Os partidos políticos brasileiros, muitos, não todos, que generalizar nunca é bom, precisam, com urgência, começar a fazer aquilo para o que foram criados: Política. Assim mesmo, com P. Afinal, eles, os partidos, são os pilares da democracia. E está mais do que na hora de entenderem que isso não se faz só com os olhos voltados mais para os mapas de cargos e para os gráficos dos orçamentos públicos do que para o que acontece fora das vidraças dos plenários. Política também é comunicação e inovação.
Fazer Política (com licença, Milton Nascimento) é ir aonde o povo está. E trazê-lo para o debate. Ouvir as aspirações populares e aproveitar as experiências que resolvem problemas, muitas vezes, sem a participação do Estado e, muito menos, de qualquer agremiação política.
Olha só: o Brasil tinha, na eleição de 2022, mais de 156 milhões de eleitoras e eleitores e 33 partidos registrados no TSE, dos quais 21 têm representantes na Câmara dos Deputados e 15 têm bancadas no Senado Federal. Agora, sabe quantos brasileiros são filiados a alguma dessas legendas? Só um pouquinho mais de 16 milhões… Apenas sete partidos têm mais de um milhão de filiados.
A razão desse desinteresse nacional – que explica, também, os baixos índices de credibilidade dos partidos, apontados nas pesquisas de opinião – pode ser encontrada na atuação dos representantes do povo. E tivemos, na semana passada uma prova disso.
A Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados estava reunida para debater meios de impedir, ou reduzir a violência nas escolas. Mas o principal fato gerado na sessão foi o bate-boca (foto da capa) dos deputados Dionilso Marcon (PT-RS) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) com direito a ameaça de bofetada, palavrão e até mãe no meio no melhor estilo presídio lotado…
Tem outra razão também grave: uma quase absoluta falta de comunicação. E os partidos estão aí nas telas da TV e nas ondas do rádio pra não me deixar mentir. No horário a que têm direito para falar de seus programas, defender suas ideologias, os partidos nos brindam com monótonos monólogos (perdão pelo trava língua) que, não fossem as letrinhas que os distinguem, nos deixariam em dúvida se não seriam, todos os comerciais, do mesmo partido, tal a repetição de velhos chavões tipo “gente em primeiro lugar”, “nós cuidamos das pessoas”, “aqui você tem vez e voz”… lidos, quase sempre, sem a menor emoção. O eleitor, quando aparece, é para corroborar as benfeitorias alardeadas nos comerciais.
Agora, pergunte a um desses filiados – você conhece algum? – quantas vezes, fora dos períodos de campanha eleitoral, claro, ele foi procurado por alguma liderança do seu partido…Muito provavelmente, a resposta será nenhuma.
A impressão que dá é que os partidos não se deram conta das facilidades que a tecnologia oferece para que se comuniquem com seus filiados, cada um, um potencial influenciador digital. As legendas dispõem dos dados de 16 milhões de pessoas que, mobilizadas e bem-motivadas, podem virar 20, 30, 50 milhões.
Acesse aí um site de um partido qualquer, busque os perfis das legendas nas redes sociais, faça uma busca no Google e tente encontrar informações de qualquer reunião – virtual, ou presencial – de alguma liderança política com grupos de filiados, atividades mais do que comuns nestes tempos de teams e zoom.
Acho que não vai encontrar nada além de lives – de novo os monótonos monólogos egoicos – onde o eleitor é mero espectador, ou ouvinte. E, assim, as lideranças (?) políticas desperdiçam toda a energia que a mobilização popular pode gerar nessa nossa eterna busca do país do futuro. Sem se comunicar, os políticos brasileiros deixam mais longe o horizonte onde fica a utopia.