Nunca é tarde para ser feliz. Essa é uma frase que se tornou quase um bordão, mas que também é uma das conclusões do estudo de Harvard a respeito de como viver mais e melhor: a gente está apto a aprender em qualquer momento da vida.
E se tivesse que tomar uma decisão apenas para se ter mais saúde, felicidade e qualidade de vida, essa pesquisa que começou lá em 1938 ensina que se deveria escolher ter vínculos de qualidade. Mas, afinal, o que significa isso?
Uma criança talvez dirá quase diariamente que encontrou um novo amigo, na escola, na área comum do condomínio, na pracinha do parque, nos corredores do supermercado, por onde andar. E até a nossa juventude, o processo de colheita de novas amizades é farto e fácil. Natural.
Com o passar do tempo, a conquista de novas amizades parece se tornar mais complexa. Vamos esquecendo aquela naturalidade. Outras dimensões da vida vão nos consumindo e a gente não só vai diminuindo o processo de conquista como perdendo aqueles que amealhou por falta de manutenção (incluindo casamento). Afinal, é preciso cuidar das relações para que elas se mantenham e floresçam.
Outro aspecto é que, mesmo que tenhamos muita gente ao redor, podemos nos sentir solitários, em meio a muitos amigos, familiares e nosso amor. Quantidade não é qualidade.
Também há quem conviva num círculo pequeno e não se sinta solitário, pois cultiva laços profundos com essas pessoas. Lembra que, no estudo de Harvard que citei ali em cima, o que importa são os vínculos significativos.
Então, te convido a pensar nas tuas relações. Você tem conexões que te fazem feliz? Na quantidade que acha suficiente e na qualidade que te faz sentir acolhido/a, amado/a, seguro/a? E aqui, entendendo os vínculos de amizade, familiares e amorosos também.
Quem você chamaria se adoecesse e precisasse de ajuda? Se tivesse uma crise às duas da manhã, pra quem você ligaria? Pra quem você poderia contar abertamente sobre seus sentimentos? Você está satisfeito/a com o nível de intimidade romântica da sua relação?
A manutenção de uma conexão é o grande desafio, o tempo é escasso, tudo é importante, focamos no futuro em luta com o agora, que nos chama para mil tarefas. Como investir no (des)compromisso do encontro, da conversa, do aprofundamento das relações e intimidade? Essa manutenção requer esforço concreto (tempo) e interno (atenção, empatia, gentileza, abertura para sentir, escuta). Mas vale a pena priorizar a nossa plenitude e bem-estar, concorda?
Por ocasião do Dia das Mães, o The New York Times publicou uma reportagem com perguntas sugeridas por pesquisadores e especialistas na área da comunicação e psicologia, no sentido de inspirar uma conversa mais profunda, estimulante entre mães e filhos. Lendo, percebi que essas perguntas podem ser adaptadas para qualquer tipo de relacionamento, perfeitamente. Elas seguem abaixo (foram livremente traduzidas por mim). Também inclui os links para os especialistas que têm livros publicados (em inglês apenas, a maioria).
1. De todas as pessoas vivas com quem você não tem mais contato, qual é a pessoa com quem você era mais próximo? Por que vocês não têm mais contato?
2. Quando você era criança, o que achava emocionante na perspectiva de envelhecer?
Eli J. Finkel, prof. de psicologia social da Universidade de Northwestern.
3. Quando você percebeu que era adulta/o? (Quais sinais espera para perceber que será um/a adulto/a?)
Prentis Hemphill, psicoterapeuta e autora do livro “What It Takes to Heal”
4. O que é algo que você jurou que nunca faria como pai/mãe, mas fez mesmo assim?
5. Qual era sua roupa favorita quando criança e por quê?
6. Quem fez você se sentir vista/o quando você estava crescendo?
Priya Parker, autora do livro “A Arte dos Encontros”.
7. O que você mais ama em ser mãe/pai/filho/filha agora?
Karen Fingerman, professora de desenvolvimento humano e ciências da família em Austin.
8. Quais são algumas das músicas mais memoráveis da sua vida e o que elas significam para você?
Alison Wood Brooks, professor da Harvard Business School e autor do livro.
9. Qual grande evento ou realização moldou quem você é?
Roni Cohen-Sandler, psicólogo clínico e autor do livro “Anything But My Phone, Mom!”
10. Quem era sua/seu melhor amiga/o quando eu era bebê?
Jaimie Arona Krems, professora de psicologia social na U.C.L.A.
11. Qual é o seu elogio favorito e por quê?
Alexandra Solomon, psicoterapeuta e autora do livro “Love Every Day”.
12. Se você pudesse refazer qualquer período da sua vida, qual seria e por quê?
Anthony Chambers, psicólogo no Instituto da Família da Universidade Northwestern.
13. Se nossa família criasse uma cápsula do tempo e você tivesse que escolher um item para incluir para futuros descendentes, qual seria esse item e por quê?
Dr. Judith Joseph, autora do livro “High Functioning”.
14. Você teve algum apelido quando era mais jovem que eu não saiba? Qual é a história por trás dele?
15. Como podemos passar um tempo significativo juntos/as?
Erin Engle, psicóloga do Centro Médico Irving da Universidade Presbiteriana de Nova York/Columbia.
Fica a sugestão de você as utilizar nos encontros de família, com seu/sua parceiro/a amoroso/a ou no grupo de amigas/os. Você pode usá-las aos poucos, adaptá-las ao contexto, até mesmo ir por conversa de whats… e com elas ir descobrindo mais sobre as pessoas com quem você se relaciona, ampliar e aprofundar seu vínculo e sua intimidade, ser mais feliz com elas.
Todos os textos de Karen Farias estão AQUI.
Foto da Capa: Freepik.