Você está descansando em uma praia tropical. Pode ser na Bahia, ou no Ceará. E olha o mar. É o mesmo mar cujas ondas quebram nas praias do planeta há bilhões de anos. Mas é visível que há um empobrecimento da vida marinha. E que os mares estão mais sujos e poluídos. Assim como, se você observar em volta, há sujeira e plásticos por toda parte. Mas ao levantar os olhos para o céu, e ver todo aquele azul profundo, é difícil de acreditar que nós, humanos, estamos modificando a atmosfera ao ponto de induzir a mudanças climáticas que vão se permanecer, provavelmente, por muitos séculos.
Mas não podemos nos enganar. Os gases de efeito estufa, dos quais o dióxido de carbono – CO2 – é o mais abundante, são invisíveis. E mesmo que o CO2 corresponda a apenas 0,035% do volume da atmosfera (350 partes por milhão – ppm), ou seja, uma quantidade bem pequena, seu impacto na temperatura do planeta, como expliquei anteriormente, é impressionante. Na proporção atual, os gases de efeito estufa, como o CO2, o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O) tornam a vida possível na Terra. Se aumentar muito, a tornarão inviável.
A civilização humana moderna é construída sobre quatro pilares fundamentais: aço, concreto, plásticos e amônia (para a produção de fertilizantes). Todos dependem do uso de combustíveis fósseis, e com quantidades adicionais de gases de efeito estufa gerados diretamente em sua produção. Os subprodutos destes processos básicos consistem numa complexa rede de produção de bens e insumos que estão extraindo muito mais recursos do planeta do que ele tem capacidade de repor. É óbvio que tal situação não é sustentável por muito tempo.
Já sabemos disso há algum tempo. No entanto eu, como a maioria das pessoas, carecia, na maior parte da minha existência, de um entendimento maior e melhor da situação. Quando deixei a vida corporativa, há cerca de cinco anos, resolvi examinar com maior profundidade e abrangência o impacto das atividades humanas no planeta. Eu queria responder a algumas perguntas que fazia para mim mesmo. O que, afinal, está acontecendo no planeta? O que é real? O que é apenas uma possibilidade? O que é puro alarmismo? Com o que devemos realmente nos preocupar?
Foi assim que nasceu a ideia do que se tornaria meu primeiro livro de divulgação científica, intitulado “Planeta Hostil”1, que foi lançado agora em fevereiro.
Se, por um lado, a publicação do livro é uma conquista, por outro o que encontrei em meus estudos foi muito preocupante. O texto a seguir ilustra o impacto das minhas constatações: “Ao ler esse livro, prepare-se para uma visão arrepiante de como as ações humanas alteraram irreversivelmente a Terra, transformando-a em um reino imprevisível e perigoso”.
Foi com essa frase, está na contracapa do livro, que os editores descreveram o que sentiram ao ler, capítulo após capítulo, as muitas transformações que os humanos estão promovendo no planeta, todas nocivas a todos os seres vivos, incluindo a nós mesmos.
Veja a seguir os principais tópicos abordados:
- O aquecimento global, suas causas e consequências;
- Os principais processos que geram os gases de efeito estufa;
- Degelo e elevação do nível do mar;
- As principais mudanças climáticas e suas consequências;
- Ondas de calor, secas, queimadas e a crise hídrica;
- Aquecimento e acidificação das águas dos oceanos e a destruição dos ecossistemas marinhos;
- Destruição dos ecossistemas terrestres e o colapso das cadeias alimentares;
- A crise de biodiversidade: a sexta extinção
- Insetos e micróbios e seu papel fundamental na saúde ambiental;
- Poluição química: a intensificação química descontrolada;
- A poluição plástica: plástico no ar, nas águas e até dentro de você.
