Era uma manhã de março de 2019, quando a família Piazza caminhava por uma extensa área nos Campos de Cima da Serra – observavam a belíssima paisagem, conversando calmamente, ouvindo o som dos pássaros, da água corrente e absorvendo a energia dos raios de sol, por entre as árvores, iluminando o caminho – e foi surpreendida por uma nuvem de borboletas brancas. Encantados com a cena, entreolharam-se. Identificaram ali, naquele momento mágico, um sinal divino de que era o lugar que buscavam para criar o parque de flores que idealizavam. Já dizia o poeta persa Rumi: “O que você procura, também está procurando por você”, uma ideia que se concretiza quando há sintonia entre elementos humanos e cósmicos. Ithyara Piazza, diretora do Mátria, conta que os jardins sempre foram uma conexão familiar: “Há um grande amor dos descendentes por flores”. Queriam um parque, de enormes proporções, para o cultivo delas em toda a sua exuberância, cores e aromas.
Quem se criou em meio aos jardins, os carrega para sempre no coração. Falo por experiência própria. Minha mãe amava flores e as cultivava com todo o esmero em nossa casa na Zona Sul de Porto Alegre. Os canteiros, em formato de círculos, eram tão lindos e vivazes que as pessoas paravam para fotografar. Naquela época não havia muitos muros na frente das casas. O psiquiatra britânico John Bowlby afirmava que criamos um mundo louco, onde homens e mulheres dedicam energia à produção de bens materiais, quantificada em todos os nossos indicadores econômicos, enquanto a energia que investem em seus próprios lares, com relação ao desenvolvimento de crianças felizes, saudáveis e seguras, não aparece nas estatísticas. É notável que a família Piazza pontue de flores os marcadores econômicos, com seu investimento neste parque de 50 hectares e mais de nove milhões de mudas, de 300 espécies, já cultivadas em 30 canteiros e mais 12 mil árvores, inclusive frutíferas. É o maior da América Latina.
Descendentes de italianos, a família do oeste de Santa Catarina frequentava a Serra Gaúcha há muitos anos, sempre apaixonada pelo seu encanto. Das inúmeras viagens que fizeram mundo afora, os jardins os encantavam por seu esplendor e diferentes características, sendo que o norte da Itália lhes trazia mais inspiração, não só pelas flores, mas também pela experiência de parque. Assim, inicialmente pensavam em um empreendimento na Itália, mas “o local nos escolheu”, afirma Ithyara, o que somou com “um turismo muito pulsante, temperaturas adequadas para diferentes floradas, entre outros atrativos da região”. Cada um dos jardins, compostos de caminhos e canteiros, foi desenhado para se encaixar nas formas do terreno com suas típicas coxilhas. “Todo o projeto de paisagismo foi estudado por vários profissionais, fazendo com que o relevo interaja com as cores, construções, vento, calor, entre outros detalhes”, explica Ithyara.
Ao caminharmos ali, nos sentimos parte deste cenário criado e organizado em camadas, que se funde com a paisagem natural e resplandece em pura energia. Há também recantos inspiradores, como o “Jardim quase escondido”, na borda de uma mata nativa nos limites do parque, com o Meliponário, refúgio para as abelhas meliponas nativas do Rio Grande do Sul, que se distinguem pela ausência de ferrão. E o Monumento à Borboleta, com uma linda estrutura de madeira para proteção do vento e uma porção de Mata Atlântica ao fundo. Nos pomares, frutas como laranja, limão, pêssego, ameixa, pera, maçã e outras nativas como cereja do Rio Grande, guabiroba, sete-cabotes e guabiju. As placas nos convidam a colher e degustar as frutas. Há também outras placas simpáticas em que está escrito: “Pise na grama”. Piqueniques são incentivados, assim como celebrações em grupo.
Nos cuidados do parque, cerca de 70 jardineiros, em equipes de plantadores, capinadores, roçadores, estufa, entre outras funções. Os ciclos naturais são observados no contraste entre a floração nova e as que estão findando, de tons quentes e frios, destacando a beleza do envelhecer e do renascer a cada estação. Há sazonalidade em algumas equipes, dependendo do foco, como na época de maior plantio, em que aumentam os plantadores. Em abril deste ano, o Mátria foi escolhido para Embaixador do Líderes Sustentáveis, Futuro e Regeneração, em Gramado, devido a sua atuação: “Sensibilização de seus colaboradores e visitantes, buscando o cuidado extremo com a natureza, o bem-estar e os preceitos mundiais ratificados pela ONU (Organização das Nações Unidas), que alinham os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para o planeta”, diz a descrição do evento.
O Mátria mostrou como faz o manejo dos canteiros, com a reutilização de resíduos de grama para a cobertura do solo, o uso de adubo mineral e orgânico e o processo de destinação dos resíduos gerados no parque, entre outras práticas, e também as ações de responsabilidade social e governança. Ithyara destacou que o planeta Terra exige uma nova postura das empresas: “Estamos todos conectados. Os objetivos precisam assegurar os direitos humanos, agir contra as mudanças climáticas e outros tantos desafios do nosso tempo. Com os princípios da ESG, esses objetivos podem ser alcançados e gerar impactos positivos na sociedade e uma economia próspera. Nos sentimos em sintonia com este propósito”.
Foto da Capa: Acervo da Autora
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