Eu decidi que vou vestir a camiseta verde e amarela para torcer pelo Brasil na Copa do Mundo. Longe de mim ser fã do Neymar ou integrante do movimento golpista que deturpou o significado das cores nacionais. Eu sou simplesmente uma brasileira e quero torcer pela seleção brasileira, sentir orgulho do meu país de novo. Quero vibrar com um gol, ver a explosão de alegria, sentir e leveza de ser cidadã do “país do samba e futebol”, sem medo de vestir as cores do meu país.
Quero reconectar com a Marlise que vibrou pelo Pentacampeonato, se divertiu e se encheu de orgulho de ser brasileira. O tipo do ópio que eu gosto e recomendo, o da alegria. É por isso que eu decidi vestir a camiseta, aliás, eu resisto em aceitar esta apropriação indébita feita por um grupo político. Como pode um partido ou grupo de interesse assumir para si um símbolo que é de todos? Mais intrigada ainda fico com a parte radical da esquerda que chega a rejeitar e desprezar as cores nacionais, ou seja, aceita que o verde e o amarelo sejam roubados, repartidos, ressignificados.
A distorção é tamanha que dia desses uma amiga minha questionou em lamento: “Uma pena isso, será que a gente vai usar a camiseta do Brasil na Copa”, enquanto caminhávamos pela Feira do Livro de Porto Alegre, evento cultural cercado pela manifestação de grupos negacionistas inconformados com o resultado das eleições presidenciais. A produtora cultural Flavia Cunha, a Flavinha, não quer ser confundida com os tresloucados que fazem vigília em frente ao Comando Militar do Sul exigindo a prisão do ministro Alexandre de Moraes. A distinção que a Flavinha merece e busca tem de existir, mas será que passa pela cor da camiseta símbolo do país?
No Nordeste, em Fortaleza, onde estive recentemente, as cores nacionais me pareceram estar acima da diferença partidária. O jornalista Marcelo Barcellos gravou um vídeo com um vendedor ambulante que negociava camisetas e acessórios de torcida verde e amarela. O comerciante o interpelou com convicção: “Mas esta pulseira não tem mais nada de Bolsonaro, ela é do Brasil, é o verde e amarelo da bandeira”. A sabedoria popular é singelamente brilhante. As cores da bandeira não são do Bolsonaro e nem serão do Lula ou de nenhum outro presidente. Não é possível confundir os símbolos da nação com os pertences dos residentes temporários do Palácio do Alvorada.
É revoltante um partido ou corrente política usurpar e privatizar a bandeira nacional, mas a minha indignação maior é com aqueles que aceitam silenciosamente que a nossa alegria de torcer, sambar e vibrar juntos pela seleção nos seja roubada. Já convoquei a Flavinha e o Marcelo a se juntarem a mim. Vestir a camiseta verde e amarela e acreditar que possamos ser felizes de novo com samba no pé e a taça na mão. Qual taça? Bem, se não for a taça da Copa do Mundo, que seja uma taça de caipirinha, o patrimônio brasileiro que nos permite beber para esquecer os pênaltis perdidos, os negacionistas, as mazelas e as derrotas.