Tem me feito bem assistir ao programa Avisa lá que eu vou. É apresentado pelo ator, humorista, roteirista, escritor e cantor Paulo Vieira. Passa no GNT. Assisto pelo app da Globoplay. Ali dá pra ir escolhendo os episódios e ver no horário que achar melhor. Geralmente, vejo antes de dormir.
E por que tem me feito bem? O programa leva Paulo para conhecer pessoas de pequenas cidades do Brasil. São geralmente lugares afastados das capitais, onde se vive uma vida simples, próxima ou mesmo envolta pela natureza ainda não alterada como nos grandes centros urbanos.
As pessoas têm histórias, muitas delas, ligadas a uma religiosidade bem tradicional, como cultuar santos para pedir a cura de enfermidades, numa mistura de pensamento mágico em que não faltam casos de milagres e assombrações.
A vida psíquica, seja com crises individuais e a trajetória de descobertas de um novo caminho, seja com o olhar social sobre as diferenças, também aparece. A longevidade, com mulheres entre cem e cento e sete anos relatando como encaram a vida, foi tema de um dos episódios. As perspectivas dos jovens, mesclando as tecnologias digitais, criando podcasts, vídeos para o Youtube, mostraram outras possibilidades para um cotidiano que parecia parado no tempo.
A conservação e a militância ecológica, os pós-hippie que trocaram as grandes cidades por viver em lugares afastados, os discos voadores, os alienígenas, a cultura, a música, os artistas, a política, do bizarro ao emocionante, diversos ângulos das regiões são explorados a partir das conversas do apresentador com as pessoas.
Usei o termo conversa. Não se trata de entrevistas. Não temos um jornalista com uma pauta de perguntas. Nem tampouco um formato de locução descrevendo as características do lugar. Paulo sabe falar e ouvir. E ouve com afetividade, como se escuta um amigo.
Isso possibilita que possa opinar, criticar com carinho e bom humor quem está falando com ele. Está disposto a conhecer, a trocar, relata coisas suas também, da sua própria vida.
A proximidade com o perfil dos convidados torna a conversa profundamente humana. Paulo nasceu em Trindade, Goiás, mas foi criado em Palmas, capital do Tocantins. Pelos seus próprios relatos, cresceu entre pessoas com um perfil parecido com o dos seus entrevistados. Sabe cantar as músicas de festas do interior e os hinos religiosos. Embora viva e trabalhe em São Paulo e Rio, sabe muito bem com quem está falando.
O que tem me feito bem é ver como ele consegue conversar, sem abrir mão do que pensa, com quem pensa totalmente diferente. Nisso, o Paulo Vieira é craque. Não dá mole para ideias fascistas, racistas e homofóbicas. Pontua com firmeza e, ao mesmo tempo, sem perder a simpatia, a cada vez que aparecem disparates. Mas não interrompe o diálogo.
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