O Areal da Baronesa e a Restinga sediaram a segunda edição do Congresso Popular de Educação para a Cidadania (2º CPEC), entre 22 e 24 setembro. O encontro reuniu mais de 500 participantes de mais de 50 bairros de Porto Alegre, abrangendo todas as regiões da Capital.
Realizado pelos coletivos POA Inquieta e Ponta Cidadania, o 2º CPEC promoveu rodas de conversa sobre meio ambiente, trabalho, cultura e sociedade, além de atrações culturais com diferentes artistas de espaços periféricos.
Principal mecanismo de funcionamento do CPEC, as rodas de conversa contaram com autoridades do poder público, lideranças comunitárias e outros participantes, que compartilharam a palavra de maneira horizontalizada. A partir dessa construção coletiva de fala e escuta, os grupos apontaram ações para promover uma Porto Alegre com mais igualdade e democracia, que serão encaminhadas ao poder público e estão sendo compartilhadas com as comunidades.
O articulador do POA Inquieta Paulo Renato Menezes publicou nos grupos do POA Inquieta uma mensagem que sintetiza a importância do trabalho:
A Roda de Conversa é importante ferramenta de participação social, onde não há hierarquias e a voz de todos tem o mesmo valor. Instrumento básico do Poa Inquieta na busca de soluções, tanto pelo poder público quanto qualquer agente que possa contribuir. O foco na educação e na escola me lembrou essa fala do Instituto de Ação Cultural (1989):
“A experiência quotidiana de cada cidadão, de cada comunidade ou de cada grupo social – em sua vida e em seu trabalho, em seu modo de comportamento e em sua relações com os outros – deve se transformar em fonte de questionamento, de criatividade, de participação e, portanto, de conhecimento. A Educação deve ser uma atividade permanente, assumida por todos os membros de cada comunidade e associada a todas as dimensões da vida de seus membros.”
Já a articuladora Rita Carnevale, responsável pela Resenha Inquieta, que circula todas as segundas-feiras nos grupos do coletivo, fez um resumo da iniciativa:
O Congresso foi a expressão do quanto é possível Porto Alegre ser uma cidade educadora, a partir de um evento, realizado em uma Escola Municipal, que oportunizou dar voz e dignidade aos integrantes da comunidade de bairros, viabilizar o engajamento e diálogo entre os diferentes setores da sociedade, para, num processo de cocriação coletivo, levantar propostas de caminhos alternativos para transformar Porto Alegre numa cidade diversa, inclusiva e sustentável.
Rodas de conversa em pequenos grupos e em grande roda, aos finas de turno, oportunizaram o compartilhamento do visto em pequenos grupos, para favorecer a construção de transformações, envolvendo participantes da Escola e da comunidade voltadas para além dos muros da Escola.
A chuva intermitente e volumosa, em muitos momentos, banhou o Congresso, mas não impediu que ele ocorresse. As atividades começaram na sexta-feira, às 19h, no Quilombola do Areal da Baronesa. O executivo Municipal e Estadual também se fizeram presentes, demonstrando sua atenção para a proposta.
No sábado, 23/9, o Congresso iniciou suas atividades programadas junto à Escola Municipal de Educação Fundamental Dolores Alcaraz Caldas, no bairro Restinga. Circularam aproximadamente 350 pessoas, incluindo professores e alunos da Escola. Além deles, foram recebidos 16 expositores, indicados pelas lideranças locais e significativas atrações artísticas, além de oficinas diversas. Foi oportunizado sistema de transporte para viabilizar o acesso à Escola, atendendo interessados provenientes da Zona Norte, Leste, Centro e Sul.
Por motivos de força maior, as próprias lideranças do Bairro Mario Quintana sugeriram que a realização do evento do domingo não fosse realizada por lá. A programação do domingo foi transferida para a mesma escola de sábado. No domingo, também chuvoso, com fortes pancadas de chuva, de 222 inscritos, 150 pessoas de Guaíba, das ilhas, de Alvorada, do Bairro Sarandi e Rubem Berta previamente inscritas, além das da Restinga, constituíram quórum para a realização da programação prevista.
Em outras palavras, na medida do possível, todos os esforços foram realizados para dar protagonismo às lideranças locais, para a inclusão de representes do executivo estadual e municipal, do Programa Porto Alegre Cidade Educadora e do Tecnopuc, que, além de patrocinarem e apoiarem, se fizeram presentes, participando das Rodas de Conversa.
Acreditamos que o 2º Congresso muito ensinou a muitos: trabalhar junto, realizar escutas e falas construtivas, estar atentos aos que nos rodeiam. A gente fica ainda mais com a certeza de que abrir possibilidade de construção favorece a consolidação de uma cidade educadora, com foco na educação para a cidadania.
Confira as ações propostas pelas rodas de conversa
- Dar continuidade e multiplicar cada vez mais as rodas de conversa como instrumento para a ampliação da cidadania, capazes de apontar de modo horizontal caminhos para a construção de uma sociedade inclusiva e igualitária;
- Tomar a educação como a principal ferramenta de transformação social, com políticas de longo prazo que estejam acima de governos ou partidarismos;
- Tomar a escola como espaço de construção de cidadania, com renovação das práticas pedagógicas, incentivo à participação dos estudantes e estímulo da livre expressão por meio da arte e da cultura;
- Posicionar a escola como palco de integração para toda a família, contribuindo para que pais também se atualizem diante de novas demandas do campo do trabalho e auxiliem os filhos na construção do conhecimento, inclusive promovendo atividades nos finais de semana, abertas às comunidades;
- Promover a valorização da Educação Popular e de Educadores Sociais;
- Dar maior visibilidade aos editais de produção e difusão cultural, com mecanismos justos de remuneração, avaliação isenta e ferramentas para continuidade e progressão de carreira de artistas emergentes;
- Ampliar as oportunidades acessíveis em todos os territórios para o aprendizado de música, dança e outras expressões artísticas, bem como de esportes e artes marciais;
- Criar e manter espaços para apresentações artísticas acessíveis para novos artistas e empreendedores nas comunidades;
- Viabilizar as batalhas de rima e slams nas periferias. Ter um local coberto e com estrutura sonora para esse tipo de evento;
- Promover a consciência de que fazemos parte do meio ambiente, construindo e divulgando políticas claras de reciclagem e de preservação em todos os territórios da cidade;
- Promover a criação e a manutenção de parques e praças em territórios distantes do centro da Capital, possibilitando um ambiente mais sustentável e qualidade de vida para a população;
- Promover a igualdade de oportunidades na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva, seja nos espaços públicos, em espaços culturais e também no mercado de trabalho;
- Oportunizar a participação de pessoas com deficiência na convivência em nossa sociedade, seja em espaços públicos, em atividades culturais e no mercado de trabalho.
- Promover o acolhimento da diversidade das pessoas LGBTQIA+, especialmente as travestis, homens trans, mulheres trans e pessoas não binárias;
- Oferecer Educação em ambientes de aprendizagem que preparem as pessoas para a realidade do mundo digital e em constante transformação.
A realização do Congresso é dos coletivos POA Inquieta e Ponta Cidadania. Nesta edição, o evento contou com o patrocínio da Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil, ecosys.vc, Tecnopuc e Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Prefeitura de Porto Alegre e Porto Alegre Cidade Educadora apoiaram a iniciativa.
Sílvia Marcuzzo, com informações da assessoria de imprensa do Congresso.