciou o movimento de não-violência com pequenas comunidades na Índia. Martin Luther King iniciou o movimento pelos direitos civis também com um pequeno grupo. Pesquisadores da Universidade do Arizona fizeram experimentos reunindo pequenos grupos de árabes e judeus, republicanos e democratas e outros grupos em desacordo entre si. Eles viram suas diferenças se dissolverem quando ouviram um ao outro mais profundamente e depois se concentraram em achar uma intenção altruísta com a qual concordassem. O coração falou e rompeu a separação. Um exemplo ainda mais direto, porque espontâneo, pode ser “A trégua de Natal”. Em 1914, em Flandres, na Bélgica, durante a Primeira Guerra Mundial, tropas inimigas pararam os confrontos não oficialmente para uma confraternização natalina, que teve uma alegre partida de futebol, troca de presentes, conversas e música. As trincheiras rivais eram muito próximas e os soldados podiam se ouvir durante todos aqueles meses no frio e na lama, o que criou diversos “sinais de pertencimento” através de uma comunicação de forma indireta, como sinais de parada do confronto à noite sinalizados com tiros em ritmo de uma música conhecida que eram respondidos com as tropas inimigas cantando o resto da música. Até que um dos lados propôs o cessar-fogo de Natal, e o outro lado aceitou, amigavelmente.
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Foto de Capa: Montagem com foto de Pexels / Pixabay