Chegou. Aquele momento que achamos que nunca viria, chegou. O dia hoje acordou diferente. Nosso ninho está vazio. Oficialmente vazio.
Dizem que o filho do meio é o mais difícil, o que mais demanda dos pais por se sentir um pouco perdido entre o primogênito e a caçula. Eu digo que você é muito mais do que qualquer teoria. É o mais forte justamente por ser o mais sensível. É o mais amoroso, mesmo sem saber muitas vezes como expressar esse sentimento. É o que mais tempo ficou em casa. Talvez por isso seja também o que mais nos conhece. Com sua saída, você leva o que restava dos seus irmãos. Sim, apesar de tão diferentes, vocês todos levam dentro um pouquinho uns dos outros. Agora vocês três voaram. Agora somos dois novamente.
Vamos ter que aprender a viver com a casa inteira só para nós, afinal só tivemos essa experiência por pouquíssimo tempo. Nossa família começou praticamente ao mesmo tempo que minha convivência com o pai de vocês, por isso não posso dizer que será um “reaprender”, e sim um “aprender” genuíno. Estamos no primeiro dia de aula do jardim de infância da vida de casal – sem filhos.
A pia cheia de louça, as roupas espalhadas pelo quarto, as tolhas molhadas em cima da cama ficaram para trás. “Onde você vai?” “A que horas volta?” “Não está com frio?” “Vai se atrasar também!” “Mãe, tô com fome!” “Onde está minha camisa?” “O que tem para comer hoje?” “Apaga a luz do quarto!” “Você vai morar no chuveiro?”
Estas e tantas outras pequenas coisas da convivência ficam agora na memória. É claro que vamos ainda nos reunir inúmeras vezes, mas como diz Lulu Santos, “nada do que foi será do jeito que já foi um dia”. Vocês cresceram e estão prontos para criar novos ninhos.
Se vocês tiveram medo ao tomar a decisão da partida, saibam que eu estava mergulhada nele ao receber a notícia. Se vocês se sentiram inseguros, saibam que passei horas e horas dos meus dias com esta sensação. Nunca é fácil equilibrar “o que eu quero alcançar” e “o que não quero deixar”. Deixar a casa dos pais dói. Deixar que os filhos saiam também.
A nossa história foi construída em conjunto, entre erros e acertos. Agora, quando se desfaz o último elo da nossa convivência diária, quero acreditar que fiz o melhor que pude nesse papel de mãe.
Sempre fui a mais brigona, a mais estressada, a que cobrava mais, a que mais reclamava. Talvez aos olhos de vocês eu não tenha sido carinhosa o suficiente, compreensível o suficiente, cuidadosa o suficiente, mas acreditem que não foi por falta de amor. É que ser mãe também é um grande desafio e um aprendizado constante.
Há uma canção antiga que diz “passarinho na gaiola fez um buraquinho, voou, voou, voou, voou, e a menina, que gostava tanto do bichinho, chorou, chorou, chorou…”. Passei o dia todo cantarolando mentalmente essa música. Meus três passarinhos partiram.
Esta não é para ser uma carta triste, apesar de estar sendo escrita entre lágrimas. É apenas uma tentativa de organizar os sentimentos que me habitam neste momento.
Quero que saibam que há aprendizados muito bonitos nas transições da vida, um deles talvez seja nos darmos conta de que o amor se torna mais forte quando decidimos não prender a vida.
Feliz vida, meus filhos. Sigam voando alto e aproveitem os bons ventos. A casa está sempre de portas abertas. E coração, então, nem se fala, este vive escancarado.
Com amor, mamãe…
Foto da Capa: Pexels
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