Leio e ouço muitos comentários e notícias sobre ética, equidade de gêneros, inclusão, sustentabilidade, defesa do meio ambiente, novos padrões de governança pública e privada… Temos até a sonora sigla ESG (Environmental, Social and Governance, em inglês) para sintetizar todas essas boas ações de comportamento individual, de relacionamento interpessoal e entre empresas e organizações públicas e privadas.
Aí, percorro os portais na Internet e vou aos telejornais em busca de informações confirmadoras de que a sociedade está praticando ESG no seu cotidiano. Mas, nas notícias que ocupam mais tempo e espaço, nos últimos dias, só encontro o nome de um cidadão atuando dentro das normas ESG. O do auditor fiscal Mario de Marco Rodrigues de Sousa que reteve, no aeroporto de Guarulhos, o já famoso e ainda não explicado, suposto presente do governo da Arábia Saudita para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Digo suposto presente porque, até o momento em que escrevo, não há manifestação oficial dos sauditas confirmando a entrega do mimo e porque já levantam suspeita de propina no processo de venda da refinaria de petróleo Landulpho Alves para a empresa Mubadala Capital, um fundo de investimentos de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, e até de uma rasteira tentativa de contrabando.
Parênteses para ressaltar o óbvio: milhões de brasileiras e brasileiros praticam, diariamente, as normas ESG. Me refiro, aqui, a pessoas ocupantes de cargos outorgados pela sociedade e a empresas de destaque no mercado. Fecho parênteses.
E o que leio e ouço – todos os dias em todos os meios – mostra uma distância tão grande entre discurso e prática que, acho, sugere a criação da sigla PDI para nos ajudar na luta contra o Preconceito, a Desfaçatez e a Ilegalidade.
Diga, prezada leitora (uma leitora, pelo menos, tenho certeza de que passa os olhos por aqui), responda, por favor, prezado leitor: o que tem de ESG em todas as tentativas oficiais do extinto governo Bolsonaro de liberar as joias das arábias?
Ilegalidade tem um monte em todos aqueles frustrados carteiraços de funcionários de vários níveis, que vão de um ex-ministro ao sargento levado a Guarulhos em jato da FAB para pressionar pela liberação das joias de três milhões de Euros.
Também não há espaço em ESG para a desfaçatez das notas e entrevistas de dirigentes e defensores do trio Salton, Aurora e Garibaldi tentando explicar a exploração de trabalhadores mantidos sob regime de escravidão em pleno século 21. Alguém acredita que ninguém, nas vinícolas, sabia das condições em que o baiano Pedro Augusto de Oliveira Santana, dono Fenix Serviços Administrativos e Apoio a Gestão de Saúde, mantinha os trabalhadores? Até o nome da empresa é um deboche. Torço para que essa fênix nunca ressuscite…
Deixo o P, de pior, da minha sigla por último. P de preconceito. Um P onde cabem as outras duas letras da PID, já que preconceito é crime e desfaçatez. Preconceito, ilegalidade e desfaçatez de gente que ocupa cargos que lhes foram dados pela sociedade. Falo de deputados e vereadores.
Em Brasília, o deputado Nikolas Ferreira usou a tribuna da Câmara dos Deputados para vomitar sua homofobia e se mostrar – apesar de jovem na idade – um retrógrado que não se libera de uma mentalidade do século 19.
Em Caxias do Sul, temos o exemplo – péssimo exemplo – do vereador síntese da PID, Sandro Fantinel. Num só discurso – para defender os modernos escravocratas da Serra gaúcha – o vereador, expulso do Patriota, juntou preconceito e ilegalidade ao atacar os trabalhadores brasileiros. Na delegacia de Polícia, fechou a sigla com desfaçatez. Disse que cometeu um lapso…
João Henrique Catan, deputado estadual pelo PL de Mato Grosso do Sul é outro exemplar PID. Na tribuna da Assembleia Legislativa, Catan brandiu um exemplar de Mein Kampf, o livro que Adolf Hitler escreveu para exaltar o nazismo, e pediu que a obra seja usada como cartilha naquela casa de representantes do povo. Ilegalidade e desfaçatez.
Tem mais, em Pompéu, Minas Gerais, o presidente da Câmara de Vereadores, Normando José Duarte (PSD) também deixou transbordar todo seu preconceito durante uma sessão, quando tratou com pronomes masculinos e chamou de senhor a vereadora transgênero Lunna da Silva (PSB). Menos mal que a população da cidade repudiou o discurso de Normando muito antes mesmo que os dois tomassem posse. Lunna é a vereadora mais votada de Pompéu…
Por tudo isso, precisamos de muitos ESG pra neutraliza todos os PID que andam por aí.