A BBC publicou um artigo em que relata o caso de Max Dickins, um comediante e escritor britânico que, quando foi fazer a lista de possíveis padrinhos para o seu casamento, percebeu que não tinha amigos. Todos os nomes que lhe vinham em mente eram de colegas de trabalho. Outros nomes que ele considerava amigos, já fazia mais de dois ou três anos que não falava. Ele fez uma pesquisa no Google e descobriu que não estava sozinho, resolveu então escrever o livro “Como descobri que os homens têm problemas de amizade”.
Segundo a matéria da BBC, pesquisas nos EUA e Reino Unido mostram que os homens têm menos amigos do que as mulheres e esta tendência vem se acentuando. Em 2019, a pesquisa da Centre for American Life detectou que 15% dos homens americanos não possuem amigos próximos, resultado cinco vezes superior a um estudo semelhante realizado em 1990. Estudo semelhante foi realizado em 2019 no Reino Unido, onde foi detectado que 20% dos homens e 10% das mulheres não possuem amigos próximos.
Esta reportagem não apresenta dados sobre o Brasil, mas outros estudos têm mostrado que também aqui homens têm dificuldades para construir amizades, seja com outros homens ou com mulheres. Interessante observar que os garotos possuem facilidades de fazer amizades e falar das suas emoções, mas quando chegam à adolescência eles se fecham e mostrar suas vulnerabilidades passa a ser visto como um comportamento feminino. Nesta fase eles começam a perder as amizades.
Diferentes pesquisas mostram que as “amizades” entre homens são baseadas em atividades, seja para a prática de esporte, para assistir futebol ou por interesses comuns, filhos na mesma escola. Acredito que estas relações geralmente não são propriamente de amizade no sentido de permitir falar de emoções e de conhecer um ao outro além das aparências. Elas não criam vínculos e intimidades e por isto que Dickins não percebeu que se passaram dois ou três anos que não via seus “amigos”.
O psicólogo e antropólogo Robin Dunbar diz que para as mulheres é mais importante quem você é como pessoa e não o que você é. Enquanto os homens se preocupam mais com o que você é, a que clube você pertence, e muito menos quem você é. Os homens sabem muito pouco dos seus amigos, mas sabem em qual empresa eles trabalham, qual carro eles possuem etc.
A consequência destes comportamentos é o isolamento social, que muitas vezes se reflete em problemas de saúde física e mental. Aumentam os riscos de doenças cardiovasculares, demência, acidentes vasculares cerebrais, depressão, ansiedade e mortes prematuras. Soma-se a isto o estilo de vida em que homens tendem a terminar relacionamentos e permanecerem sozinhos, sem ter vínculos afetivos de amizade, existe o risco desta solidão evoluir para a violência. Para quebrar este ciclo, Dickins em seu livro sugere “aprenda com as mulheres”, entre elas há uma troca emocional muito maior e dá a dica: abra-se aos amigos mais próximos e mostre suas vulnerabilidades.
Portanto, reserve um tempo para suas amizades, tome a iniciativa e compareça sempre que for convidado. Feliz de quem possui amigos e que pode encontrá-los frequentemente, seja para bater um papo despretensioso, seja para falar das suas intimidades. Segundo Dunbar, a melhor maneira de medir a nossa saúde física e psicológica é pelo número e qualidade dos bons amigos/as que temos. Ah! Sobre a escolha do padrinho de casamento do Dickins, depois de analisar a lista de amigos, ele chegou à conclusão que era melhor convidar duas amigas como madrinhas.
Referência: 'Como descobri que não tinha amigos homens e o que aprendi com as mulheres para mudar isso' - BBC
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