A deputada Alê Portela publicou no Instagram a chamada do filme entrecortada com faixas: “NÃO É PARA O PÚBLICO INFANTIL”, apesar que a classificação indicativa de Barbie sempre foi pra maiores de 12 anos (lógica e bolsonarismo não ficam à vontade na mesma frase). Também alertou que o filme lida com “assédio, prisão, bebidas alcóolicas e profundas reflexões sobre sua existência”, sem contar que foi produzido para “adultos nostálgicos e promove histórias de personagens lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros”.
O impressionante (sic) Abraham Weintraub publicou que não é a primeira vez que o nome Barbie está a serviço do demônio, o filme seguiria o mesmo caminho do Klaus Barbie, da SS nazista, conhecido como o carniceiro de Lyon. O ex-Ministro da Educação, que já chamou a mãe de uma usuária do Twitter de égua sarnenta e postou comentários xenofóbicos contra China, disparou: “Protejam seus filhos de qualquer linha ideológica de Barbie! Da antiga ou da atual!”
Daí a mesma turma que ironizava pessoas sufocando nos próprios fluídos na pandemia, 570 crianças ianomâmis mortas de fomes e/ou envenenadas por garimpeiros, passou a ter ataques de pelanca com a potencial influência do filme da boneca no público infantil que, pela classificação indicativa, sequer assistirá o filme.
Fico imaginando como seria a Barbie ideal dos bolsonaristas…
A primeira providência seria se livrar da Margot Robbie, pois, além de bonita, é uma mulher inteligente, escolhida uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2017, que com 16 anos tinha três empregos, mesmo assim conseguiu tempo para estudar teatro, além de já ter sido indicada a dois Oscares, quatro Globos de Ouro e cinco Baftas (British Academy Film Awards).
O perfil ideal pros Patriotas seria alguém do biotipo da Damares Alves, sem grandes belezas aparentes (e ocultas), crente, anticiência, antivacina, anti-indígena, antiquilombola, antiminoria, sempre disposta a denunciar o abuso de crianças na fronteira da Ilha de Marajó com a Guaiana (locais que no mapa dos comunistas não são limítrofes).
O filme se passaria em Ratanabá, a pátria mítica dos conservadores, onde a Damares-Barbie seria uma recatada esposa do lar, dependente do marido, Ken, pastor de uma franquia da igreja evangélica da Lagoinha com problemas com a bebida. Ken seria um mestiço que exalta sua improvável descendência alemã e possui sérias restrições com quilombolas e outras minorias que segundo ele usam sua condição para se vitimizar e pleitear vantagens.
A Barbie-Crente teria oito filhos, invariavelmente concebidos durante alguma bebedeira do Ken.
O filme começaria com uma greve de fome da boneca contra a professora de Biologia que se nega a lecionar o criacionismo na escola, insistindo naquele demoníaco darwinismo com seus macacos (aff, criado à imagem de Deus!), e o professor de História gay que estão tentando impor aos seus filhos.
Quando a escola decide capitular depois dos carros dos professores terem sido incendiados e seus nomes divulgados nas redes sociais com acusações falsas de pedofilia e satanismo, Barbie vai de surpresa até a igreja do Ken contar a novidade e o flagra de cinta-liga vermelha sendo empalado pelo travesti para o qual estava ministrando a cura gay. Depois de uma rápida discussão, o marido convence Barbie que tinha sido enfeitiçado e, pra não deixar dúvida, dá três tiros no veado. O casal reconciliado limpa o sangue do chão sagrado, esquarteja o imoral, coloca numa mala, abandona a mala no pátio de um petista e faz uma ligação anônima pra polícia pra comunicar o homicídio.
Daquele dia em diante, nas raras ocasiões em que o casal teve momentos íntimos, que acontecem invariavelmente quando ele se excede muito na bebida, o Ken sussurra trocando o nome da esposa: – Geraldo, Geraldão… Como boa esposa que é, Barbie sabe que ainda deve ser efeito do feitiço daquela bichinha.
Barbie também enfrenta a justiça esquerdista que tenta tirar a guarda dos seus filhos por se negar a vaciná-los contra a COVID, mesmo depois de três deles terem morrido durante a pandemia. No final, consegue se livrar com uma carteira falsificada de vacinação conseguido pelo assessor do presidente da república.
O filme também tem um trecho político mostrando a eleição brasileira entre Lula e Bolsonaro, com depois do primeiro turno Ken indo acampar na frente de quartel e aparecendo no jornal local comandando uma oração coletiva na frente de um pneu de trator. Barbie comemora em silêncio o que sabe ser o começo de uma carreira política de sucesso para Ken que aparentemente se livrou do feitiço do travesti.
O filme tem uma reviravolta depois do Ken, bastante alterado, aparecer no 08 de janeiro no Jornal Nacional cagando numa obra de Aleijadinho durante a invasão do STF e acabar preso no dia seguinte (ela fica pensando se aquilo pode ter a ver com o remédio pra rinite que Ken cheira várias vezes ao dia). Barbie entra em desespero ao constatar que, mesmo pegando o dinheiro do transporte das crianças com câncer pra quimioterapia arrecadados pela igreja, a família no máximo conseguirá sobreviver por um mês.
Desesperada, Barbie procura emprego na Havan, mas recebe a informação que o Hang passou a apoiar o Lula e não quer ligação com ninguém relacionado ao seu Jair. No grupo do Telegram, onde vários políticos planejavam a intervenção militar, o silêncio é completo. Ninguém atende o telefone ou as mensagens, ficam só postando apoio nas redes sociais.
O filme reforça a importância da família quando o filho de Barbie, a vendo chorar desesperada por não conseguir sustentar a casa, a abraça e diz para ela não se preocupar. Ele está vendendo umas paradinhas na escola que o amigo colombiano dele repassa, e vai garantir a grana necessária pra o sustendo de todos. Ele também conta que aqueles amigos ex-policiais do Ken, que trabalham com televisão a cabo alternativa e vendem segurança no bairro, todos cristãos e cidadãos de bem, jamais deixarão faltar nada dentro de casa.
A família tem um alento ao saber que um grupo de conservadores, liderados pelo Senador Girão, estão indo à Nova Iorque denunciar a prisão ilegal dos Patriotas no 08/01, o que pode libertar Ken da Papuda. A esperança vai embora depois de saberem que a ONU que recebe esse tipo de denúncia fica na Suíça: os políticos erraram o continente.
No final Ken é solto por Alexandre de Moraes com uso de tornozeleira, a família se reúne novamente e a Igreja é reaberta anunciando a volta da cura gay. A noite a família toda vai colocar fogo num Terreiro de Umbanda instalado nas proximidades da Igreja enquanto Ken estava preso.