Ela é negra, trabalha como diarista e lançou recentemente o livro “Pela liberdade de nos construirmos negras” (Pubblicato Editora, 2023), um manifesto sobre o racismo estrutural que contamina a nossa sociedade e alimenta o preconceito por todos os lados. Cristina Ribeiro fala sobre sua vida e os enfrentamentos desde a infância por conta da cor da sua pele e traz depoimentos de outras pessoas sobre a discriminação cotidiana. A professora e pedagoga Patrícia Guterer, que assina uma das orelhas da publicação, diz: “Estamos em pleno século XXI falando de IA’s (Inteligências Artificiais), testando carros voadores, com diversas máquinas que fazem o trabalho de inúmeras pessoas, mas ainda se faz urgente livros, debates, rodas de conversas e todos os meios possíveis para abordar as temáticas sobre preconceito, racismo e os séculos de escravização, torturas, estupros e desapropriações pelos quais os povos negros e indígenas passaram”.
Cristina Abigail Ribeiro Prates nasceu em Porto Alegre no ano de 1971 e mora em Alvorada. Filha de pais negros, ela e os irmãos foram criados pela mãe, que trabalhava como empregada doméstica. Estudou em escola pública. Fez curso técnico em Nutrição e Dietética. Não tem ensino superior. No período escolar sofreu racismo por ser negra e bullying porque era gorda. Ouviu muitas piadas por causa do cabelo. Na adolescência se achava feia e esquisita. Odiava ser negra. Odiava suas origens. Aos 23 anos casou. Aos 25, nasceu sua filha Tamires. Dois anos depois, nasceu o filho Geovane. O casamento durou oito anos. Ficou sozinha para criar duas crianças, mas contou com a ajuda da mãe e da ex-sogra. Sempre desejou ter uma família e sempre quis que o destino dos filhos fosse diferente.
Ela confessa que “matava um leão por dia” para dar conta de tudo. Criar os filhos, estudar e trabalhar em lugares diversos para pagar as contas. Em um determinado período, percebeu que não era forte como imaginava. Não tinha amor próprio. Sua autoestima era quase zero. Comia muito e engordou. Como se isso não bastasse, enfrentava o machismo no dia a dia, fatores que só faziam o desconforto piorar. Teve problemas físicos e o corpo dizia chega, tome uma atitude positiva. Foi ao médico e descobriu que estava com a pressão alta. Iniciou um tratamento. Em outro momento, já com a pressão controlada, desenvolveu uma diabetes, aliada ao peso e à tristeza”.
O diagnóstico fez com que Cristina percebesse que precisava mudar de atitude e seguir confiante a sua caminhada. Foi assim que começou a escrever e refletir sobre a negritude, a vida, o corpo e a mente. Passou a dar mais valor às suas origens e à família. Procurou tratamento psicológico, começou a frequentar uma academia para fazer exercícios físicos e passou a acreditar no seu potencial. Seguiu trabalhando em vários lugares, sempre incentivando os filhos a estudar porque o conhecimento é a herança que quer deixar para eles. E a autoestima chegou. Hoje valoriza as amizades que conquistou e trabalha nas redes sociais, como incentivadora do cabelo crespo, ajudando mulheres negras a resgatar a autoestima.
O valor do livro é R$ 35,00 e pode ser comprado através do pix 51 993621476.