O Koo não substituirá o Twitter. O aplicativo de rede social pretensamente tido como o novo lócus de conversação será tão fugaz como foi o clubhouse – alguém ainda lembra da rede social só de áudio?
Pode anotar. Cravo a previsão. Mas justifico: são três os fatores que me levam a apostar que o fogo do Koo é de palha: o sentimento antiTwitter, o posicionamento dos desenvolvedores do app no país de origem, a Índia, e a interface de navegação.
O sentimento antiTwitter cresceu acentuadamente depois que o bilionário Elon Musk comprou a rede social. O boato de que a plataforma iria fechar levou a uma corrida pelo aplicativo alternativo, o Koo ganhou popularidade no Brasil e rapidamente entrou na lista dos aplicativos mais baixados no celular. Claro, o nome da rede social impulsionou o boom: memes e trocadilhos proliferaram no mundão da internet.
Assim como no Brasil o Koo pegou carona na baixa do Twitter, na Índia ele surgiu em 2020 como uma cópia nacional do original que permitia mais idiomas e publicação bilíngue. Os fundadores do Koo App, Aprameya Radhakrishna e Mayank Bidawatka, afirmaram que o aplicativo ganhou holofotes em função de um episódio polêmico entre o Twitter e o governo do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. O governo pediu ao Twitter para excluir contas críticas à gestão de Modi na pandemia, além de indicar conteúdo “enganoso” para publicações de políticos governistas. Não foi atendido, e o governo passou a estimular o uso do Koo, desde então acusado de fazer propaganda governista e não coibir o discurso de ódio.
Rapidamente, os indianos ofereceram aos brasileiros uma interface em português, atualizada no dia 21 de novembro. Além disso, tem funcionalidades técnicas bacanas como galeria de fotos no perfil, publicação em mais de um idioma e selo de autenticidade que pode ser requerido por qualquer usuário. É ótimo e, ao mesmo tempo, roboticamente desumano. A startup não tem uma política de prevenção a fake news como tinha o Twitter e tem o grupo Meta (Facebook e Instagram) e nem se preocupa em combater o discurso de ódio na plataforma. A aceleração da tecnologia tem provocado a assepsia tecnológica. As ferramentas são tão infalíveis, rápidas e funcionais que perdem o valor essencial das redes sociais, a humanidade.
Ouso ir além: o Twitter começou a morrer quando aposentou a baleia que carregava os passarinhos. A icônica imagem que indicava aos usuários quando havia instabilidade no servidor do Twitter tornou-se popular, virou até um verbo na época – usávamos “nossa, baleiou” para indicar qualquer falha ou rateada entre amigos. Humano, infograficamente humano. O ícone da baleia foi extinto, segundo a big tech, porque novos recursos tecnológicos “dispensaram a necessidade do símbolo”.
Risadas miméticas à parte, a rede social Koo tem tudo para perder a graça em breve, como a clubhouse. A rede social de áudio pegou a carona da pandemia e do pijama quando estávamos todos em casa e queríamos falar com o mundo sem tirar as pantufas dos pés, nem colocar maquiagem no rosto. Lembro do furor que a nova proposta causou. A rede social chegou com o apelo de exclusiva, só entrava com convite. Recebi do jornalista Porã Bernardes, sempre antenado em novidades de som e áudio. No primeiro acesso encontrei outro amigo radialista, o Edu Santos, numa sala de chat. As salas eram abertas e ali estava também outro ícone do rádio pop e rock, o Mauro Borba. O papo era otimista “Clubhouse é o futuro do rádio!”, diziam. Não foi. O fato é que o rádio segue sendo rádio, tecnicamente falível e sonoramente humano.
Assim que o Koo começou a despontar, decidi testar. Soube dele primeiro pelos memes. Vocês sabem, o brasileiro – que é o melhor do Brasil – espalhou pencas de trocadilhos: “Já abriu o Koo?”, “Ninguém solta o Koo de ninguém” e outros. Maturidade em baixa, diversão em alta. Mesmo assim, a rede social não me cativou, não ainda, e, arrisco dizer, não vai cativar os brasileiros.
O Koo que me perdoe, mas será preciso repensar a interface, a experiência do usuário no aplicativo, a política de gestão e os termos de uso para que os adeptos dos tempos áureos do Twitter aceitem a penetração do pinto amarelo (aiiii, desculpa, ficou ruim, eu sei, mas não resisti!). Até a semana que vem!