Os artistas da minha cidade merecem todo o carinho e o respeito às suas conquistas e às suas produções. Incluo entre esses não apenas os que nasceram em Porto Alegre, mas os que fizeram e fazem suas carreiras aqui.
Sim, o mundo é grande. E, antes de pensar no mundo, partamos de onde estamos. Nossa cidade tem 1.332.570 pessoas segundo o último censo. O Uruguai tem 3.426.0000 habitantes. Somos quase meio Uruguai.
Outra comparação: o Rio Grande do Sul tem 11,29 milhões de habitantes. Portugal, 10,33 milhões. Nosso estado tem a população de um país. Não é pouca coisa. E, independentemente do tamanho, ser artista numa cidade, num estado, tem o seu valor cultural na comunidade em que essa pessoa expõe e torna público o que faz.
Se tem um alcance além da sua região, legal. Se não tem, ok. A circulação de um trabalho está condicionada a uma série de variantes, e muitas delas ultrapassam o que alguém pode dar conta individualmente.
Digo isso por ver toda uma geração de excelentes e importantes artistas da nossa cidade atuando e levando seus trabalhos, todos já perto ou passando dos sessenta anos. A morte recente do grande compositor Fernando Corona, aos 65 anos, gerou inúmeros depoimentos de músicos falando tanto do talento e da singularidade da sua maneira de compor e tocar quanto do aprendizado que tiveram nas trocas com ele. É meu parceiro em duas canções, uma delas, “Estamos Juntos”, foi gravada no meu álbum Silvestream, de Ricardo Silvestrin & Banda. Está disponível no Youtube, Spotify, Deezer, Apple Music.
Corona estava em cartaz com dois outros importantes músicos da cidade, o baterista Fernando Pezão e o cantor e genial compositor Cláudio Levitan. O trio (foto da capa) levava ao palco canções criadas a partir das tirinhas As Cobras, do Luis Fernando Verissimo.
Mario Pirata, o poeta que é parte importante da renovação da linguagem poética da nossa geração, seja nos seus livros, seja na sua atuação como performer, está atravessando problemas de saúde. A comunidade de artistas e do seu público se mobilizou com uma vaquinha para que ele pudesse comprar remédios caros que são decisivos para a manutenção da sua vida e que não estavam sendo fornecidos pela saúde pública.
São pessoas, como essas e outras tantas, que dedicaram suas vidas a se aprimorar nas suas artes. Pessoas que possibilitaram com o que criaram a formação de um circuito artístico local e de uma linguagem artística entre nós. Uma linguagem criativa que nos diz respeito, que ajuda a nos decifrar, que inspira outros a criarem e a fazerem seu caminho. E, no fim das contas, a gente vive mesmo é numa cidade.
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Foto da Capa: Divulgação | Show As cobras com algo na cabeça