Uma coisa é a polarização Lula x Bolsonaro. Os dois são bem diferentes e estão em polos opostos. Lula é contemporâneo. Bolsonaro é antigo, embora não seja velho. Aliás, antigo, não, porque antiguidades são importantes e valiosas. Melhor dizer que o ex-presidente é ultrapassado.
Outra coisa é o lulismo x bolsonarismo. Aqui, as coisas se misturam nessa geleia geral que é o cenário político-partidário brasileiro. E é aqui que nasce a nossa nova espécie de jabuticaba: a polarização ma non tropo. Vamos lembrar. Temos 30 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral. Desses, 23 têm representação no Congresso Nacional. Elegeram deputados federais e senadores em 2022.
No segundo turno da eleição passada, 16 partidos (PT, PV, PCdoB, PSOL, Rede, PSB, Solidariedade, Pros, Avante, PDT, Cidadania, PCB, PSTU, PCO e Unidade Popular) apoiaram Lula. Bolsonaro foi apoiado por cinco partidos: PL, PP, Republicanos, PSC e PTB. Sete legendas (União Brasil, MDB, PSDB, PSD, Podemos, Novo e DC) se declararam neutras e liberaram seus diretórios para tomar o rumo que quisessem na volta decisiva da eleição.
A maioria dessas agremiações partidárias não tem nenhuma firmeza ideológica. Elas funcionam mais como reuniões de pessoas em defesa de interesses classistas e regionais. Daí que se posicionam na situação, ou na oposição de acordo com o que podem ganhar em cada votação importante na Câmara dos Deputados e no Senado Federal ou, ainda, do número de empregos que lhes são oferecidas no primeiro e segundo escalões do governo federal…
No governo Lula, 12 dos partidos com representação no Congresso Nacional ocupam cargos de ministros. Um deles, o PRD, nascido em 2023 da união dos bolsonaristas Patriota e PTB. O PRD ganhou o ministério da Defesa, ocupado por José Múcio, ex-PTB. Além do PRD, outros dois bolsonaristas do primeiro turno, o PP e o Republicanos, estão no primeiro escalão do governo Lula.
Então, dá para reclamar de polarização nesse cenário, quando as posições políticas são definidas a cada votação nas casas legislativas? Ou dá pra constatar que essa dita polarização serve bem para Lula e Bolsonaro? Nada melhor para Lula do que manter seus seguidores fiéis desde 1989 e ainda, chamar para seu lado todos os que não querem Bolsonaro. Nada melhor para Bolsonaro do que manter os que ainda o seguem – apesar da inelegibilidade – e continuar assustando os que ainda temem o – na visão estreita do bolsonarismo – comunista Lula.
Em outubro, tem eleição de prefeitos e vereadores. Já tem gente dizendo que a disputa será uma prévia para 2026. Então, bolsonaristas e lulistas vão continuar no mesmo batidão do nós contra eles. Na eleição de 22, ninguém conseguiu pôr uma cunha entre Lula e Bolsonaro. Muita gente passou a campanha inteira falando na necessidade de uma terceira via. Mas a candidatura que chegou em terceiro lugar – a da então senadora Simone Tebet, do MDB – não teve mais do que 4,16% dos votos… O que me leva a outra pergunta: era séria a postulação por uma terceira força, ou era mais jogo de cena?
Pois bem, o pessoal que vê a eleição deste ano como prévia de 26 tem, então, que ir à rua para mostrar que a disputa é mais ampla do que esse nem x nem – nenhum nem outro – que, desde 2018, deixa o debate político com a profundidade de um pires.
O pessoal que votou em Lula porque não queria Bolsonaro e o pessoal que votou no ex-capitão porque não queria o ex-operário continua aí, meio sem rumo.
Trabalho para os marqueteiros: afinar um discurso que encante as quatro gerações de eleitores – um arco que vai dos Baby Boomers da década de 1940 à Geração Z, ou Zoomers, nascidos entre 1995 e 2010 – com toda a diversidade de comportamentos e sonhos que cada grupo carrega.
Será que temos gente aguerrida para entrar nessa luta? Ou estão todos acomodados, cada um com seu naquinho de poder, sobra da polarização?