Faça o teste: quem estava lá? Primeiro concerto da Ospa, reforma e reabertura do Theatro São Pedro, construções do Centro Municipal de Cultura e do Teatro de Câmara, criação da Secretaria Municipal de Cultura, abertura da primeira Feira do Livro, inauguração da Sala de Música da Ospa? Ainda tem mais: Exposição Farroupilha de 1935, atividades da Reitoria e da Editora da UFRGS, debates da Academia Riograndense de Letras, discussões e decisões sobre o patrimônio histórico de Porto Alegre, formação de alunos no Colégio Anchieta?
Em todos estes momentos, com maior ou menor grau de participação – como coadjuvante ou tendo papel de destaque -, Luiz Osvaldo Leite, porto-alegrense que completou 90 anos no último dia 15, se fez presente e deixou sua marca.
Dono de um estilo suave, que privilegia o diálogo e o consenso, Leite é uma presença respeitada na vida cultural da cidade há pelo menos sete décadas – ou mais, se for tomada como base a precoce iniciação cultural.
E a cultura da cidade deve muito a ele.
A sólida base iniciada na infância ressurgiria com maior força no começo dos anos 70 quando Leite teria seu primeiro cargo público. Como assessor da Secretaria Municipal de Educação, ele logo começaria a dar maior atenção à Divisão de Cultura, experiência que serviria de embrião para o surgimento da Secretaria Municipal da Cultura, criada pouco mais de uma década depois.
Na Divisão de Cultura, Leite estaria à frente de importantes projetos como a criação do Conselho Municipal do Patrimônio Artístico Histórico e Cultural (Compahc), o Museu de Porto Alegre, o ressurgimento da Banda Municipal e – o maior deles – a construção do Centro Municipal de Cultura.
Ao novo espaço, Leite estaria vinculado desde os primeiros projetos e do início das obras. Ao final, vendo o centro ser inaugurado com teatros, biblioteca e ateliê, Leite guardaria apenas uma frustração. “Tentei incluir no projeto uma sala de cinema, mas não concordaram.”
A transição da Divisão de Cultura para a Secretaria da Cultura, aí já no governo Alceu Collares (PDT), o primeiro eleito após mais de 20 anos de prefeitos biônicos, marcaria o reencontro de Leite com um de seus grandes amigos, o professor Joaquim Felizardo.
Primeiro secretário da nova pasta, Felizardo tinha pelo menos dois pontos em comum com Leite: a paixão por Porto Alegre e o gosto por formar grupos. Assim, das conversas que começavam na secretaria e que não acabavam nasceria, no final dos anos 1980, uma nova confraria.
Primeiro instalada na casa de um dos confrades que recebia para almoços semanais, depois zanzando por alguns restaurantes até a opção final de adotar uma tradicional cantina italiana como base. É lá que há anos este grupo se reúne, sempre às quintas-feiras, para animados almoços com extensa pauta de assuntos. Quase toda formada por professores e jornalistas – recebendo eventualmente alguns políticos e convidados fora do Estado -, a mesa é plural e democrática.
Com a morte de Felizardo, Leite assumiria a função de patrono da mesa e também se tornaria o responsável por não deixar que o grupo se fragmentasse, sempre recebendo novos confrades.