Ainda que as mudanças climáticas representem o aspecto mais dramático das transformações do planeta, há muito mais acontecendo. A situação é muito mais abrangente, insidiosa, por vezes sutil, mas sempre brutal. As mudanças climáticas certamente representam algo muito grave e preocupante. Mas não são nosso único problema. Os oceanos estão se deteriorando a olhos vistos, os solos empobrecidos e os químicos liberados por diferentes atividades humanas estão se acumulando por todo o planeta, biomas e seres vivos. E ainda há os plásticos nas terras, nos oceanos, em nossos corpos. Há uma crise da biodiversidade não registrada em dezenas de milhões de anos. Se deixarmos as coisas progredindo como estão, centenas de milhões de vidas e serão perdidas e bilhões de pessoas terão sua existência e sua saúde profundamente afetadas.
O livro descreve a situação em que nos encontramos, com realismo e, tanto quanto possível, sem ideias preconcebidas, quais são os principais danos que que estamos causando aos ecossistemas do planeta, dos quais dependemos para sobreviver, como chegamos a essa situação, assim como as perspectivas para o futuro. Tanto ao referente ao que não conseguiremos evitar quanto ao que ainda podemos fazer.
Pode parecer alarmismo. Mas infelizmente não é. São constatações reais, baseadas em fatos e evidências.
O livro descreve de forma exaustiva os problemas que as ações humanas estão causando ao planeta, todos os seres vivos e, mais especificamente a nós mesmos. Ainda que seja abrangente, é escrito de forma acessível, de maneira que leitores não especialistas de todos os perfis podem se beneficiar dele.
Por desenvolver os tópicos de forma bastante completa, o livro não deixa de ser um guia de sobrevivência, pois a partir dessa compreensão as pessoas poderão decidir o que fazer para enfrentar os desafios que virão. Que serão diferentes em função de onde você vive, no que trabalha, e que recursos dispõe para enfrentá-los.
Mas o livro é também um chamado à ação, pois todos devemos nos envolver na busca de soluções para mantermos nosso planeta viável para a espécie humana. Novamente, isso vai depender de onde você vive, o que faz e de que recursos dispõe. Alguns de nós poderão atuar diretamente na resolução de problemas, outros poderão influenciar pessoas, empresas e governos a adotarem as medidas necessárias. Outros disporão de recursos para patrocinar organizações que atuem em defesa da sustentabilidade. Outros poderão atuar como cidadãos e ativistas. Não importa em que grupo você está, desde que dê sua contribuição.
Olhando a nós mesmos com distanciamento, parece ser uma coisa insana ficar injetando gases que provocam o aquecimento da atmosfera, destruir de forma avassaladora ecossistemas marinhos e terrestres, inundar o planeta com químicos e plásticos cujos efeitos danosos para todos os seres vivos, nós inclusive, nem mesmo entendemos direito. Mas estamos fazendo isso e continuando a viver como se nada fosse acontecer. Só que algo vai acontecer, ou melhor, já está acontecendo, mesmo que ainda não tenhamos nos dado conta de toda sua abrangência.
Estamos destruindo o planeta que nos recebeu como espécie. Que nos deixou florescer, e atingir um estágio de desenvolvimento e bem-estar que nossos antepassados durante milhares de anos não conseguiriam sequer imaginar. É inconcebível que estejamos colocando tudo isso a perder.
Eu sei que a leitura do livro pode ser perturbadora. Como disse um amigo:” Não é um bom livro para ler antes de dormir”. Mas é necessário. Não podemos ignorar tudo o que está acontecendo. Enfiar nossa cabeça na areia (coisa que, aliás, os avestruzes não fazem, pois iriam sufocar!) e continuar vivendo como se nada estivesse se passando. Os desafios são enormes, mas temos que encará-los de frente. Para muitos, e talvez mesmo para todos, será uma questão de sobrevivência.
Notas:
- 1O livro “Planeta Hostil”, foi publicado pela Editora Matrix, de São Paulo. Pode ser adquirido no seu site: matrixeditora.com.br e também na Amazon.
- Para vídeos e textos adicionais confira também meu Instagram @marcomoraesciencia.
Foto da Capa: Freepik