Uma história de escalada em família
Era o meio, quase final de uma tarde linda de escalada, nos encontrávamos no grande platô da Pedra da Abelha em Caçapava do Sul/RS – Os vídeos e fotos deste conteúdo são todos deste lugar incrível.
Para alcançar o platô, se faz necessário uma escalada levemente “tranquila” de uns 40 metros de altura. Neste dia escalamos nós três – Fabiane, Amanda com 10 aninhos e eu Deivis, juntamente com nossos amigos Eduardo (Bode) e Cony.
Já havíamos escalado várias vias neste platô, quando surgiu a ideia de fazer a segunda parte da Pedra da Abelha para alcançarmos o cume, ver o pôr do sol de lá e descermos logo após.
Imediatamente na minha cabeça começaram uma série de cálculos COGNITIVOS para avaliar a possibilidade de se executar esta segunda parte e descer em segurança todos – os amigos eu estava mais tranquilo, pois tinham muita experiência em situações como esta – mas especialmente a minha família, embora também tenhamos experiência, estava com a filha de 10 anos, que já tinha ao menos 4 anos de escalada em rocha, mas ainda sim, uma preocupação.
Assim, foram várias avaliações RACIONAIS:
– Experiência da equipe
– Condições da escalada
– Tempo para 5 pessoas chegarem até o cume
– Condições e tempo do retorno
– Clima
– Iluminação
– Procedimentos técnicos necessários x habilidade x condições de execução (noite)
Todos os cálculos que realizei me levaram a concluir que não seria de grandes riscos, exceto o momento do retorno, da descida, pois partes dela seria feito com pouco ou, se tivéssemos algum atraso na operação, com praticamente nenhuma iluminação, exceto pelas lanternas de cabeça que já havia conferido que todos estavam com as suas em plenas condições de uso.
Enfim, tudo aquilo que poderia atribuir algum risco importante e qual o grau final deste risco para a tomada de decisão de subir ao cume ou não, já haviam sido avaliados e a decisão já poderia ser tomada por mim, em nome da minha família.
Porém, mesmo após ter feito todas as avaliações e a decisão estar perto de ser tomada, favorecendo a subida ao cume que traria um momento de contemplação do final do dia, absolutamente excepcional, algo me ocorreu!
Como se um outro “sentido” trouxesse um conjunto de informações totalmente novas que, reavaliaram todo o cenário, sob uma outra perspectiva absolutamente diferente:
– O cume estava a não mais que 15/20 metros de onde nos encontrávamos, ou seja, próximo da gente
– O visual que já tínhamos era muito incrível – a diferença não seria substancial
– Os componentes de risco existentes justificariam esta diferença?
– Por mais insignificante que fossem os riscos, caso ocorressem, qual seria a visão da Amanda com seus 10 anos de idade? Estaria preparada emocionalmente para tratar desta situação? Eventuais situações adversas, tranquilas para o grupo de adultos experientes, mas e para uma criança desta idade? Qual seria a memória a ser gravada, POSITIVA ou NEGATIVA?
Entre outras tantas ponderações… e como você já pode ter notado, agora praticamente TODAS são de CUNHO EMOCIONAL.
O que estava ocorrendo comigo, neste exato momento era a IMPORTANTE UNIÃO que temos com os nossos “VÁRIOS CÉREBROS”, neste caso o RACIONAL e o EMOCIONAL.
Qual a decisão tomada ao final?
Não subir ao cume e regressar do platô que nos encontrávamos.
>> Clique ne LINK para assistir Amanda Criscuoli e Eduardo (Bode) no rapel da Via De Filho para Pai – Pedra da Abelha – Caçapava do Sul/RS
Unindo os “vários cérebros” para a tomada de decisão
Você pode achar que a minha decisão foi puramente RACIONAL, mas não foi!
Eu já tinha me decidido favorável a subir ao cume com todos, antes de ocorrer a conexão entre os DOIS CÉREBROS: o RACIONAL e o EMOCIONAL.
A decisão foi 100% baseada num aspecto que apareceu após a DECISÃO RACIONAL ter sido tomada, e ainda não anunciada para todos…
Um momento de encontro total com as EMOÇÕES que me guiaram para outra análise e conclusão que praticamente zerasse qualquer possibilidade de adicionar mais riscos aquela aventura, levando minha família retornar em total proteção e com as emoções que julguei que deveria preservar em todos.
