Com o crescente número de treinadores estrangeiros atuando no País este é um debate permanente. E que ganhou força nos últimos dias, com a coletiva de Renato Portaluppi, sexta-feira. De forma direta: o técnico do Grêmio reagiu à bajulação aos treinadores que não são brasileiros. Pode estar por trás disso uma tentativa de Renato resgatar seu nome para ser o técnico da Seleção Brasileira.
Renato, na sexta-feira: “Se fosse um técnico português que estivesse aqui realizando o meu trabalho seria colocada uma estátua para ele”. Além de jogar confete e serpentina sobre os próprios ombros, ficou estranho porque Renato é o único treinador aqui no País que tem uma estátua em frente ao estádio do time que comanda. “Muitas vezes eu vejo um gringo ganhar três ou quatro jogos e alguns da imprensa ficam endeusando”, reclamou o treinador do Grêmio. E voltou ao assunto mais duas vezes, chegando a citar o treinador do Botafogo, o português Luís Castro, como exemplo de alguém que recebe valorização excessiva.
Minha primeira análise: Renato tem o direito de dizer isso e de levantar este debate. É legítimo e ele tem tamanho para abordar o tema. Mas foi deselegante. E injusto. Há uma série de treinadores estrangeiros que atuaram recentemente no futebol brasileiro e que, por resultados ruins, foram execrados pela mídia. Miguel Angel Ramirez e Cacique Medina, aqui na aldeia, no Inter, são exemplos. O português Jesualdo Ferreira foi corrido do Santos. Doménec Torrent, espanhol discípulo de Guardiola, afundou no Flamengo. O português Vitor Pereira, liquidado no Corinthians e no Flamengo. Aliás, o Fla também viu afundar o trabalho de Paulo Souza. E tem ainda o argentino Turco Mohamed, no Atlético Mineiro. Estes acima e tantos outros foram moídos pela mídia, consequência de trabalhos que não deram certo.
Claro, há aqueles que são badalados e que, coincidentemente, ganham. Jorge Jesus, que eu nem acho tão bom assim, mas que venceu quase tudo no Flamengo. E agora Abel Ferreira, de temperamento questionável que muitas vezes denota falta de educação. Mas o português empilha títulos no Palmeiras. E também há os que dividem opiniões. Eduardo Coudet, do Atlético, por exemplo. Há os que rejeitam suas ideias, como muitos torcedores do Galo e do Inter, e há os que amam e escancaram um processo apelidado de “coudetização”. Então está tudo no seu lugar. Quem ganha é elogiado. Quem perde é criticado. E há um time de técnicos que causa polêmica, independente de onde nasceram!
E isso também existe para os treinadores brasileiros. Querem alguém mais amado pelos torcedores gremistas do que Renato? E tem Abel Braga no Inter, Felipão por onde passou, Muricy Ramalho no São Paulo, para citar alguns. Há os rejeitados quase como unanimidade e que até viraram memes, como Celso Roth. E, naturalmente, existem os que dividem opiniões: o melhor exemplo desta categoria é Fernando Diniz, do Fluminense. Quem o bajula, que não é o meu caso, ingressa no chamado “dinizismo”, uma filosofia de elogiar tudo que o treinador tenta exercer nos seus times.
Não vejo razão nas colocações de Renato, exceção se aceitar que ele fez estas críticas como forma de preservar o mercado para os treinadores brasileiros. O que, convenhamos, não irá adiantar. Há bons treinadores no País. Mas também há técnicos desatualizados. Ou será que ele quer mandar recado à imprensa nacional para que o cargo de técnico da Seleção não seja entregue a um gringo?
Então me posiciono: gostaria de ver alguém do tamanho de Jurgen Klopp, alemão, hoje no Liverpool, comandando o Brasil na próxima Copa. Gosto desta oxigenação.
Foto da Capa: Renato, em coletiva na última sexta-feira, protegendo treinadores brasileiros – Grêmio Oficial