Uma história semelhante a um conto — essa foi a definição que encontrei para a palavra semiconto em uma breve pesquisa na internet. Até então, eu desconhecia essa classificação de textos literários, que só se revelou para mim durante a leitura de Para as mulheres que…, da autora Cecília Këmel, publicado em 2023 pela Editora Bestiário. Antes disso, meu conhecimento se limitava a contos, microcontos ou minicontos, que possuem estruturas similares e se diferenciam basicamente pela quantidade de palavras ou caracteres. Mas semiconto? Esse termo era algo completamente novo e, ao mesmo tempo, fascinante. Após ler a obra de Cecília, consegui compreender, pela essência de sua escrita, o motivo pelo qual ela escolheu nomear seus textos dessa forma.
Um título seguido de reticências e uma infinidade de perguntas sobre o que virá a seguir. Assim começa esse livro enigmático. Quem são essas mulheres para quem a autora escreve? A quem ela dedica os seus semicontos, que poderiam também ser chamados de relatos de experiências, desafios, reflexões… (aqui, atrevo-me a imitar suas reticências)? Eu arriscaria dizer que Cecília escreve para mulheres que amam, odeiam, sentem raiva, dor, desconforto, alegria, compaixão, ou seja, para toda e qualquer mulher, de qualquer idade, cor ou classe social. À medida que mergulhei nas histórias, percebi que a autora não se dirige a uma mulher em particular, mas a todas aquelas que se veem refletidas nas delicadas tramas da vida cotidiana, nos pequenos dramas e nas grandes emoções que Cecília captura com tanta sensibilidade. Tantas situações em que, muitas vezes, me vi envolvida e, por isso, assim como outras mulheres, também me identifiquei. Trago como exemplo o trecho de Desfecho: “Não escrevo para morrer: escrevo para viver”, que exemplifica algo muito latente em mim. Quando, em 2019, decidi sair do armário que aprisionava a escritora que, desde sempre, me habitou, passei a me valer do mote escrever para não morrer para me atirar de vez nesse caminho sem volta. Desde então, renovo-me a cada novo desafio capaz de me tirar da tão comentada “zona de conforto” que, de confortável, não tem nada; caso contrário, não despertaria em mim essa imensa vontade de extrapolar através da escrita.
Os textos de Cecília trazem à tona vivências como o início e o término de um relacionamento, uma despedida, ou um sábado à noite de um casal em frente à televisão. Com relatos em primeira pessoa, essas narrativas não apenas destacam a força e a resiliência feminina, mas também desafiam os padrões que a sociedade impõe. Cada semiconto é uma porta aberta para o íntimo, um convite para explorar sentimentos que, muitas vezes, não são ditos. O livro, com sua sutileza e elegância, dialoga com qualquer pessoa disposta a mergulhar no universo emocional que a autora tão habilmente constrói.
Para as mulheres que… é mais do que um livro; é um manifesto silencioso que nos instiga a ouvir e acolher as histórias umas das outras. A obra de Këmel é um convite para que cada mulher se reconheça e encontre sua voz em meio ao eco das reticências.
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Foto da Capa: Gerada por IA