Sem negar as incertezas deste tempo que se mostra alucinado e se revela nas insanidades de quem não admite perder, o espírito natalino me acalma. Pelo ser, não pelo ter, sinto vontade de abraçar, presentear e falar de esperança com familiares e amigos de fé. Mergulhada no silêncio do espaço de trabalho, ouço o pulsar da vida ao redor com um afeto oceânico. Neste ano que está por acabar, naveguei por mares de ondas intensas e inusitadas, cercada de gente e de carinho, combustíveis fundamentais para os embates diários. Foi um ano difícil, permeado de medo, tristeza e perdas. Mas os bons desafios foram instigantes e me emocionaram muito.
Das questões pessoais às questões sociais e políticas que afetam inevitavelmente o meu estar no mundo, sinto que as dificuldades enfrentadas, algumas ainda em processo de assimilação, fizeram mais uma vez com que eu me reconhecesse e percebesse o outro de forma mais intensa e verdadeira.
Ainda um pouco atordoada com tudo o que vivi nestes quase 365 dias, percebo as alegrias que um cotidiano de luta e resistência pode proporcionar
No dia 7 de abril de 2022 recebi a Medalha Alberto André, uma homenagem anual da Associação Riograndense de Imprensa/ARI ao trabalho desenvolvido no campo jornalístico. Também foram homenageados nesta edição Álvaro Benevenuto, Andressa Xavier, Carlos Wagner, Ema Belmonte, Hugo Hammes, Jeanice Ramos, João Carlos Ávila, Roberto Rodrigues e Rosina Duarte. Integrar este grupo foi muito estimulante.
No dia 25 de outubro fui escolhida como embaixadora e representante do movimento das pessoas com nanismo no Rio Grande do Sul, uma homenagem pelo meu ativismo e trabalho pioneiro no Estado. Uma luta que está no livro “E fomos ser gauche na vida” (Pubblicato Editora) lançado no final de 2020, que em novembro de 2022 chegou à segunda edição e logo estará nas livrarias. É uma edição revisitada, com a inserção de novos artigos e de comentários que recebi e me instigaram a seguir escrevendo.
Em um momento em que a desigualdade social grita, a exploração dos recursos naturais aumenta, os fascistas insistem com suas ameaças por todos os cantos e o preconceito reverbera, ocupei um espaço significativo na 34ª edição do Festuris/Festival de Turismo de Gramado, no dia 5 de novembro, para falar sobre “Acessibilidade, Inclusão e os Desafios do Turismo no Sentido de Acolher a Diversidade Humana”. E no dia 12 de dezembro participei da XII Feira do Livro de Jaquirana. Foi uma volta à minha terra natal como Patrona da Feira, onde tive a oportunidade de falar para um público acolhedor e atento sobre Acessibilidade, Inclusão e Respeito pela Diferença.
Livros e leituras, música, filmes, as artes do cotidiano, uma noite de lua cheia, um encontro casual, um entardecer colorido, um trabalho bem-feito, um café e uma boa conversa, uma palavra acolhedora, uma boa risada, a presença das crianças e suas travessuras, a presença da família e dos amigos – são esses singelos acontecimentos que me fortalecem a cada ciclo e me deixam menos áspera, quando vem o amargo.
Agora mais um ciclo se fecha para abrirmos outro. Vejo esse movimento como um jeito inteligente de driblar o tempo. Suspendemos as atividades por alguns dias, promovemos encontros, aliviamos as tensões, respiramos profundamente para renovar as energias. É o momento de olhar fundo no fundo de nós mesmos e descobrir que, apesar dos tsunamis, estamos inteiros e conectados, prontos para recomeçar com o melhor que há em nossos corações.
Quero todos por perto. Mas quero, especialmente, que vivam em harmonia, eliminando o que não vibra com ética e respeito. Quero que deixem espaço para o novo, que tenham olhares para o outro e possibilitem o fluir de uma energia luminosa, forte, ativa. Quero que brinquem muito com as crianças e absorvam sua sabedoria genuína. Quero que se entreguem amorosamente para as festas que vem por aí. Mesmo com os temporais já previstos para 2023, acredito na possibilidade de uma jornada mais íntegra e transparente, sem os desatinos destes últimos quatro anos. Aposto na democracia, sem mandamentos infundados, sem julgamentos desnecessários e sem olhares que contaminam.