Há alguns dias estive em um restaurante no litoral e recebi, junto a um copo de drinque, um bilhetinho escrito “Viva o hoje”. A ideia de vivenciar o presente, de viver com intensidade o momento, realmente é uma ótima maneira de ampliar as sensações do aqui e agora.
Curtir os amigos, a família, a natureza, aproveitar um livro, um filme, um passeio, um beijo, uma refeição feita com carinho: toda essa coleção de coisas simples e cotidianas da vida trazem satisfação e formam o quebra-cabeça do que podemos chamar de felicidade. No entanto, acredito que o bilhete no copo de drinque quisesse dizer algo mais do que isso.
Os anúncios patrocinados do Instagram, as propagandas diversas nas mídias digitais, no YouTube, na TV e no mobiliário urbano, a todo instante, nos bombardeiam com imperativos como “beba a felicidade”, compre, gaste, coma, vista, consuma… De preferência, faça tudo isso hoje, nem pense no amanhã.
É com esse pensamento que chegamos a esse momento crucial do nosso Planeta. O ano passado foi considerado o mais quente já registrado. Todos os dias de 2023 ficaram 1°C acima do nível pré-industrial e ao menos durante a metade do ano os termômetros ultrapassaram 1,5°C, limite estabelecido no Acordo de Paris como crítico para evitar a crise global.
As mudanças climáticas são uma realidade. Destruímos florestas para o garimpo e a pecuária, injetamos veneno nos alimentos que plantamos, poluímos nossos oceanos com canudinhos, sacolas, embalagens e plásticos de toda ordem. Esbanjamos fast fashion, fast food, cultuamos produtos de luxo, infectamos o próprio ar que respiramos, buscamos um crescimento econômico incompatível com a preservação da biodiversidade.
E como, tristemente, observamos no grupo de resíduos do POA Inquieta, reciclamos pouco do que descartamos e produzimos, em grande escala, resíduos que não são recicláveis e viajam movidos a combustíveis fósseis para serem enterrados longe dos nossos olhos.
Enquanto o ser humano desfruta o presente sem medir as consequências, adota a cultura do desperdício, do consumo exacerbado e do descartável, a Terra arde em febre. Que ao longo de 2024 possamos aprender a viver o hoje de modo coletivo e a criar formas de compartilhar a existência que não comprometam nossa possibilidade de viver o amanhã.
Roberta Scheffer é servidora pública, idealista ambiental e integrante dos grupos POA Inquieta Sustentável e Resíduos.
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