Dezembro, o de 2024.
O tradicional encontro anual da família — panorama e lazer, serra ou praia — acontece. Itaipava. Maravilha!
Somos, desta vez, 11; presentes de corpo e alma. Mais os ausentes, por razões alheias às suas vontades, compromissos outros, trabalho ou distanciamentos sociais ou geográficos; o que não os impedem de serem evocados; Tico e Teco aproveitam …
O mais velho (e bota velho nisso..!) mais observa do que interfere, só participa se for convocado (ainda que tenha folego e disposição para); segundo um neto, “o vovô já tá fora de validade”; e ele já é bisavô…, portanto, há que se precaver…
Passeios, piscina, cachoeira, refeições, TV, jogos e debates (sobre tudo e sobre todos ) se sucedem. Os mais novos ajudam os mais velhos. Os recém-chegados não param quietos, implicam-se, choram, resmungam, mas são o ponto alto do encontro. Adoráveis, às vezes até demais..! kkkkkk, como redigem os jovens.
Muito, mas muito bom mesmo…!
Velar por ela, de Jean-Baptiste Andrea, Prêmio Goncourt 2023, Editora Vestígio. “Eita, que excelente contador de histórias!” Recomendo. Percorre um período desde antes do fim da 1ª até anos após o fim da 2ª Grande Guerra; personagens interessantíssimos, na Itália do Renascimento, da Nobreza, do Fascismo; um desenrolar até Felliniano, se poderia dizer.”
Era o que estava lendo, numa tarde, poltrona confortável, quando, ao abaixar-me para pegar o livro que caíra (cochilo, pois, após o almoço, ninguém é de ferro!), entre correrias e ginásticas olímpicas de João e Maria (meus bisnetos, não os da literatura infantil), me confirmei o que lera e adotara, lá pelos idos anos de 1960, do pensamento do filósofo e teórico da comunicação Marshall Mc Luhan.
Em espaço acolhedor, bem iluminado, um pequeno bar, mesa redonda e quatro cadeiras. Certamente pensado para um carteado e papo básicos e descontraído.
Sentados estão dois casais (meus netos). Jovens, saudáveis, bonitos, fashion (todos; são meus netos, ora pois). Cotovelos apoiados na mesa, ou na cintura.
Não se ouve ruído algum. Também nada falam. Concentração absoluta. Difícil acreditar, em se tratando de jovens. Também o olhar: fixo; quase não piscam; dirigidos para as palmas das mãos, na altura da vista ou da cintura. O tempo passa, movimentos só os dos dedos: crepitando, como se chamas fossem, iluminados contra fogueiras de luzes intermitentes. E de intensidades variáveis, definindo semblantes segundo o modelo de cada celular. Cada um com seu diálogo à mão. Cada qual com seu interlocutor de marca diversa.
Fiquei triste. Provoquei: interrompi. Queria troca de ideias, levei um Chega pra lá. Desisti. Voltei aos João e Maria: talvez ainda possam ser salvos.
Notas:
Livros germinais: Marshall McLuhan
Os meios de comunicação como extensões do homem Ed. Cultrix
O meio são as massagens (com Quentin Fiore) Ed. Record
Jacob B. Goldemberg é arquiteto e professor. Já publicou os seguintes livros: Arquitetura: Espaço-Vida (1978), Arquitetura, Escritos (1998), O Essencial do Livro dos Livros – Contocrônicas, umas tantas (Ebook – Amazon) e Sobre Judeus, Hebreus e um certo Jesus (2024).
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Foto da Capa: Gerada por IA / Freepik.