Hoje, serei mais breve do que costumo. Assim, os deixo com mais tempo para refletir sobre a política partidária destas terras de pablosmarçais e assemelhados e comparar as práticas tupiniquins com as de um vizinho bem próximo.
Em busca de informações para saber como andam as disputas de segundo turno nas eleições municipais Brasil afora, me deparei, por acaso, com notícia internacional que me botou em outro rumo.
Deixei para lá os números de pesquisas, os rasteiros debates que só confrontam baixarias pessoais, brigas familiares, preconceitos de todo tipo, a chata polarização Lula x Bolsonaro e fui atrás de detalhes do que foi anunciado como um discurso histórico do ex-presidente uruguaio, Pepe Mujica, no dia 19 de outubro.
Mujica, naquele dia, falou num evento da campanha de Yamandu Orsi, candidato da Frente Ampla à presidência do Uruguai na eleição que acontece no mesmo dia do nosso segundo turno: 27 de outubro.
É de dar orgulho a todas as eleitoras e eleitores de qualquer país o discurso do veterano ex-guerrilheiro. Nenhum ataque a nenhum adversário. Nenhuma garantia de que o candidato e o partido que ele apoia têm a varinha mágica que, já no primeiro ano de governo, vai resolver todos os problemas de cada cidadão.
Nenhuma promessa de que, vitorioso o candidato que ele apoia, todas as criancinhas terão vagas em creches, todo trabalhador vai virar um empreendedor de sucesso… Deixo vocês com o discurso de Mujica.
Não é brilhante? Simples, brilhante e verdadeiro? Ao contrário do que passamos a campanha inteira a ouvir, Pepe não apresenta, nem a si próprio, nem o candidato que apoia, como um super-homem capaz de, numa canetada, resolver todos os problemas de cada cidadão.
Ao contrário, ataca a polarização e o discurso de ódio, presentes em cada minuto das campanhas municipais por aqui e em cada bloco dos nossos cansativos e quase inúteis debates.
Pepe não deixa dúvida de que cada palavra dita lhe sai da alma. Ao começar, ele pede um minuto de atenção. E garante: um minuto do coração e não da garganta. Para nossos ouvidos, acostumados a discursos da boca para fora, difíceis de ouvir e, mais ainda, de acreditar, Mujica soa como uma sinfonia.
Ele não dá a mínima chance de se duvidar da palavra, da crença dele na força de cada mulher, de cada homem e na enorme necessidade de educar o povo para enfrentar todas as mudanças que a cada segundo nos desafiam neste mundo cada vez mais tecnológico e disruptivo.
Num discurso quase de despedida da vida, o grande líder popular uruguaio afirma que, no futuro, a inteligência será tão importante quanto o capital.
E segue com frases que deveriam ser impressas e afixadas na parede da sala de cada mulher, de cada homem que se candidate a qualquer cargo eletivo em qualquer lugar: “Se não somos capazes, como país, de educar e formar as gerações que vêm, vamos pertencer ao mundo dos irrelevantes, dos que não servem nem para que os explorem”.
Será que um dia vamos ouvir um discurso como esse nas campanhas eleitorais por aqui? Ou vamos seguir dando atenção a discursos que saem da garganta para fora?
Em todo caso, no domingo, você, que vai ao segundo turno, tem uma saída menos ruim. Vote no candidato que tenha alguma semelhança com Pepe Mujica. Se é que temos alguém, pelo menos, parecido com ele…
Foto da Capa: Reprodução do Youtube
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