Nos últimos dias, tive a oportunidade de conversar com duas pessoas altamente inspiradoras. Dois homens. Um conheci em um encontro virtual, o outro já tinha convivido, mas sempre com os ponteiros do relógio me vigiando. Não conheço a história privada deles. Mas o que posso dizer é que a atitude deles me tocou e vou contar o porquê.
Primeiro porque precisamos reconhecer a nossa necessidade de valorizar as experiências. Quem nos proporciona enxergarmos além do horizonte merece nossa gratidão. Cresci numa família que dificilmente elogiava alguma coisa. E isso representa um dos desafios na minha vida. Hoje, procuro valorizar pessoas que fazem a diferença quando cruzam no meu caminho.
Creio que no momento atual da humanidade precisamos demais de bons exemplos. Nas telas que nos cercam está difícil ver gente com conteúdo, com “café no bule”, como dizem alguns. Ver influenciadores digitais sem lastro dizendo isso, aquilo, mas sem consistência é algo que realmente me incomoda. Hoje a forma, o comunicar em poucos segundos, vale mais do que o conteúdo para o engajamento e o consequente “like” nas redes sociais.
Foco na inovação pelo bem coletivo
Nesta semana, um grupo do POA Inquieta tomou café da manhã com o Santiago Uribe Rocha (foto da capa). Esse antropólogo, que vem de Medellin, na Colômbia, tem muita experiência na solução de conflitos. O cara tem uma capacidade de articulação e comunicação impressionantes. A primeira vez que tive contato com ele, numa reunião em uma escola no Morro da Cruz, acho que em 2019, ele começou perguntando o nome de todos os presentes. No decorrer do encontro ele disse o nome de cada um.
Ele veio à Porto Alegre para conhecer de perto a realidade do Morro da Cruz e cocriar um projeto sobre inovação. E deixou claro: inovar não é só tratar de tecnologia, mas melhorar a vida das pessoas que não desfrutam dos benefícios de quem habita em zonas centrais. Ele já esteve várias vezes na cidade, inclusive bebeu da fonte do Orçamento Participativo, que até hoje é seguido em vários lugares do mundo. O Uribe tem sua trajetória impressionante. Ele, nada mais, nada menos, assessorou o Nelson Mandela na construção da paz na África do Sul. Em Medellin, também teve uma participação importante no processo de transformar a cidade mais perigosa do mundo, em uma das mais criativas.
Entrevistei o Uribe rapidamente, depois de ouvir várias “pérolas” da sua boca. E temos que agradecer ao Cezar Paz, articulador do POA Inquieta, que conseguiu aproximar o mobilizador do Pacto Alegre. Finalmente, o Pacto está investindo na periferia. Quem está pagando seus custos é um grupo de empresas. Uribe foi nosso guia, quando um grupo de inquietos esteve em Medellin. E acompanhá-lo é sempre um aprendizado.
Dessa vez ele largou “na lata”: “Em Porto Alegre há muitas pessoas diplomáticas. Só que falam, falam, mas não fazem”. E afirmou o quanto há resistência de se abordar pontos incômodos, pois o comum é fugir do enfrentamento para a busca de soluções. Ele acredita que das vindas à Capital nos últimos 10 anos, é a primeira vez que sente no ar um clima mais de esperança do que de frustração. Entretanto, ele se mostrou indignado como a cidade até hoje não se debruçou para resolver problemas com o transporte público.
Poderia discorrer muitos parágrafos sobre o Uribe, que atua com políticas públicas, que alcança milhões de pessoas. Vale conferir aqui a entrevista que fiz, para entender melhor o que ele anda fazendo.
Desenvolvimento pessoal passa pelo propósito
Vou citar outro cara que provocou vários insights em mim esta semana: Ary Filler. Quando perguntei sobre como deveria creditá-lo, ele respondeu algo que me identifiquei de cara: “Nem eu sei ao certo. Creio que todos nós estamos nos tornando algo novo. Um mix de habilidades e desafios… Mas para simplificar e caracterizar, que é o que o pessoal do mercado gosta, pode colocar “polinizador sistêmico”.
Ary atua no Trabalho 60+ e mora em São Paulo. Ele foi o convidado desta semana da comunidade Caleidoscópio. Ele é disruptivo e fala com desenvoltura sobre o momento que estamos atravessando no mundo do trabalho. Para começar, defende a abolição do Curriculum Vitae. Para o polinizador, o CV mostra apenas quem foi aquela pessoa. Não evidencia o seu verdadeiro perfil no momento que ela está vivendo e nem o que ela quer ser no futuro. Para ele, é fundamental adotarmos o conceito de “Propositum Vitae”.
Para mim, faz todo sentido. Leia o que ele escreveu sobre a necessidade de se adotar um PV e não CV:
– Cada P.V. mostra uma reflexão e um compromisso único, pois reflete a singularidade de cada pessoa;
– Ele não deve ser fixo, estático, muito ao contrário, pode e deve ter um formato flexível, dinâmico, e, permanentemente, ser atualizado;
– Pode refletir desde os propósitos mais simples até os mais profundos, que a pessoa tenha naquele momento da sua vida;
– Também pode revelar para quem o recebe, os desejos e motivações da pessoa tanto no âmbito particular como no social;
– Principalmente contendo propostas dos seus valores e comportamentos diários no trabalho, na sociedade, e no convívio social;
– Independentemente da idade da pessoa naquele momento, ela sempre poderá ter um P.V. que procure revelar a sua alma, o seu eu mais profundo;
-Em princípio, ele não deve conter possíveis focos em atividades corriqueiras ou desejos de cursos, funções, cargos, empresas, áreas de atuação etc.;
-Poderá ser útil tanto para a pessoa se apresentar a uma empresa, entidade, governo; como também para se apresentar a novos sócios, e eventos em geral;
-Deve ter um formato leve, moderno, sucinto, simples e direto, porém amplo e profundo ao revelar suas visões e valores aos outros;
-Além de cada pessoa elaborar o seu PV, ela deve sempre divulgar e estimular que outras pessoas também o façam!
E aí, o que achou dessas criaturas inspiradoras? Tem conhecido pessoas que lhe inspiram? Vou preparar meu PV.
Foto da Capa: Santiago Uribe Rocha – Divulgação