Sem dúvida nenhuma entender o ser humano é complexo, desafiador e não é exagero afirmarmos que é quase uma arte.
Mas isto não significa que precisamos ser artistas para nos relacionarmos, tampouco precisamos ser letrados nos estudos da mente.
Obviamente que todo conhecimento extra nos ajudará, mas temos que ter em mente que não existe pré-requisitos “formais” para termos um bom relacionamento com as pessoas que convivemos, sejam elas próximas como família, colegas de trabalho, treinadores, colegas de time, amigos, conhecidos, etc.
O que precisamos ter, na minha opinião, é a capacidade de falar a mesma língua dos nossos interlocutores e isto dentro de um contexto que nos permita PERCEBER:
- Suas necessidades
- Seus desejos
- Seus interesses
E que este interlocutor também nos permita EXPRESSAR NOSSOS PRÓPRIOS INTERESSES e NECESSIDADES.
Tomemos como exemplo uma frase simples, dita por um líder ao seu liderado:
“Quero que você dê o seu melhor aqui na empresa!”
Você pode entender que este líder deseja que o liderado apresente, ao longo de sua estada na empresa, o seu melhor desempenho e sua melhor dedicação possível e com isto, atingir os resultados esperados, afinal, parece até óbvio, ele líder contratou o liderado/colaborador para isto.
Porém se olhar do ponto de vista do liderado, isto pode se tornar algo bem diferente: se ele se encontrar em momento de desmotivação dentro da empresa, atuando em um setor que não enxerga suas potencialidades, não conseguindo desempenhar o melhor de si, como ele vai corresponder a este desejo do líder?
Como não temos um tradutor eletrônico para a frase acima, que pudesse traduzir “emocionalmente” seu conteúdo, assim como a resposta ou os desejos, interesses e necessidades do liderado, a coisa complica um pouco mais.
Muitas vezes o que esperamos não bate com o que o outro é capaz de nos dar.
Neste contexto, “falar a mesma língua” significa: PERCEBER e COMPREENDER o COMPORTAMENTO do outro.
E isto significa, necessariamente, uma APROXIMAÇÃO, uma INTERAÇÃO, e acima de tudo, UM INTERESSE GENUÍNO pela figura do outro.
É um processo que exigirá CONHECIMENTO, PERCEPÇÃO e DISPOSIÇÃO para saber como o OUTRO SE COMPORTA.
Autoconhecimento – o ponto de partida
Se não soubermos o que se passa dentro de nós mesmos, se não tivermos a clareza de QUEM SOMOS, o que QUEREMOS, como será possível compreender estes mesmos aspectos no OUTRO?
Portanto, se se você deseja conhecer, decifrar melhor as outras pessoas, o primeiro passo deste ciclo, deve iniciar em VOCÊ MESMO.
Somente através do AUTOCONHECIMENTO você terá condições de enxergar melhor o OUTRO.
A busca, portanto, começa “DENTRO DE CASA” e não “FORA”.
“Se não sabemos o que se passa dentro de nós, se não temos claro o que somos e o que queremos, como seria possível compreender essas mesmas coisas sob a perspectiva do outro?” Paulo Vieira e Deibson Silva – Livro Decifre e Influencie Pessoas
Obstáculos para o autoconhecimento
Autossuficiência
Um dos maiores obstáculos para a busca pelo autoconhecimento diz respeito a autossuficiência.
AUTOSSUFICIÊNCIA tem uma bela definição no dicionário eletrônico Priberam que quer dizer:
- Condição do que se basta a si próprio.
- Contentamento excessivo consigo mesmo, orgulho, petulância.
A primeira condição apontada pela definição, deixa claro que o individuo não tem o menor interesse no próximo, são pessoas, como está claro na segunda declaração, absolutamente orgulhosas e que possuem um olhar excessivo sobre si mesmos. Pessoas assim, se recusam a conhecer o mundo do outro e na maior parte das vezes, se quer desejam conhecer outros mundos exceto o seu. Possuem uma visão muito estreita onde tudo possui somente um caminho, um só ponto de vista, um jeito de se fazer as coisas, uma verdade. São pessoas verdadeiramente ARROGANTES e PREPOTENTES. Infelizmente são pessoas que se tornam “cegas” em seus próprios modos de ver.
Faça um pequeno exercício: tente se lembrar de uma discussão que teve com um colega de trabalho, de equipe, treinador, parente, familiar ou amigo(a). Independentemente de você estar certo(a) ou errado(a):
- Você conseguiu ao menos compreender o ponto de vista do outro?
- Tentou se colocar no lugar da outra parte?
- Ou ficou vendo tudo somente pela sua ótica?
O que quero sugerir aqui é que você verifique se ficou disponível para entender um ponto de vista diferente do seu e relacionado com a história e interesse do seu interlocutor.
Somente quando nos colocamos no lugar do outro é que podemos falar da maneira que ele não apenas OUÇA, mas COMPREENDA e EXTRAIA de si o que tem de MELHOR.
O outro como projeção de mim mesmo
Um dos maiores equívocos que cometemos é acreditar que as pessoas, especialmente as mais próximas, são, na maior parte das vezes, parecidas com a gente. Isto nos leva a cometermos o erro de achar que devemos “tratar as pessoas como gostaríamos de ser tratado”
Certamente que é muito mais confortável pensar assim, afinal se todos são parecidos comigo, é muito mais fácil pensar o que é melhor para todos!! Claro que isto é um jeito absolutamente EGOÍSTA de ver, pois se eu pensar que o melhor é tratar o outro como EU gostaria de ser tratado, só estou pensando em MIM.
Assim, instantaneamente passo a NIVELAR, a VER e a ROTULAR a todos, não enxergando nada além de uma projeção do meu “EU”
Para escapar desta verdadeira ARMADILHA, pense o seguinte:
Será que você gostaria de ser tratado como o outro? Ou como a maioria das pessoas?
A raiz da maioria dos conflitos está na incapacidade de entender, aceitar, respeitar e amar as diferenças nas pessoas, especialmente no sentido de ver que estas diferenças nos aprimoram.
Olhar os outros como seres únicos e independentes de nós, é um dos maiores obstáculos para compreendermos e deciframos o próximo.