O custo-benefício não compensaria, eu precisava PRESERVAR A MEMÓRIA POSITIVA FORMADA NA MINHA FILHA, A QUALQUER CUSTO!!
Ela simplesmente tinha passado o dia literalmente nas NUVENS!! Alguns dos comentários ao longo do dia:
- Primeira vez que guio (ser o líder numa escalada) uma via tão alta!!
- Primeira vez que eu escalo com a minha mochila nas costas!
- Nunca tinha visto um lugar tão lindo!!
Ou seja, um acúmulo incrível de MEMÓRIAS POSITIVAS.
[Foto Amanda Criscuoli guiando a Via De Filho para Pai – Pedra da Abelha – Caçapava do Sul/RS – Acervo Pessoal]
Alguns chamariam isto de uma decisão de AMOR, mas afirmo que mais que isto, é como se fosse uma “INTUIÇÃO” que vem das nossas EMOÇÕES, que atestam a FORÇA e o PODER que as mesmas exercem, na EXISTÊNCIA HUMANA.
Neste caso o AMOR ALTRUÍSTICO e as diversas outras EMOÇÕES e suas inúmeras variantes: MEDO, PRESERVAÇÃO…
Daniel Goleman, no seu livro INTELIGÊNCIA EMOCIONAL – A TEORIA REVOLUCIONÁRIA QUE REDEFINE O QUE É SER INTELIGENTE, traz a luz correta sobre esta abordagem:
“Isso indica que nossos mais profundos sentimentos, as nossas paixões e anseios são diretrizes essenciais e que nossa espécie deve grande parte de sua existência à força que eles representam nas questões humanas.”
E ele avança tornando claro que, os especialistas, ao investigarem por que a evolução da espécie humana deu as EMOÇÕES um papel tão relevante em nosso psiquismo, concluíram que ocorreu uma clara ascendência do CORAÇÃO sobre a RAZÃO.
São as nossas EMOÇÕES, relatam os pesquisadores, que em situações de perigo, diante da dor da perda, da probabilidade da perda de perspectiva nas decisões, na formação de uma família, nos ORIENTARÃO, nos darão os CAMINHOS adequados para AVANÇARMOS.
Esta é uma das grandes razões pelo qual temos trazido este tema das EMOÇÕES e da INTELIGÊNCIA EMOCIONAL em nosso conteúdo e aqui na plataforma, pois a correta IDENTIFICAÇÃO, o uso e o balanço ADEQUADO entre a EMOÇÃO e a RAZÃO, é o que irá nos permitir tomar as melhores DECISÕES em nossas vidas, fazendo com que possamos cada vez mais avançar para fora das ZONAS DE CONFORTO e MEDO e avançando EM SEGURANÇA para as ZONAS DE APRENDIZAGEM e de ALTA PERFORMANCE.
“Uma visão da natureza humana que ignore o PODER DAS EMOÇÕES é lamentavelmente MÍOPE” Daniel Goleman
Fica claro aqui que estabelecermos a conexão entre nosso HEMISFÉRIOS e mais ainda nossos QUADRANTES CEREBRAIS é de EXTREMA IMPORTÂNCIA.
Para isto precisamos EXERCITAR, CRIAR CONSCIÊNCIA sobre nossas EMOÇÕES e DESENVOLVER a nossa INTELIGÊNCIA EMOCIONAL com a mesma DEDICAÇÃO, TEMPO e ESFORÇO que atribuímos ao desenvolvimento de nossas habilidades, nosso RACIONAL/COGNITIVO.
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O resultado da história que contei acima foi todo documentado neste vídeo incrível que produzimos e está disponível abaixo e aqui no Canal do YouTube da Amanda.
Clique na imagem para assistir o vídeo.
Assista pois é um relato muito bacana, de uma jovem com 10 anos de idade, dando seus primeiros passos na Escala Esportiva e descobrindo a VIDA AO AR LIVRE.
QUESTIONAMENTO FINAL
Agora finalizo, com o seguinte questionamento:
“E se eu tivesse tomado a decisão puramente RACIONAL? Sei que não teria ocorrido nenhum risco maior, mas e se ao final a EXPERIÊNCIA EMOCIONAL tivesse sido NEGATIVA, que consequências teria trazido para o futuro da escalada da Amanda? Hoje uma jovem que aos 15 anos é referência nacional na Escalada Esportiva em Rocha, reconhecida, premiada e com uma brilhante carreira pela frente!”