Paulinho da Viola revelou numa entrevista com Pedro Bial o que lhe deu a faísca para criar sua linda canção “Foi um rio que passou em minha vida”. O compositor estava na rua México, no Rio de Janeiro, e parou por uns instantes diante da vitrine de uma livraria. Olhou os vários livros expostos e foi embora.
Um dos títulos dos livros não saiu da sua cabeça. Era “Por onde andou o meu coração?”. Em casa, começou a composição tendo como provocação essa frase. A sua resposta começou assim: “Se um dia meu coração for consultado/para saber se andou errado/será difícil negar”.
Por mais que uma pessoa como eu, que já lançou vários livros de poesia, que já criou um bom número de canções, saiba que o processo criativo se dá por associações muitas vezes inusitadas, é sempre surpreendente ver como isso acontece. Paulinho não partiu, como se poderia pensar, do assunto da sua canção, ou seja, de seu amor pela Portela. Tipo, sentou em sua sala e disse a si mesmo “vou fazer uma música em homenagem a minha escola de samba.” Isso só entrou depois.
Em primeiro lugar, o que o inquietou e o motivou a compor foi responder à pergunta que estava no título do livro na vitrine. Sua canção o ajudou a descobrir que, depois de tantos desenganos, seu coração se encontrou na Portela: “Meu coração tem mania de amor/amor não é fácil de achar/A marca dos meus desenganos ficou, ficou/só um amor pode apagar”.
E esse amor que apagou todo seu sofrimento se revelou quando ele viu a Portela desfilar. A beleza da escola passando, toda de azul na avenida, foi comparada pelo compositor a um rio: “Não posso definir aquele azul/não era do céu/nem era do mar/Foi um rio que passou em minha vida/e meu coração se deixou levar”.
Outros dois músicos deram, no decorrer do caminho, suas contribuições. Uma foi a resposta “ai, porém!”. Durante os ensaios, um dos instrumentistas acrescentava essa parte sempre que Paulinho cantava “Porém”. Acabou ficando e sendo incorporada na gravação e eternizada a sacada sonora desse que passou a assinar depois como Jorge Porém.
O outro acréscimo foi de Jair Rodrigues, que gravou colocando o “laiá, laiá/laiá lá iá” repetido no final. Isso não tinha na gravação original, mas Paulinho teve que incorporar, pois a plateia nos shows sempre engatava a lalação, o termo técnico é esse, pra finalizar a cantoria.
E você? Por onde andou o seu coração?
Foto da Capa: Reprodução do Youtube