Numa das recentes pesquisas de intenção de voto para a prefeitura de Porto Alegre, veio um dado que faz refletir. A candidata Maria do Rosário perdia para o candidato Sebastião Melo na faixa do Bolsa Família.
Ora, como se sabe, esse programa de transferência de renda foi criado pelo governo do presidente Lula, do mesmo partido da Rosário. Pode-se dizer que já foi implantado há mais de dez anos, de tal modo que as novas gerações que se beneficiam dele talvez nem saibam quem o criou. Não sei se há alguma pesquisa nesse sentido, perguntando aos usuários se sabem.
Essa questão faz pensar sobre por onde passam hoje os diversos canais de formação do discurso político. Além das ações concretas, dos programas efetivos e das obras dos governos, há toda uma circulação de versões, de recortes de discurso fatiado e veiculado por WhatsApp e redes sociais.
Muitas vezes, falas sem nenhum vínculo com a realidade ou com uma clara intenção de distorcer os fatos cumprem sua função de criar uma versão a favor de algum projeto partidário, de algum grupo ou candidato. Não importa se, mais tarde, a justiça tirar do ar ou proibir a veiculação. O estrago já foi feito.
Centrar o trabalho em espalhar os argumentos, mesmo que seja para um disparate, parece ocupar mais um tipo de atuação no cenário político do que realmente focar na construção de projetos e em suas execuções. Ou a estratégia se dá para tornar palatáveis ações que vão muitas vezes contra os interesses de uma camada da população que é transformada nos seus primeiros advogados.
O argumento falacioso circula nas conversas com o motorista que te leva para algum lugar, no comentário do radialista e o inadmissível logo vira a moeda corrente. Então, mais do que construir políticas públicas realmente eficientes, é preciso construir a percepção adequada e duradoura sobre elas. Não se trata mais de fazer o que é justo, mas de dar os argumentos para que todos o defendam.
Foto da Capa: Freepik
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