Começo olhando para trás. Afinal, sempre é bom dar uma olhadinha no retrovisor e ter certeza de que estamos superando obstáculos com segurança para seguir em frente. Com certeza, você (tem alguém aí??) identificou no título ali em cima, o jornalista e escritor Sergio Porto que, sob o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, atazanava os reacionários e corruptos nacionais e internacionais na década de 60 do século passado.
Uma vez, cansado de muitas notícias de corrupção, Stanislaw criou – há quem diga que adaptou de Ruy Barbosa – o que viraria quase um bordão:
– Ou restaura-se a moralidade, ou nos locupletemos todos!
Mais uma olhadinha no retrovisor, até para ter certeza de que andamos no caminho certo em busca da moralidade. Do Stanislaw para cá, nós restauramos a democracia, elegemos cinco presidentes da República. Impichamos dois. Um, por corrupção. A outra, muito mais por falta de articulação política.
Dos cinco, só dois não se reelegeram. Fernando Collor, que foi acusado de corrupção e cassado, e o capitão da reserva Jair Bolsonaro, que enganou algumas pessoas durante algum tempo e pensou que conseguiria enganar todo mundo o tempo que quisesse…(lembra disso? Você pode enganar algumas pessoas o tempo todo ou todas as pessoas durante algum tempo, mas você não pode enganar todas as pessoas o tempo todo. Frases atribuídas a muita gente, de Abraham Lincoln a desconhecidos…)
Olho para a frente. Estamos chegando na curva para entrar na segunda volta do terceiro mandato de Luís Inácio Lula da Silva que só não disputou duas das nove eleições desde a redemocratização. Uma em 2010 porque não podia. Já tinha sido reeleito. Mas elegeu Dilma. A outra, em 2018, porque cumpria condenação que acabou anulada…Ganhou a terceira em 2022.
E Lula, agora, precisa enfrentar a praga que derrotou o candidato dele – Haddad – em 2018 e fez da eleição de 2022 a mais dura de todas: a polarização, a política do voto no fulano, não porque apoio fulano, mas porque não quero beltrano no poder.
Em 2018, foi assim: vamos de Bolsonaro para derrotar o candidato do Lula. Em 2022, tivemos o repeteco ao contrário: vamos de Lula porque não dá para seguir com Bolsonaro…
E vamos entrar no segundo ano do terceiro governo Lula vendo o já velho filme do bolsonarismo contra o lulismo e vice-versa.
E, o mais incrível, essa polarização se dá num cenário de 21 partidos políticos representados na Câmara dos Deputados, 12 com bancadas no Senado Federal e 11 ocupando ministérios no governo Lula.
Como explicar polarização numa fragmentação dessas? Simples falta de interesse. Lembro aqui que, segundo uma pesquisa recente, só 20 % dos brasileiros têm simpatia por algum partido político. O Brasil tem 33 legendas registradas no TSE. Em 2022, mais de 160 milhões de pessoas estavam aptas a votar. Agora, sabe quantos filiados têm essas 33 legendas? Pouco mais de 15 milhões. E apenas sete têm mais de um milhão de filiados… Indiferença quase absoluta, não?
E a culpa disso, de quem é? Dos próprios partidos que, na grande maioria, não têm nenhuma consistência ideológica, são mais ajuntamentos de pessoas em defesa de interesses setoriais, regionais e até pessoais e que pouco se lixam para os grandes problemas nacionais. Se você é, ou já foi filiado a algum partido me diga: quantas vezes você foi procurado para debater, para opinar sobre os programas do partido, para sugerir políticas públicas?
Articulador político hábil e pragmático – desde os tempos de sindicalista –, Lula leva o governo como quem pilota um grande ônibus. Alheio à polarização que trava o debate político, atrasa políticas públicas e é semente de autoritarismo, o tri presidente vai recolhendo pelo caminho todos os que ele julga poderem ajudar. Se souber administrar todos os pedágios que precisa pagar nessa jornada, Lula pode chegar a 2026 como o presidente que requalificou a política nacional.
Então senhoras e senhores líderes políticos, ou vocês restauram a racionalidade, ou nos radicalizaremos todos. E aí, azar é seu!