Nossas crenças definem muitas coisas na nossa trajetória. Confesso que uma das minhas é acreditar o quanto o poder fazer coisas em grupo é potente e edificante. Só que fazer coisas com e para pessoas é algo que exige muito. Primeiro, porque o grupo serve como um espelho (se bateu, vai que é teu). Segundo, precisamos saber conviver com quem pensa e age diferente. Respeitar, escutar, exercitar a paciência.
Nesse sentido, tenho aprendido muito com as situações que o POA Inquieta tem me proporcionado. Um coletivo que reúne gente de várias tribos. Onde conheci pessoas e instituições que jamais teria contato se não tivesse saído da minha bolha de convivência. E hoje, sinceramente, vejo muito mais sentido estar aberta para ter contato com coisas novas, que me descortinem novos horizontes.
Como vivo em uma região, uma cidade onde a maior parte das pessoas desconfia da sombra, alguns enxergam o POA Inquieta como algo inexplicável. Realmente é, para quem ainda não se deu conta do quanto o mundo está mudando em uma velocidade estonteante. E que há muitas coisas que a inteligência artificial não dá conta de fazer, como a construção de relacionamentos ao vivo e a cores. Como rodas de conversa, por exemplo.
O POA Inquieta é um saco de gatos caótico onde cada um tem liberdade para sugerir o que desejar. Nos “spins” que articulo (conforme minha disponibilidade de tempo), procuro disponibilizar notícias, acompanhar eventos significativos e promover o encontro e a conexão entre pessoas. Gente que ao se conhecer pode trocar ideias. Fazer parcerias. Criar projetos, iniciativas para melhorar não só a sua condição, mas também o ecossistema onde vivemos.
Desde 2018, quando conheci a proposta, venho me desdobrando para conseguir dar conta do recado. E até ter consciência do tamanho das nossas pernas é um árduo aprendizado. Afinal, acompanhar o que rola nos grupos do POA Inquieta Sustentável, Resíduos, Moda Sustentável, Plantio/Clima e Orgânicos é um desafio. Mas sabe por que me esforço para continuar? Porque me sinto nutrida convivendo com inquietos e inquietas (aliás, muito mais inquietas) que me dão energia, alegria para seguir tentando fazer coisas que podem melhorar o mundo que nos cerca.
Bom, mas cada um tem o seu ponto de vista do que é o melhor para cidade. Sim, claro. Só que entre nós temos alguns pactos de convivência. E isso, por si só, já em um tatame para exercitarmos a civilidade. Poderíamos fazer mais rodas de conversa. Estar mais na periferia. Poderíamos ser muito melhores. Mas, confesso, cada um dá o que tem. O que pode. O que consegue.
Pois quando se está envolvido em ações voluntárias, se recebe muito mais do que se imagina. Só em conhecer tanta gente fora da curva, que se empenha em ajudar os outros, já é um baita presente.
O POA Inquieta foi um dos 20 finalistas do Prêmio de Inovação concedido pela Prefeitura de Porto Alegre. Não ficou muito claro para mim quais foram os critérios adotados para a seleção. Mas isso não importa. Fui à cerimônia de entrega dos prêmios e valeu foi poder encontrar as pessoas que fazem o coletivo rodar. E também perceber o quanto há de iniciativas que estão em busca de alternativas para tornar a capital gaúcha um lugar melhor para se morar, para atrair investimentos. Tenho certeza de que muitas das ações que foram possibilitadas pelo POA Inquieta contribuíram para que muita gente percebesse outros ângulos a cidade onde moramos. Enxergando problemas, mas também oportunidades. Trocando informações, contatos e experiências para que cada um se conscientize do quanto a cidadania precisa ser exercitada. Acredito que hoje a cidade está melhor do que quando o coletivo foi criado, lá em 2018.
Foto da capa: Roda de Conversa no Morro da cruz, Porto Alegre – Sílvia Marcuzzo/Divulgação
*Sílvia Marcuzzo é jornalista, artivista e participa de coletivos e redes onde procura articular ações e disseminar informações sobre como a comunicação se relaciona com a sustentabilidade. Atua na área ambiental desde 1993 e presta serviços para organizações Brasil afora. É colunista da Sler.