Pesquei uma breve fala do poeta Leonardo Antunes no lançamento do seu mais recente livro, Regressos, na livraria Paralelo 30, em Porto Alegre. O poeta disse que esse era seu primeiro livro que reunia poemas esparsos. Os outros livros com sua produção eram todos com poemas que formavam uma unidade.
Casa dos Poetas, Lícidas e João & Maria, seus três volumes anteriores, são o que se pode chamar de poema-livro. Já Regressos é um livro de poemas. Por exemplo, João & Maria é uma coroa de sonetos. O último verso de cada poema é o primeiro verso do poema seguinte. E todos desenvolvem a história dos personagens que nomeiam o livro. É como se fosse um único poema longo, dividido em partes.
Leonardo disse que prefere construir livros dessa maneira, a do poema-livro. Sentiu um pouco de dificuldade para agrupar os poemas esparsos de Regressos. Optou por fazer sessões por temas: Poética, Amor, Saudade, Noturno, Tempo, Família. E que, se reunir novos poemas avulsos, gostaria de ir incluindo todos em novas edições ampliadas do mesmo Regressos.
Gosto muito da presença do Leonardo Antunes na poesia brasileira contemporânea, seja como poeta ou como tradutor. E também da sua proximidade, esse paulista que veio lecionar na Letras da UFRGS. Gosto tanto que foi meu orientador no mestrado, a quem agradeço pelo alto nível profissional e pelo agradável convívio, deixando-me sempre tranquilo e seguro para seguir até o fim a empreitada.
O que se ganha como leitor desse seu livro de poemas? Tal como nos outros, temos um esteta com grande conhecimento e habilidade na construção do verso, seja metrificado, o que predomina em toda sua poesia, seja nos poucos de verso livre. Seu conhecimento e diálogo com a literatura grega, de que é especialista, aparecem também, como neste: “vivendo aprendendo coisas dolorosas”/seria um bom final de um bom poema/que há vários dias tento arquitetar,/mas não consigo; falta força, falta/fôlego, perspectiva, algum sentido -/afundo-me em profundo descaminho.//talvez alguém pudesse, gentilmente,/traduzir meu poema para o grego/e perdê-lo nalgum papiro roto,/quase todo ilegível à exceção/de um único brilhante verso meu:/”vivendo aprendendo coisas dolorosas”.
Em Regressos, a novidade é que a vivência e o aprendizado dessas coisas dolorosas são o motivo de vários poemas. O tom pessoal percorre o livro conseguindo, sobretudo na seção final, que trata das relações familiares, um raro equilíbrio entre uma rigorosa construção formal e uma alta carga emocional. Há também os mais ternos e amorosos, os mais filosofantes, compondo um todo que poderia construir uma unidade que está contida no próprio título. Há um regresso, um revisitar ao que ficou guardado e agora vem à tona em forma de poesia. Vejamos isso nas sua próprias palavras: “lentamente// conforme o tempo passa//eu me torno inteiramente pronto/para tudo aquilo cujo tempo//inevitavelmente//já passou”.
O livro saiu pela editora Martelo, de Goiânia, numa caprichada edição.