Quem acompanha meus textos aqui na Sler sabe que escrevo muito sobre o mercado da transformação digital e o seu impacto no futuro do trabalho, em especial nas possibilidades de sermos nômades e estar distantes fisicamente dos nossos mercados de atuação. Por ser brasileiro e viver em Portugal, acabo sempre comparando as realidades desses dois países e, mesmo com a proximidade óbvia de nossas culturas, dado o período “meio maluco” que o Brasil vive em seu pacto social, vira e mexe enalteço as soluções lusas frente ao caos tupiniquim.
Como estes textos vinham sendo escritos para minha leitora Eva (leia cantando, se tiver mais de 40 anos), que está no Brasil, mais especificamente em Porto Alegre, eu passava apenas por um imigrante deslumbrado. O problema é que, recentemente, comecei um mestrado na Nova SBE e meus colegas portugueses foram apresentados a esta ilustre coluna. Tive que explicar muita coisa.
Os escritos – focados em brasileiros que vivem no mercado de tecnologia e comunicação – estão há quatro anos sob o pior governo da história e há quase dez acordando todos os dias só para descobrir qual é a última crise nacional – deixaram o pessoal do além-mar estarrecido.
Para eles, e mesmo com o grande orgulho nacional, Portugal não merece tantos elogios. Tem uma economia limitada, está na periferia da Europa, impostos elevados até para os padrões nórdicos, obriga seus filhos a deixarem o país em busca de oportunidades profissionais, só para citar algumas das reclamações.
Uma comparação recorrente é com a Irlanda, que tem história e população parecidas com a portuguesa. Mas, a política fiscal, a educação, o rendimento per capita irlandeses, só para citar alguns exemplos, são muito melhores desde muito tempo. Acho que, se isto fosse um jogo do tipo Super Trunfo, os portugueses só ganhariam nas categorias clima, ondas e gastronomia.
Para entrar nos números, recomendo o ótimo texto da articulista Bárbada Reis, no Jornal Público: “A Irlanda já era rica quando era pobre” (só para assinantes).
Como sou o único brasileiro em uma turma repleta de executivos portugueses que vivem aqui e em outros países da Europa, calo e ouço (o que é difícil para mim, tenho que confessar). Concordo com quase tudo, e, sempre que posso, explico que, quando exalto pontos positivos, nem de longe quero afirmar que tudo são flores deste outro lado do Atlântico.
Digo que sei – com menos profundidade do que eles, é claro – das dificuldades portuguesas, mas é natural que destaque o que me chama a atenção frente à realidade brasileira. E, avaliar o Brasil de fora, me ajuda a evitar a dormência que vêm com a tranquilidade de quem pode olhar o mundo inteiro como um estrangeiro.
Por fim, quando meus críticos não aceitam minhas explicações sobre porque elogio Portugal, uso meu argumento derradeiro: se quiser que Portugal melhore, nasça pobre e no Brasil. É como minha mulher sempre diz: “Para parecer bonito, ande com gente mais feia do que você”.
E, em tempo, registro que a partir de agora, a leitora Eva ganhou um co-irmão luso. Vasco passa a ser também leitor focal dos meus artigos aqui publicados.