Acompanho as reflexões do psicanalista, educador e poeta mineiro Altair Sousa no Facebook faz tempo. É uma escrita que me emociona muito e agradeço ter encontrado um pensador genuíno nesta rede social, às vezes tão agressiva e tumultuada. Teve um dia em que ele fez a seguinte pergunta: “Como você tem encarado a vida? / Como um passo de dança? / Ou como uma eterna queda?” Achei instigante e respondi que ‘prefiro encarar com passos de dança – até porque sempre gostei de dançar – mas às vezes a ousadia dos passos quase me derruba’. Em outra postagem, escreveu que “o caminho a se trilhar nos momentos de vulnerabilidade é sempre para dentro de nós mesmos. O melhor curativo para feridas na alma ainda é a reflexão”. E é! Costumo dizer que respirar fundo diante de situações difíceis que exigem tempo para assimilarmos é um bom caminho para evitar explosões que, muitas vezes, estressam e não levam a nada.
As turbulências são muitas, mas uma respiração profunda pode aliviar nossas inquietações.
A vida pode se apresentar de maneiras diversas e saber lidar com estes movimentos nem sempre é fácil. Mais uma vez, a palavra de Altair Sousa chega para mostrar que, nas nossas andanças, circulamos entre o claro e o escuro, que nada está pronto, nada será como antes e que o horizonte é amplo. Há maneiras de entender o que nos contamina. Nada é para sempre e podemos sair sutilmente em busca de um equilíbrio razoável – “Instantes de luz entre longos anoiteceres de sombras. Um riso breve em meio a um peito atado. Mas quem nos prometeu felicidade sem fendas, alegria sem ressacas, caminhos sem tropeços? Viver é se encantar por um momento e se perder terrivelmente no próximo. É carregar o peso do aço dos dias, mas ainda assim olhar o céu em noite de lua cheia, com zelo de lobo em cio. Não se abandone só porque a vida dói. E nos corrói. Há sempre um sopro de vento, um raio de sol, uma janelinha aberta para a gente respirar e não pirar além da conta”.
Viver é mesmo assim. E cabe a nós descortinar frestas, respirar e seguir sem abrir mão da esperança, da alegria, do respeito, da justiça, da diversidade, da convivência, da solidariedade.
Olhar para além das nossas janelas e portas é fundamental. Abrir-se para o mundo lá fora. Caminhar. Conviver. Olhar o outro. Usufruir da arte e da cultura que nos dão identidade. Dividir as dores e as delícias do cotidiano. Ouvir as crianças. Brincar com as crianças. Chorar em um ombro amigo. Ou rir entre amigos. Valorizar o ser. Não o ter.
E Altair Sousa segue apontando luzes – “A natureza nos oferece, além da beleza, tudo o que necessitamos para viver. O que nos faz sofrer são as faltas que vamos inventando ao longo da vida. O carro que não podemos ter, a casa que está além do nosso poder, o outro que decidiu não nos querer. Mas nós temos o sol, a lua, o céu, as estrelas, as árvores, os rios, os passarinhos, o ar, a fotossíntese, o mel, a fruta fresca no pé e os encontros com pessoas que nos querem bem.”
E contar com pessoas que escrevem e espalham pinceladas de poesia para iluminar e sacudir nossas tantas dores e nossas tantas delícias é maravilhoso. Luz e sabedoria para nossa caminhada.
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Foto da Capa: Gerada por IA