Essa poderia ser uma pergunta filosófica, transcendental, tipo “para onde caminha a humanidade”. Ou o mote de um artigo com fundo estético, crítico, “para onde se projeta a sua música, que caminhos ela está seguindo”. Mas não. É uma pergunta cuja resposta é geográfica, biográfica, factual.
Frank, nosso amigo do amigo punk, está de muda para Buenos Aires. O que vai fazer lá ainda não sei. Mas saber que vai embora já é impacto suficiente.
Frank Jorge dos Cascavelettes, da Graforréia Xilarmônica, da Júlio Reny e a Guitar Band, dos Cowboys Espirituais, da carreira solo, dos showzaços no Ocidente. E também o coordenador do curso de produção musical da Unisinos.
Aliás, ele me convidou pra ver seu maravilhoso show na quarta passada, no excelente Teatro da Unisinos, com o Alemão Birk na bateria, o Régis Sam no baixo e um chiquérrimo naipe de sopros. Recebeu homenagem de seus alunos e da faculdade onde atuou por dezesseis anos. Recebeu os aplausos e o carinho do público.
Encerra pra ele um ciclo. E se abre outro. Mas lá na Argentina. Uma vez escrevi um artigo em que eu dizia que não devemos nos acostumar com Frank Jorge.
Eu falava que, como o vemos por aqui com frequência, poderíamos acabar achando normal que exista alguém como ele, com todo o seu enorme talento para criar melodias que a gente canta junto, que sobem, descem, passeiam pelo ar. De criar letras cheias de surpresas, de ironias, de crônicas e críticas ao que nos cerca.
Poderíamos achar normal e até mesmo esperado que ele sempre trouxesse novas composições de alta criatividade. Pois é. Agora teremos que nos acostumar a não ter o Frank por perto. Quando pensarmos, quando é que ele vai fazer um show pra gente ir, a resposta já vai ficar mais difícil.
Frank vai embora e leva com ele um pedaço da nossa velha juventude. Da nossa bossa de alternativo da Osvaldo Aranha. Da nossa comunidade secreta de sobreviventes à caretice porto-alegrense.
Amigo Frank, escute esse meu desabafo! A sua partida dá uma chacoalhada nas nossas próprias vidas. E já nos coloca aí sim imersos em questões filosóficas, existencialistas: “para onde estamos indo?”, “o que continuamos fazendo por aqui?”.