Os rótulos são como palavras-chaves que ajudam o leitor a encontrar o que ele está procurando e a descartar o que não lhe interessa. Dizer que alguém é de direita ou esquerda, conservador ou progressista, às vezes é uma tentativa de classificar a outra pessoa, mas estes rótulos não explicam o que esta pessoa realmente pensa.
Em primeiro lugar é preciso considerar que o mesmo termo tem sentidos diferentes dependendo da boca de quem sai, ou da região em que foi pronunciado. Por exemplo, ser liberal nos EUA é ser centro esquerda, já no Brasil é ser de direita. Mas o que mesmo significa ser centro esquerda, centro direita, extrema direita, esquerda moderada?
O cientista político Christian Lynch(1), numa conversa com Gabriela Prioli, apresenta a seguinte escala, dando características e nomes que representam cada uma dessas seis “caixinhas”. Partindo da esquerda para a direita, temos:
– Extrema esquerda – é a esquerda revolucionária, a que propõe ruptura e o fim do capitalismo. Encaixam-se aqui os comunistas e alguns socialistas. Como principais expoentes ao longo da história, Christian cita Lenin, Fidel Castro e, no Brasil, Luís Carlos Prestes.
– Esquerda Moderada – é representada pela Social-Democracia, que defende o “Estado de bem-estar social” (Welfare State) implantado em países como Alemanha, Suécia, Noruega etc. Como principais representantes: Lula, Boulos, Ciro Gomes.
– Centro Esquerda – são os Liberais Democratas – que podem ou não ser favoráveis ao liberalismo econômico e possuem preocupações com as questões sociais. Seus representantes são Fernando Henrique, Gabeira, Miriam Leitão.
– Centro Direita – são os Neoliberais – defendem liberdade total do capitalismo e o mínimo de intervenção do Estado. Representantes: Paulo Guedes, Roberto Campus, Eugênio Gudin.
– Direita Moderada – adota o conservadorismo liberal. É representada por Rodrigo Maia, Juscelino Kubitschek, Eurico Gaspar Dutra.
– Extrema Direita – é autoritária, defende os valores do fascismo, favorável às ditaduras, mas finge ser democrata. Seus representantes são Bolsonaro, Olavo de Carvalho e Steve Bannon (ex-estrategista-chefe de Trump).
Esta escala é didática, assim como outra que divide as pessoas entre conservadoras(2)(as que pregam a manutenção dos valores, tradições e estruturas sociais) e progressistas(3) (os que acreditam que progresso se alcança com a ruptura dos padrões tradicionais para se obter igualdade, justiça e liberdade (4)). Eu acho que a questão é mais complexa e não cabe colocar todas as pessoas em caixinhas. Tem pessoas que são liberais na economia e progressistas nas questões sociais. Tem quem defenda o estado mínimo, pauta da direita, mas também concorda com as políticas de cotas, bandeira da esquerda. Na verdade, existem muitas outras combinações possíveis.
Quando eu era adolescente só existiam dois partidos, o MDB e a Arena. Eu cresci ouvindo as pessoas dizerem que em briga de marido e mulher não se mete a colher. Homens batiam nas mulheres e isto era “assunto deles”. Na universidade não tive colegas negros. Não existia Comunidade LGBTQUIAP+, “desconfiava-se” que o fulano era gay e que a fulana era lésbica, mas estas pessoas não se assumiam de medo da discriminação. Defender o meio ambiente era “coisa de veado”. Felizmente os tempos mudaram, mas uma parte da população não. Continua existindo machistas, racistas, homofóbicos, xenófobos etc. que não se assumem como tal, mas votam nos candidatos com valores semelhantes aos seus.
É verdade que hoje está melhor do que ontem, mas para que o amanhã seja melhor do que o hoje, será preciso que estes comportamentos não sejam mais tolerados. Uma parte da sociedade elege os políticos conservadores e eles fortalecem o conservadorismo no país. Nesse círculo, que se retroalimenta, são exploradas as crenças que as pessoas trazem da sua família, da religião ou de movimentos sociais conservadores. Utiliza-se o medo para conquistar o apoio dessa parcela da população. Isto explica o medo que o proprietário de um pequeno negócio tem da taxação das grandes fortunas, ou que pessoas religiosas temam o fechamento da sua igreja. As diferenças de opinião são vistas como a luta do bem contra o mal.
Por isso, na hora de votar, não se limite aos rótulos de direita ou esquerda, pesquise, em fontes de fora da sua bolha, sobre os valores e as práticas do candidato em você vai votar. Para mim, o bom candidato é aquele que irá trabalhar para melhorar a vida de quem mais precisa do apoio do Estado, que tornará o amanhã melhor para todos, e não apenas para mim.
Referências:
(1) Quem é de esquerda, de direita e de centro?
(2) O que significa ter uma visão conservadora ou progressista?
(3) Conservadorismo x Liberalismo x Progressismo e social-democracia: O que significa cada ideologia?