Respeito. Mas não entro nessa de que a seleção foi eliminada porque politicamente o treinador é vinculado à esquerda do país. Acho equivocado considerar que um técnico de direita conquistaria o hexa. Uma demasia, quase fanatismo partidário! Quero falar aqui de competências. Competências esportivas, de administração de grupo, de escolhas. Tite teve duas edições de Copa do Mundo. E não passou das quartas-de-final. Ele precisa enxergar seus limites. Refletir. E mudar.
Esta questão de um excessivo paternalismo sobre o grupo, com poucas cobranças, é meu primeiro ponto de análise. E Tite exagera neste quesito. Usa e abusa de proteger seu grupo, dar oportunidade a todos, quebrar hierarquias técnicas. Não gosto. A própria escolha de preservar os titulares contra Camarões é questionável. Num torneio tão rápido as equipes costumam crescer durante a competição. Porque vão corrigindo os erros, vão embalando. O exemplo disso está no país vizinho.
A Argentina tem um time muito menos qualificado que o Brasil e acho que dificilmente conquistará o título. Mas foi crescendo. Criou anticorpos. Corrigiu erros. E está entre os quatro semifinalistas. O êxito de Lionel Scaloni depõe contra Tite. Um interino, sem currículo algum, e com uma matéria-prima absolutamente inferior a que Tite tem para trabalhar. Já ganhou a Copa América, em julho de 2021, em cima de Tite, na casa do Brasil, contra Neymar, Richarlison, Vini Júnior, Paquetá, Thiago Silva, Marquinhos, Casemiro e companhia. Aquele foi um alerta. Não percebemos.
O fracasso de Tite também se justifica por escolhas técnicas e táticas. Primeiro pela falta de humildade. Faltando quatro minutos para o encerramento da prorrogação, contra a Croácia, por que não se fechar na defesa? Todos agem assim. A França fez isso contra a Inglaterra! O Brasil não. Foi pra cima com a estratégia de tentar segurar a bola no ataque. Levou contra-ataque e tomou o gol. A opção por não indicar Neymar para bater o quarto pênalti, tentando prorrogar a definição para dar mais uma chance para que Alisson pudesse defender ao menos uma cobrança. E, ao longo da Copa, a insistência com Raphinha, que não foi além do razoável, e por Fred, que nunca entrou bem.
Também faltou um time mais competitivo, mais malandro, mais copeiro. Que soubesse segurar uma vantagem conquistada com tanta dificuldade. A era Tite chega ao fim e lições devem ser aprendidas. Não basta mudar o treinador. É preciso mudar a seleção, em seu conceito de time, e, principalmente, em seu espírito competitivo. Não podemos mais ser uma seleção campeã nas redes sociais. Temos que ser uma seleção campeã nas redes adversárias!