Já encontrei altas joias da coroa em meus armários. Improváveis fotos de ex’s, trechos impublicáveis de diários confessionais, manuais de instrução de câmeras analógicas, post-it’s sem cola, camisinhas vencidas, pontas de erva no interior de latinhas de chá Lipton, até mesmo um canivete suíço empoeirado já descobri nesse limbo.
Todavia, nunca havia dado com um release (datilografado) da Rede Globo, assinado pelos jornalistas Gabriel Priolli e Astrid Fontenelle, de outubro de 1985.
Divido com vocês a minha madeleine proustiana da semana:
“FESTIVAL DOS FESTIVAIS
OS METALEIROS TAMBÉM AMAM
De: Carlos Melo e Ayrton Mugnaini Jr
Com: Língua de Trapo
Eduardo Dusek e o grupo Titãs já incursionaram competentemente pelos caminhos do rock “brega-chic”, mas nenhum deles sintetizou os elementos dessa tendência de modo tão completo como o grupo paulista Língua de Trapo na música Os Metaleiros Também Amam, de Carlos Melo e Ayrton Mugnaini Jr., classificada na eliminatória paulista do FESTIVAL DOS FESTIVAIS.
A música, que conta com uma performance hilariante do grupo, narra a paixão tempestuosa de um roqueiro heavy-metal por uma gatinha new-wave, durante o show do Rock’n’Rio. Ele, fã de Ozzy Osbourne, ela do B-52, vivem um amor que marca um novo estilo musical: o Heavy-brega.
Formado em 1979, por um grupo de estudantes de comunicação, o Língua de Trapo especializou-se em críticas mordazes e sátiras cruéis, realizando até agora mais de 400 shows e gravando dois LP’s (“Obscenas Brasileiras”, independente, e “Como é Bom Ser Punk”, RGE, recém-lançado).
Além do humor, outra característica do grupo é a variedade de ritmos musicais que manipula, da toada sertaneja aos clássicos.
O piauiense Carlos Melo, 27 anos, e o paulista Ayrton Mugnaini Jr., também 27, são as “eminências pardas” do Língua de Trapo. Eles trabalham na retaguarda do grupo, compondo muitas de suas canções, fazendo roteiros e sketches para shows, e produzindo o programa. “Rádio Matraca”, que o Língua apresenta nas tardes de sábado, na Rádio USP (FM).
Jornalistas talentosos e cínicos irrecuperáveis, Carlos e Ayrton têm um “objetivo simplista” com o FESTIVAL DOS FESTIVAIS: ficar ricos e famosos.
O grupo Língua de Trapo tem Joao Lucas (teclados, vocal), Laert Sarrumor(vocal), Lizoel Costa (cordas, vocal), Mário Campos (baixo, teclados, vocal), Nahame Casseb (bateria, percussão, vocal), Pituco (vocal) e Sérgio Gama (cordas, vocal).”
Em tempo: Carlos Melo era Carlos Castelo na época em que foi um jornalista talentoso e um cínico irrecuperável.
Veja AQUI a apresentação do Língua de Trapo na semifinal do Festival dos Festivais.