O ecossistema de inovação focado em soluções para o mercado maduro ganhou uma subdivisão voltada às soluções para um grupo etário que tem desejos, necessidades e consumo que vão muito além das questões sobre doenças e fragilidades do envelhecimento. O foco em assistência à saúde acabou sendo um caminho natural levando em consideração que a totalidade dos inovadores, até pouco tempo atrás, percebiam apenas as questões ligadas ao envelhecimento e suas perdas naturais. Muito preconceito multiplicado pela desinformação e falta de referências.
Estamos em um processo de transição e meu papel nos últimos nove anos tem sido o de revelar os novos 60+ como consumidores de soluções para o bem-estar, turismo, entretenimento, moradia e consumo. Recentemente divulgamos o estudo TOP16 60+ Podcasts SeniorLab by Deezer onde identificamos os 15 podcasts mais escutados pelos 60+ em uma das maiores plataformas de streaming de áudio do planeta (O meu artigo completo a respeito dos podcasts mais escutados está aqui nesta coluna). Gosto muito de investigar o que as pessoas de um modo geral fazem quando não estão submetidas a direcionamentos ou estímulos de propaganda. O que elas fazem quando podem fazer o que bem quiserem é muito mais revelador do que o resultado de um questionário de pesquisa e foi isso que fizemos.
Dos 15 podcasts mais escutados no segundo semestre de 2022, nenhum falava de doença ou de comorbidades comuns ao envelhecimento. Os assuntos passavam por variedades, humor, esoterismo, autoconsciência, política, enfim… Nada de doenças. Isto não significa evidentemente que o tema saúde não é importante e que não causa interesse, mas sinaliza apenas que há um gap gigante de oportunidades de vida para ser vivida na oferta de serviços e soluções de tecnologia aos usuários 60+.
Preparei algumas linhas e segmentos que começam a apresentar expansão e que não estão ligados aos temas de doenças e cuidados ao idoso frágil. Em todos, a interface mobile se mostra bastante eficiente no processo de venda, distribuição e relacionamento.
São eles:
- Turismo ligado a experiências no Brasil ou no exterior onde apenas registrar imagens ou passar pelos pontos turísticos não é mais suficiente. O turista 60+ quer conhecer a história daquele lugar, a história das pessoas que viveram e que ainda vivem ali e conviver o máximo possível;
- Lifelong Wellness, uma expressão criada pelo projeto Terra da Longevidade e que consolida conhecimento e atitudes para o bem-estar ao longo da vida. O foco é prevenção através do estilo de vida, não o tratamento de doenças;
- Um dos capítulos do estilo de vida que desperta o interesse dos maduros é a alimentação. No mesmo projeto citado acima se encontra a Longevidiet, resultado da pesquisa do Instituto Moriguchi e que identificou a dieta brasileira e com ingredientes locais utilizada e praticada por quem alcançou a vida longa, plena e feliz;
- Silver Investor que tem como objetivo aumentar as reservas financeiras para manutenção do padrão de vida e da independência para os anos bem mais à frente. Existem várias alternativas para realização destas estratégias. De acumulação via investimentos em imóveis, renda fixa e até em ações na bolsa. Vale destacar nesta última que apenas 12% dos investidores pessoa física na B3 têm 56 anos ou mais, porém são donos de 55,3% do volume em R$ sob custódia. De cada R$ 100 na bolsa, R$ 55,30 é deles;
- Fitness orientado para os maduros. Seja em academias que já têm 30% dos seus clientes dentro do perfil 60+ aos aplicativos que chamo de entrada ao estilo de vida fitness com orientações adequadas a cada faixa etária. Existem aplicativos que monitoram o posicionamento e os movimentos do usuário alertando quando não estão adequados ou podem trazer risco;
- Marketplace com curadoria de produtos mais adequados à faixa etária ou com usabilidade e funcionalidade testada para braços, mãos e dedos que não tem a mesma força que tinham aos 40 anos de idade;
- Na linha da avaliação de usabilidade 60+, o Instituto Moriguchi, a SeniorLab e o IBTeC, que possui um dos principais laboratórios de biomecânica do movimento humano, desenvolveram a Certificação Funcional que avalia os aspectos funcionais de equipamentos, embalagens e mais recentemente de usabilidade de telas, desde sites responsivos e apps para interfaces mobile a telas para outros tipos de interfaces. É a ciência ajudando a garantir uma UX que realmente funcione para o usuário maduro.
A última pesquisa TIC do IBGE revelou o impressionante percentual de posse de celulares pela faixa etária com 60 anos ou mais, onde 71% já possuem celular e o utilizam com frequência atingindo o número de 24,5 milhões de pessoas. São milhões de seniores que querem diversão, consumo de tecnologia, informação com curadoria, experiências e alegria de envelhecer.
Foto da Capa: Kampus Production / Pexels