Este mês, no dia 22, ocorrerá mais uma etapa do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental de Porto Alegre (PDDUA-POA): o Seminário Leitura da Cidade. O evento é aberto ao público e “em breve” as inscrições estarão abertas (link aqui), porém com “vagas limitadas” para o “público geral”. O Seminário acontecerá a partir das 08:30h e está previsto para ser encerrado às 18:00h na Cinemateca Capitólio de Porto Alegre.
A recomendação é que todas e todos os cidadãos se apropriem das discussões. Mais do que estar presente, é fundamental estar consciente do histórico, da situação atual e das possibilidades de intervenção.
Nessa esteira, na última sexta-feira, dia 30 de junho, na Livraria Cirkula, ocorreu o lançamento de um livro fundamental para a compreensão da cidade por parte de estudos e pesquisas científicas: “Reforma Urbana e Direito à Cidade em Porto Alegre”. O livro é organizado por pesquisadores do Observatório das Metrópoles, um espaço científico que está presente em vários estados brasileiros. A tempo: o livro pode ser baixado gratuitamente.
O lançamento contou com cerca de uma centena de cidadãs e cidadãos, políticos e ativistas, cientistas e demais interessados na “leitura da cidade” a partir de um olhar científico.
Cabe ressaltar que a leitura da cidade pode e é realizada por diferentes ângulos, porém é essencial possuir algumas “réguas-comuns”. Uma delas é a régua da desigualdade social. Com essa régua, que é política — e aqui entendo política como uma dimensão indissociável de qualquer cidadã/o —, o sujeito se torna um crítico aos conteúdos que “estão em leitura”.
Vamos anotar: a leitura que acontecerá no dia 22 de julho de 2023 provavelmente será (bem) diferente das considerações e conclusões das cientistas e dos pesquisadores do livro “Reforma Urbana e Direito à Cidade em Porto Alegre” lançado na última semana. Isso porque a leitura dos dez capítulos do livro, versam desde as desigualdades e o bem-estar urbano até projetos pró-mercado e anticidadão.
Eu mesmo já realizei quatro leituras sobre o processo de condução do PDDUA-POA e suas práticas. Na primeira coluna, intitulada “Porto Alegre: cidade fóssil e do concreto ou cidade verde e azul?”, realizo um panorama sobre as etapas e práticas em ação como o lobby das imobiliárias (leia aqui). Na segunda coluna, “Cidadania urbana e a arte de mudar as coisas que importam”, faço uma reflexão da importância da prática de exercitar a cidadania — como participar ativamente das discussões sobre o presente e o futuro Plano de Ação Climática de Porto Alegre — e seu efeito na cidade que desejarmos (leia aqui ). Na terceira coluna, “Entre parques eólicos e arranha-águas: Novas emergências climáticas: o caso de Porto Alegre”, faço alguns alertas sobre o lobby de alguns setores econômicos e seus perigos invisíveis em detrimento da qualidade de vida urbana para a cidade de Porto Alegre (leia aqui). E, na quarta e mais recente coluna para esta revista, “ Frigopolítica: 5.788 pessoas e os eventos climáticos extremos”, apresento alguns dados científicos sobre moradores de rua de Porto Alegre que sofrem os efeitos dos eventos climáticos e os efeitos diretos das decisões do poder público (leia aqui).
Ao analisar as leituras realizadas por pares cientistas oriundos de diversas áreas de conhecimento, sinto que a “leitura da cidade” realizada pelas pessoas em posição de liderança do poder público são sensivelmente antagônicas às posições resultados dos estudos e pesquisas realizadas atualmente em Porto Alegre.
Ainda há tempo de intervenção por parte das cidadãs e dos cidadãos. O Plano Diretor não é só um conjunto de documentos e relatórios. O PDDUA é a materialização das ideias de como desejamos que as infraestruturas, organizações públicas e privadas e serviços aos cidadãos estejam organizados.
É crucial responder perguntas, das mais simples até as mais complexas: pagaremos para entrar em um parque público? Teremos ciclovias em todas as grandes avenidas de Porto Alegre? Conseguiremos recuperar as águas cristalinas ao Guaíba? Permitiremos que sobre a orla do Guaíba sejam erguidos arranha-céus e megaestruturas eólicas?
Cidadãs e cidadãos, vamos às leituras críticas da cidade.
…
Leituras críticas indicadas:
Dicas de leitura para enfrentar o PDDUA-POA:
- Marx, Vanessa; Fedozzi, Luciano; Campos, Heleniza (org.). Reforma Urbana e Direito à Cidade em Porto Alegre. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2023. Observatório das Metrópoles.
Links úteis sobre o PDDUA-POA:
- Site da Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura de Porto Alegre, órgão que coordena o Plano Diretor
- Site do Plano Diretor de Porto Alegre
Foto da Capa: Alex Rocha/PMPA