Se eu tivesse colocado como título “os bastidores do ataque do Hamas” ou “As últimas mensagens dos reféns do Hamas” quatro vezes mais pessoas teriam clicado para ler este texto. Pelo menos até esta parte.
Não se trata, claro, de minimizar sofrimentos, nem os horrores da guerra. Muito menos dar uma de Polyanna. A vida está longe de ser uma jornada linear, feliz e sem sobressaltos. Pelo contrário, temos inesperadamente ter que lidar com fatos que fisicamente fazem nosso coração doer. Boa parte das vezes não somos avisados. Pegos de surpresa, vamos reagindo e resolvendo da melhor maneira possível.
Mas o que estou falando agora é sobre a tendência que temos de dar mais atenção a fatos negativos. Mesmo quando não há conflitos, nossa escolha recai por assuntos dramáticos. Tanto que as notícias da editoria de Polícia quase sempre são as mais lidas dos jornais. Entre um bom projeto que vai salvar espécies da fauna ou da flora ou ajudar a recuperar o meio ambiente, privilegiamos na hora de clicar na notícia o fato que envolve violência, dor e mortes. Não é por acaso também que plataformas de streaming tem um portfólio com tantas séries policiais e filmes de assassinatos e investigações.
Se a gente ampliar a lente vamos perceber também que pessoas quando são consideradas “boazinhas” não são tão respeitadas quanto aquelas que são famosas por serem “faca na bota”. Ser compreensivo, empático pode ser classificado como uma fraqueza humana. Algumas pessoas usam isso como um trunfo. Essa é uma estratégia que faz parte dos jogos de poder nas relações profissionais, nas amizades, na família, entre vizinhos. “Ninguém mexe comigo” ou pode sair lascado. Essa, em geral, é uma defesa usada por conta de uma infância por pessoas que foram negligenciadas. A criança ferida que elas têm dentro esperneiam e gritam: não fui visto, minhas necessidades não foram atendidas, não recebi amor na medida que necessitava. Então, manifesto minha raiva, apronto, grito, sou inflexível para chamar a atenção. Eu sei a verdade, tenho todas as respostas e posso julgar a todos do alto da minha torre de comando. Quem não conhece alguém assim que teima em se agarrar à sua criança irada?
Mas voltando à atração que a espécie humana tem pelo negativo, a neurologia explica que isso pode ser um reflexo automático do nosso cérebro para nos prepararmos para algo que nos ameaça. Uma parte arcaica da nossa mente, possivelmente influenciada pela memória ancestral que trazemos, faz com que a gente tenha essa tendência de nos proteger a tudo que possa ameaçar a espécie.
Tendo essas informações claras na cabeça, o que podemos fazer? Absorver isso e tentar não agir no piloto-automático. Ter em mente que estar informado não significa apenas consumir notícias ruins. Clicar em uma matéria positiva pode, quem sabe, nos engajar de alguma forma nesse projeto. Passar isso em frente pode beneficiar ou estimular alguém a colocar a mão na massa de alguma forma. Quem sabe isso não te inspira e vira um novo propósito? Algo que chegou de forma inesperada e é positivo. E não mais um fardo para enfrentar. O que não dá é ficar consumindo apenas conteúdo “carga pesada” e esperar leveza no final do dia. Ninguém fica imune ao ver violência e conflitos 24 horas por dia nos meios de comunicação e nas redes sociais. Para fazer novas escolhas precisamos travar antes essa guerra interna. Esse caminho de maturidade emocional nos leva a perceber se estamos alimentando mais nosso lado solar ou nossa sombra.
Liège Alves é jornalista apaixonada pela Reflexão Interior, Criadora da Editora e do Espaço Terapêutico Essência. Tem formação superior em História, Jornalismo e Publicidade pela PUCRS E Pós-graduação em Jornalismo Aplicado. Apaixonada pelo jornalismo impresso, passou por várias redações, fundou a Editora Essência, trabalhou em Comunicação Corporativa. Na pandemia, depois de um burnout, assumiu de vez uma transição de carreira e criou o Espaço Terapêutico Essência, local onde trabalha atualmente ajudando as pessoas a se comunicarem melhor consigo mesmas. É Mestra em Rakiram, terapia de imposição de mãos, e Terapeuta Floral com especialização em animais (atende humanos também).